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A expressão “negócio da China” tornou-se popular no mundo ocidental no fim da Idade Média e ainda hoje é utilizada quando alguém faz algum acordo vantajoso. Na época, a burguesia europeia consolidou a integração entre Ocidente e Oriente por meio de longas rotas terrestres e marítimas que buscavam na Ásia produtos cobiçados por europeus. O comércio marítimo de sedas, temperos, ervas, óleos e perfumes orientais era um negócio altamente lucrativo para os mercadores daquela época.

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Cinco séculos depois, as transações comerciais do Brasil com os chineses se transformaram em um grande “negócio da China”. Em contrapartida, os Estados Unidos – que no final do século passado eram a “galinha dos ovos de ouro” do comércio internacional brasileiro – tornaram-se um parceiro que só lucra.

Mesmo com o amplo apoio do governo Bolsonaro aos EUA e os ataques de bolsonaristas à China, a realidade dos números é que a cada ano os chineses aumentam suas importações de produtos brasileiros, enquanto que os norte-americanos mantiveram suas compras estagnadas e, em alguns anos recentes, até reduziram.

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Há pouco mais de 20 anos, por exemplo, o Brasil comprava mais do que vendia para a China. Em 1997, as importações brasileiras totalizaram US$ 1,57 bilhão e as vendas, US$ 1,55 bilhão. Um déficit para o lado brasileiro de cerca de US$ 2 milhões.

A China comprou cerca de 35% de tudo o que o Brasil vendeu para o exterior em 2020.

A virada da balança a favor do Brasil se deu a partir de 2001, quando houve um salto quantitativo nas transações entre brasileiros e chineses. Nesse ano, o superávit brasileiro chegou a US$ 700 milhões.

Nos anos seguintes, o incremento do comércio chinês-brasileiro ganhou um ritmo impressionante. Em 2010, as exportações do Brasil para a China superaram US$ 32 bilhões e, no ano passado, atingiu US$ 65,8 bilhões. As importações também cresceram, mas em ritmo menor, o que deu – ano a ano – um crescente superávit ao Brasil.

O saldo da balança comercial brasileira com a China no ano passado ultrapassou os US$ 30 bilhões. Esse montante é 43 vezes maior que o superávit obtido há duas décadas.

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No ano passado, de tudo o que o Brasil vendeu para o exterior, quase 30% foi para a China. Agora em 2020, com a pandemia de coronavírus, a fatia de compra dos chineses aumentou. Entre janeiro e julho, a China importou mais de US$ 42 bilhões de produtos brasileiros, o que representa 35% do total de US$ 121 bilhões exportados pelo Brasil.

Por outro lado, com os Estados Unidos – aliado preferencial de Bolsonaro –, as dificuldades comercias brasileiras parecem só aumentar. Depois de anos com seguidos déficits, que atingiu a marca de mais de US$ 11 bilhões em 2013, houve uma reação entre 2016 e 2018, período em que as importações e exportações praticamente ficaram empatadas. Mas no ano passado o Brasil voltou a comprar mais do que vende aos EUA e, agora em 2020, entre janeiro e julho, o déficit já passa de US$ 3 bilhões.

O maior déficit do comércio internacional do Brasil é com os Estados Unidos.

Além de acumular déficit, outro aspecto negativo é a estagnação do volume comercializado entre os dois países. Em 2011, por exemplo, as transações comerciais entre Brasil e EUA totalizaram cerca de US$ 59,8 bilhões e, em 2016, caiu para US$ 47,7 bilhões. Houve uma ligeira recuperação no ano passado, mas ficou no mesmo patamar de 10 anos atrás.

Os dados do Ministério da Economia mostram claramente que a ‘amizade’ de Bolsonaro com o presidente Donald Trump não pode ficar somente na troca de elogios e no alinhamento na ‘trincheira’ da disputa político-eleitoral. A proximidade precisa trazer resultados favoráveis à economia e ao comércio brasileiro.

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Os Estados Unidos são a maior economia do mundo. Não há dúvida de que os negócios com os norte-americanos precisam estar em primeiro plano. Por outro lado, um país pobre como o Brasil não pode suportar uma relação em que a vantagem só fica do lado oposto do balcão.

Há uma máxima que ficou conhecida durante a campanha eleitoral de 2016 nos EUA de que, em negócio com Trump, só ele ganha. Pelo que mostram os números, essa máxima está prevalecendo nas relações comerciais dos norte-americanos com os brasileiros.

Com a guerra comercial entre EUA e China e o alinhamento de Bolsonaro a Trump, a pergunta é: até quando o “negócio da China” vai manter o superávit brasileiro?