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No depoimento aos relatores do Conselho de Ética na última quinta-feira (23), o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), afirmou que guardava dinheiro fora do banco para poder cumprir os pagamentos mensais e informais à jornalista Mônica Veloso antes do reconhecimento da paternidade da filha de 3 anos que tem com ela. O senador é acusado de ter recebido a ajuda de um lobista para essas despesas.

No depoimento, Renan ainda disse que a ausência de despesas com a criação de gado decorre porque esses gastos ficaram sob responsabilidade de um espólio deixado por seu pai. O espólio seria uma fazenda responsável por dar estrutura a outras propriedades rurais do senador, segundo transcrição do depoimento.

Transcrição, aliás, que é alvo de polêmica depois que a secretária-geral do Senado, Cláudia Lira, foi flagrada por jornalistas na sexta-feira (24) fazendo correções em seu conteúdo. Da confiança de Renan, Lira negou que tenha feito alguma alteração. Alegou que estava apenas revisando o texto. Os relatores do processo prometem investigar o caso nesta semana.

De acordo com a transcrição, o senador explicou que a ausência de saques periódicos nos valores da pensão se deve à iniciativa de retirar valores altos para guardar e, depois, repassar à jornalista. "Quando tinha, retirava, guardava, já para economizar para aquela despesa [pensão] que, em determinado momento, se tornou uma despesa insubstituível", disse Renan, segundo as notas taquigráficas do depoimento. "Era uma despesa absolutamente sob segredo. Muitas vezes, tirei o dinheiro, guardei o dinheiro e adiantei o dinheiro", afirmou o senador.

Durante o depoimento, o senador foi indagado por Renato Casagrande (PSB-ES), um dos três relatores, sobre a ausência de saques nos valores da pensão. Segundo a transcrição, coube ao contador de Renan, José João Appel, que o acompanhou no depoimento, responder primeiramente sobre o assunto. Appel argumentou que Renan precisava sacar o dinheiro sempre que vendia uma quantidade alta de gado, para poder garantir a pensão. "Não se vende gado todos os dias. Tem épocas de venda de gado que se concentram. Existe a disponibilidade de recurso? Saca e guarda", disse o contador aos relatores.

Empréstimo e perícia

Renan buscou ainda justificar a não declaração de empréstimos feitos junto uma locadora de veiculos de Tito Uchôa, que seria seu primo. Segundo a transcrição do depoimento, o senador nega o parentesco com Uchôa. "Não é meu primo. É meu grande amigo".

E explica que os empréstimos foram necessários para cobrir despesas em Alagoas já que, disse Renan, o pagamento da pensão desfalcou suas finanças no estado. O presidente do Senado argumentou que não declarou os empréstimos porque poderia "expor" um problema pessoal, no caso, a pensão à jornalista. ""Esses pagamentos terminaram criando a necessidade de fazer mais uma dívida", disse o contador do senador aos relatores.

Renan ainda elogiou a perícia da Polícia Federal em seus documentos, embora seu contador tenha criticado os peritos. "Em alguns momento do laudo tem opinião, não devia ter opinião", afirmou o contador.

Relatores

As notas taquigráficas revelam que, dos três relatores, coube a Casagrande comandar as perguntas. Almeida Lima (PMDB-SE), aliado de Renan, fez apenas alguns comentários, enquanto Marisa Serrano (PSDB-MS) optou, segundo a transcrição, por citações pontuais durante as falas de Casagrande.

Após o depoimento na quinta, Casagrande e Marisa afirmaram que ainda havia dúvidas sobre as acusações contra Renan, enquanto Lima disse que estava convencido da inocência do senador. Os relatores prometem entregar o relatório final na próxima quinta (30).

Renan afirmou aos relatores que vive um "calvário" neste crise e criticou a publicação, nos últimos dias, de conversas de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) no computador durante julgamento da denúncia sobre o esquema do mensalão. "Quando você expõe nas páginas dos jornais emails que um ministro de um tribunal superior manda para outro, você está ali devassando a privacidade das pessoas, quer dizer, esses excessos precisam deixar de acontecer no Brasil".

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