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Na semana em que completou 66 anos, o governador Roberto Requião (PMDB) teve uma noite de festa e seis dias de problemas. O inferno astral começou no domingo, a um dia do aniversário, quando recebeu o pedido de demissão de uma das peças mais importantes da sua gestão, o procurador-geral Sérgio Botto de Lacerda. Foi o princípio de uma seqüência de crises, com pouco mais de dois meses de terceiro mandato, que respingaram em setores fundamentais da administração estadual – do vice-governador Orlando Pessuti (PMDB) ao secretário de Segurança Pública, Luiz Fernando Delazari.

A maioria dessas questões foi gerada por problemas internos do governo. Ao pedir demissão, Botto de Lacerda denunciou a existência de "maus companheiros" no governo. Escancarou as brigas com colegas, alimentando as suspeitas de irregularidades em pontos polêmicos, como a gestão da Sanepar, empresa na qual atua como conselheiro administrativo.

Ao lado disso, começaram os desgastes causados por procedimentos de investigação realizados a pedido de Requião. Ao receber denúncias de possíveis irregularidades na Centrais de Abastecimento S.A. (Ceasa) e na Imprensa Oficial do Paraná, o governador solicitou a realização de auditorias da Secretaria Especial de Ouvidoria-Geral e Corregedoria. A medida, símbolo de austeridade, acabou causando a demissão de diretores ligados a Pessuti.

Segundo o chefe da Casa Civil, Rafael Iatauro, todos esses atritos estão ligados apenas ao fato de o governo estar começando uma nova etapa. Ele admite, porém, que a situação está longe de ser confortável. "As coisas estão sendo reestudadas. Infelizmente alguns desvios de ação estão sendo revelados e temos de corrigi-los", afirma.

Para ele, as crises serão suavizadas a partir do momento que o governador terminar a escolha de novos membros para o governo. "Toda mudança gera alguns descontentamentos. Mas vai parar quando terminarmos de escolher quem vai para qual cargo." De acordo com o secretário, as mudanças terminam com a renovação do segundo escalão do governo. Elas vão atingir cerca de 30% dos postos e devem terminar de ser anunciadas ainda nesta semana.

O presidente estadual do PMDB, Renato Adur, também admite as dificuldades por que passa o governo. "O Requião já havia anunciado que terminaria todas as mudanças até março. Era esperada essa situação um pouco conturbada, porque muitas vezes é muito mais difícil fazer uma reforma do que começar uma gestão do zero", opina.

O mau momento, segundo ele, está ligado ao fato de que Requião precisou abrir espaço para novos aliados. É o caso do PT e de uma ala do PSDB. Companheiros decisivos na campanha para a reeleição a reeleição do governador, agora os dois partidos ocupam pastas importantes no primeiro escalão. Ou seja, foi necessário substituir algumas peças – que nem sempre deixam os postos com boa vontade.

Adur acredita que as crises enfrentadas pelo governo aumentam de proporção porque a imprensa estaria mais atenta às ações de Requião. "A prefeitura de Curitiba também faz mudanças, mas nem por isso ganha o mesmo destaque nos jornais que o governo. Vivemos uma situação desconfortável", diz.

A opinião do cientista político da UFPR, Adriano Codato, é bem mais ácida do que a dos dois governistas. Segundo ele, Requião demorou muito para executar a renovação e, por achar que resolveria tudo sozinho, não teve habilidade para conduzi-la. Além disso, o governador não teria aprendido a lição deixada pelo antecessor Jaime Lerner (PSB), que teve um segundo mandato muito mais conturbado do que o primeiro.

"Quando se reinicia um mesmo governo e não se renova a equipe, permanecem os mesmos esquemas", explica. Para o cientista político, o governo está passando por uma saturação de personagens. "O Requião é tão personalista que não deixa ninguém aparecer. Em conseqüência, não surgem nomes para substituir os que estão aí e não deram certo."

Mais adiante, Codato aponta que a seqüência de crises é um reflexo do que foram as eleições do ano passado. "Eu faria uma crítica maior: o governador não leu direito o resultado das eleições. Ele ficou xingando a Gazeta, a CBN, a Folha, o Estadão e não viu que, no mínimo, aquela vitória por um ínfimo percentual de votos tinha que manifestar algum descontentamento. Se estivesse tudo maravilhoso dentro do governo, ele teria ganho no primeiro turno – e de lavada".

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