• Carregando...
madeira ilegal
| Foto: Reprodução/Greenpeace

Durante reunião do Brics (grupo de países que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), na terça-feira (17), o presidente Jair Bolsonaro afirmou que divulgará uma lista de países que compram madeira extraída ilegalmente das florestas brasileiras, mas criticam o país em razão do desmatamento. A lista não é novidade. Os dados mostram que muitos dos compradores de madeira ilegal do Brasil são conhecidos há anos por meio de investigações e denúncias de organizações ambientalistas e até da Polícia Federal, mas pouco ou quase nada foi feito para coibir as fraudes.

Em 2018, o Greenpeace publicou um relatório, intitulado “Arvores imaginárias, destruição real”, o qual revela falhas no processo de licenciamento e exploração indiscriminada e ilegal de madeira, especialmente ipê, na região amazônica. O estudo foi feito com ampla investigação em que participaram também pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e técnicos do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).

“O inventário florestal é o primeiro elo fraco no falho sistema de custódia da madeira da Amazônia brasileira, o qual permite gerar milhares de metros cúbicos de créditos de forma fraudulenta. Mais tarde, esses créditos serão usados para 'esquentar' a madeira de áreas onde a exploração é proibida, como terras indígenas, áreas protegidas e terras públicas sem concessão”, diz o relatório.

O documento traz também uma lista dos maiores países importadores de ipê do Brasil (a madeira mais cobiçada no mundo rico), os quais recebem, segundo o estudo do Greenpeace, madeira ilegal. A organização compilou o volume total, em metros cúbicos, dos países que mais importaram ipê com suspeita de superestimativa de densidades em seus inventários, no período de março de 2016 a setembro de 2017.

Os Estados Unidos ficaram em primeiro lugar, com mais de 10 mil metros cúbicos importados. A investigação, segundo a ONG, levou a uma lista de 37 companhias americanas apontadas como os principais clientes de exportadores brasileiros que vendem madeira "com indícios de ilegalidade" para fabricar mesas ou móveis de jardim.

Maiores importadores do ipê brasileiro

madeira ilegal
Volume total no período de março de 2016 a setembro de 2017, segundo o sistema Sisflora 2.| Reprodução/Greenpeace

Depois dos EUA, aparecem na lista de maiores importadores França, Portugal, Bélgica, Holanda, Japão, Panamá, Dinamarca, Espanha, Canadá, Itália, Alemanha e Reino Unido, todos países ricos, com exceção do Panamá.

Na época, o Greenpeace cobrou do governo brasileiro uma revisão de todas as autorizações entregues desde 2006 às madeireiras e a retomada do controle da atividade na região. Simultaneamente, a ONG lançou a campanha "A crise silenciosa da Amazônia" e denunciou que de 20% a 40% da madeira exportada para a Europa têm origem ilegal.

Pelo menos parte da lista a que se referiu Bolsonaro na reunião do Brics é de 2017, portanto posterior às denúncias do Greenpeace. Uma operação da Polícia Federal, deflagrada naquele ano, apreendeu madeira ilegal que seria exportada para oito países europeus. A operação Arquimedes fez apreensões na época de 120 contêineres com 2,4 mil metros cúbicos de madeira extraída ilegalmente e que seria vendida para empresas da Alemanha, França, Bélgica, Itália, Dinamarca, Holanda, Portugal e Reino Unido.

Ipê, a árvore queridinha dos madeireiros por seu alto valor no mercado internacional.
Ipê, a árvore queridinha dos madeireiros por seu alto valor no mercado internacional.| Reprodução/Greenpeace

A iniciativa de dar publicidade à lista de importadores de madeira ilegal é importante para que as pessoas de todo o mundo conheçam para onde estão indo as árvores derrubadas ilegalmente no Brasil. Mas essa ação corre o risco de não ter nenhum efeito no combate ao crime da madeira ilegal se não vier acompanhada de outras medidas para impedir a fraude.

A madeira brasileira não entra em países desenvolvidos de forma clandestina. As falhas na fiscalização e licenciamento no Brasil facilitam a retirada de árvores ilegalmente da Amazônia. A fraude permite ainda que a madeira oriunda do crime chegue no exterior como legal. Sem uma ação eficaz no combate à fraude, a madeira ilegal da floresta brasileira continuará abastecendo consumidores do mundo rico.

*Receba notificações de reportagens do jornalista Célio Martins

0 COMENTÁRIO(S)
Deixe sua opinião
Use este espaço apenas para a comunicação de erros

Máximo de 700 caracteres [0]