Javier Milei vota em Buenos Aires, no segundo turno da eleição presidencial argentina, realizado no domingo.| Foto: EFE/ Juan Ignácio Roncoroni
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Imagino que todo eleitor brasileiro ficou admirado com a eleição argentina. Não pelo resultado, mas pela rapidez e segurança. A votação terminou às 18 horas e às 20 horas já circulava o nome do vitorioso. E voto em papel. Contagem manual. Sob um exército de fiscais dos partidos de olho no escrutínio. Auditagem imediata e cristalina. As desconfianças ficaram na campanha, com acusações de distribuição de cestas básicas, de envolver o papa, de intromissão brasileira. Mas quanto à contagem dos votos, nenhuma dúvida, apuração transparente, fiscalizada, auditada e acabada rapidamente. Nem o derrotado teve dúvidas e reconheceu logo a vitória do adversário apenas duas horas e 17 minutos após o encerramento da votação.

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Na mesma noite, logo depois, o presidente do Brasil desejou sorte ao novo governo, sem mencionar o nome do vitorioso, e escreveu nas redes sociais: “Meus parabéns às instituições argentinas pela condução do processo eleitoral e ao povo argentino que participou da jornada eleitoral de forma ordeira e pacífica”. Se Lula acha que merecem parabéns as instituições e o processo eleitoral, por que não enviar ao Congresso um projeto de lei tornando o nosso processo eleitoral tão confiável, transparente, auditável e rápido quanto o argentino? Ano que vem haverá eleições municipais, base da nossa federação, de nossa instituição política, de nossa representação, de nossa democracia. Eleições ainda carregando mistérios e dúvidas, pela falta de transparência na apuração, exigida pelo senso comum no mundo inteiro.

O sistema digital é caro e, segundo os entendidos de informática, não é isento de falhas. Caro porque no mundo digital a obsolescência vem rápido. A contagem manual é passível de engodos, mas aí os engodos são passíveis de serem descobertos; no mundo digital não, como já comprovou a auditagem do PSDB sobre a eleição de Dilma contra Aécio. Meus amigos argentinos contam que Milei investiu muito nos fiscais das apurações e anunciou isso, a ponto de deixar os escrutinadores cônscios de que estavam sendo observados e fiscalizados. Por aqui aprovou-se o comprovante impresso do voto, vetado por Dilma a pretexto de gastos, mas o veto foi derrubado por 66% do Congresso. Ainda assim, a vontade reiterada de 368 deputados e 56 senadores foi derrubada por oito ministros do Supremo.

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Na Argentina, os eleitores põem o voto de papel no envelope que recebem no local de votação. Ao sair da cabine, o envelope é depositado na urna. Encerrada a votação, os votos são contados ali mesmo, sob intensa fiscalização dos partidos. Depois, a Direccion Nacional Electoral soma as atas. A DNE diz que fraude é impossível, porque há controles cruzados pela Justiça, partidos e cidadãos, e tudo é conferido mais de uma vez. É um sistema aberto. O nosso é fechado. Por que me ufano do nosso sistema eleitoral digital, se ele me deixa dúvidas?

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]