| Foto: Tomaz Silva/Agência Brasil
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A escassez de diesel na Argentina vem se agravando a cada dia. Nesta semana, a petroleira estatal YPF decidiu aumentar as restrições para a venda de combustíveis a estrangeiros. De acordo com dados da Federação Argentina de Empresas de Autotransporte de Cargas, 19 províncias (estados) do país enfrentam problemas de abastecimento. O cenário no país vizinho, governador por Alberto Fernández, é um sinal de alerta para o que pode ocorrer no Brasil em pouco tempo.

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A Petrobras afirmou na quarta-feira (8) que, frente às perspectivas de maior aperto no mercado internacional, o abastecimento nacional de diesel "requer atenção especial". O comunicado é um aviso para além da possibilidade de escassez: são reais as possibilidades de os preços do diesel subirem ainda mais. De acordo com a companhia, menor disponibilidade de exportações russas e o aumento sazonal da demanda mundial no segundo semestre são fatores que elevam os riscos no fornecimento do combustível.

Crise do diesel na Argentina serve de combustível para a mídia alinhada à direita do país.
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Antes do alerta da Petrobras, na terça-feira (7), o presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou que, diante do risco de faltar diesel, o Brasil poderá "partir para o escambo", trocando alimentos por combustível. "Podemos partir para o escambo, a troca. Tem país que refina petróleo e tem diesel em abundância, nós temos alimentos. O que é mais importante, alimento ou comida? Os dois são importantes. Mas a comida é mais importante", afirmou, em entrevista ao "SBT News".

Na avaliação da Federação Única dos Petroleiros (FUP), crise de diesel no Brasil “está contratada”. É a crônica de um colapso anunciado. A entidade aponta a inoperância do governo “diante da iminente ameaça à segurança nacional, provocada pela demora na tomada de decisões de importações e formação de estoques de diesel em tempo hábil”. Para a FUP, o litro do óleo diesel pode atingir R$ 10 no segundo semestre do ano, o que causaria impactos severos sobre a inflação às vésperas da colheita da safra agrícola, quando aumenta a demanda pelo derivado. A FUP avalia que

Embora o governo o Ministério de Minas e Energia tenha afastado o risco de faltar diesel a curto prazo – no dia 27 de maio, a pasta afirmou que o país tinha estoque suficiente para 38 dias –, consultorias e especialistas não descartam a possibilidade de escassez no segundo semestre caso o cenário internacional se mantenha. A StoneX, por exemplo, em relatório divulgado no final de maio, descarta neste momento um desabastecimento geral, mas destaca que o segundo semestre será desafiador.

Na avaliação de grande parte dos especialistas, além das sanções ao petróleo da Rússia, que colocaram pressão sobre os preços dos combustíveis, a temporada de colheita da safra agrícola no Brasil é um fator que provoca aumento do consumo de diesel. Nos Estados Unidos há a possibilidade de furacões, o que diminui a produção das refinarias.

Se a alta da gasolina é ruim, a escassez e o aumento nos preços do diesel pode ser uma catástrofe. O diesel é base para movimentação da economia. O transporte de carga rodoviário e ferroviário no Brasil, como em praticamente todo o mundo, é majoritariamente dependente de diesel.

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A situação do Brasil hoje poderia ser de tranquilidade se a Petrobras tivesse destinado recursos para aumentar a produção de diesel. A companhia anunciou recentemente investimentos na Refinaria de Paulínia (Replan), em São Paulo, e na Refinaria Abreu e Lima (Rnest), em Pernambuco, mas, na avaliação da Federação dos Petroleiros, a iniciativa chega tarde demais para enfrentar a atual crise. As obras teriam de ter sido feitas no início do governo Bolsonaro ou ainda no governo Temer.

Nos últimos anos, o governo surfou na onda de que valeria mais a pena vender petróleo bruto e importar combustível. Tanto que, atualmente, o país importa cerca de 30% do diesel necessário para atender o consumo doméstico (na Argentina as importações também representam 30%). O argumento apresentado: "investimento em refinarias não é bom negócio diante dos custos de produção versus os preços dos combustíveis importados". Essa tese, de que “processar mais petróleo não significa necessariamente obter o melhor resultado econômico”, resultou nos riscos que o país enfrenta hoje.