
O caso de Juliana Marins abala o país, porque percebemos uma negligência muito grande. A moça estava viva, foi escorregando na encosta da cratera de um vulcão parcialmente extinto, ainda com algumas bocas ativas, em um terreno muito instável, e o salvamento demorou. Era um lugar remoto, dizem alguns. Mas é claro que o guia deveria ter um rádio para o caso de o celular não funcionar e ele precisar de ajuda. O socorro foi improvisado por alpinistas, escaladores que lá estavam. Até apareceram funcionários de socorro, mas só encontraram corda suficiente quatro dias depois. Não adiantou. Ela morreu de hipotermia e desidratação, uma morte terrível.
Muita gente acha que faltou empenho do governo brasileiro, que o Brasil deveria ter insistido com o governo indonésio para o socorro vir no segundo dia, no máximo. O que resta é retirar o corpo e trazê-lo de volta. Li que o jogador de futebol Alexandre Pato se ofereceu para custear a volta do corpo de Juliana. Mas é lamentável o que aconteceu com ela: negligência, falta de humanidade, falta de atenção.
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STF quer puxar investigação da fraude no INSS
Cada vez mais juristas, advogados e estudantes de Direito me procuram, preocupados com o exemplo do Supremo. Logo na manhã de quarta-feira me ligaram, dizendo que temos de mudar o nome do STF. Ele não é mais Supremo, é um tribunal genérico. Agora o ministro Dias Toffoli puxou para o STF o inquérito sobre aquela crueldade que fraudadores desonestos – desculpem o pleonasmo – fizeram com dinheiro de idosos, aposentados e pensionistas, roubando bilhões. E vai para o Supremo por quê? Porque haveria um deputado envolvido. Mas o deputado já mostrou que ele só estava num endereço que antes era ocupado por uma empresa envolvida na fraude. A empresa foi extinta, o escritório ficou vago e ele alugou. Não tem nada a ver com o ex-ministro Onyx Lorenzoni, até Sergio Moro apareceu na conversa sem ter nada a ver com a história.
Se há deputados envolvidos, são aqueles que votaram para amolecer a severidade e as restrições que o governo Bolsonaro queria impor nos descontos feitos de aposentados e pensionistas. O governo queria que os aposentados e pensionistas manifestassem sua vontade de contribuir, com prazo para renovação dessa autorização. Mas não foi assim que ficou.
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Desembargador passa em concurso, mas perde vaga por causa de cota
Controvérsia no Tribunal de Justiça de Brasília: o Conselho Nacional de Justiça anulou a nomeação de um desembargador alegando que a Resolução 525/23 do CNJ diz que é preciso haver 40% de desembargadoras. Parece guerra de sexos. A mulher tem de ter cota? Por quê? Quem dá cota para mulher pressupõe que a mulher é incapaz, ou menos capaz que o homem?
O artigo 5.º da Constituição diz, no caput, que “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza”. Não existe distinção por cor da pele, nem por sexo. Mas agora mesmo o Senado aprovou cotas de 30% nos conselhos das estatais para as mulheres; além disso, 30% sobre 30% (ou seja, 9%) das vagas são para mulheres de pele preta e portadoras de deficiência. Isso já tinha sido aprovado na Câmara, e por isso vai agora para a sanção presidencial. Mesmo contrariando a Constituição.
Imaginem só: uma pessoa de cérebro brilhante passa em primeiro lugar no concurso, mas tem um problema de locomoção. Todos vão achar que foi pela cota. Mas não: ela foi a brilhante, a que passou em primeiro lugar. Só que o mérito fica em segundo lugar quando se trata de entrar no serviço público; em primeiro lugar vêm o aparelho sexual, ou a pigmentação.
Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos




