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Célio Martins
Registro de quando estive em Cuba para uma série de reportagens.| Foto: Arquivo pessoal de Célio Martins/Flickr

Na minha história profissional, em dois momentos, Cuba e um dos principais personagens da revolução cubana entraram no roteiro das minhas atividades.

No final de 2002 e início de 2003 tive a oportunidade de trabalhar na cobertura jornalística da posse do ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva, um evento de grande expressão internacional e que levou a Brasília gente de todas as regiões do país e líderes do mundo todo. Lá estava Fidel Castro, de longe o personagem estrangeiro de maior carisma.

Na cerimônia de posse no Congresso Nacional, no dia primeiro de janeiro de 2003, Fidel chegou em trajes civis e, mesmo se misturando aos cerca de 3 mil presentes, era foco constante de atenção. O líder cubano se concentrou durante os 45 minutos do discurso de Lula fazendo anotações em cópia do texto distribuída às autoridades estrangeiras.

Fidel ficou sentado ao lado do ex-ministro José Dirceu. Durante o discurso era possível ver , vez ou outra, líderes de outros países desviarem o olhar para observar o comandante da revolução cubana, tal era a curiosidade que ele despertava em muitos chefes de Estado, sejam simpatizantes ou adversários.

No dia seguinte, vários jornalistas buscamos tirar alguma declaração de Fidel na saída dele da posse de Cristovam Buarque à frente do Ministério da Educação, mas o ex-presidente apenas fez gestos e mandou beijos a populares que se concentravam no local.

Dez anos depois, em 2013, Cuba e seus personagens históricos novamente entraram no meu currículo. Em maio daquele ano assumi a missão de fazer uma série de reportagens na ilha caribenha. Foram dez dias de trabalho intenso no país de Fidel, com visitas a centros esportivos, escolas do ensino básico, faculdades, diversas instituições públicas, contatos com jornalistas da mídia e muita conversa com o povo nas ruas e eventos culturais, do teatro às partidas de beisebol, uma das grandes paixões esportivas do povo cubano.

Quando saí do Brasil rumo a Cuba, eu não havia programado nenhuma reportagem sobre Fidel, mas durante a jornada na ilha decidi buscar alguma informação sobre o cotidiano do líder depois que ele se afastou no poder. No Ministério das Relações Exteriores demonstraram, logo de início, que eu não teria a mínima chance de chegar ao “comandante”.

Fidel vivia com sua mulher, Dalia Soto del Valle, com quem teve cinco filhos, numa casa na localidade chamada Punto Cero [Ponto Zero], em Havana. Busquei várias fontes, mas consegui poucas informações de algumas pessoas que conviveram com Fidel, como Juan Marrero González, premiado jornalista cubano que contribuiu com a fundação do jornal Granma, diário oficial do Partido Comunista de Cuba, e integrou a União dos Jornalistas de Cuba (Upec).

Um fim de tarde, depois que eu havia cumprido minha agenda de visitas e entrevistas, decidi arriscar uma visita ao jornal Granma. A sede do diário fica atrás da Praça da Revolução, não muito distante do prédio do Comitê Central do Partido Comunista. Para meu fracasso, esqueci no bloco de anotações no hotel o nome do jornalista o qual eu deveria me encontrar no jornal. Sem um contato no Granma, sugeriram para eu voltar no outro dia com o nome do jornalista com quem eu pretendia falar.

Sai da sede e fui caminhando por uma rua arborizada e tranquila, policiada ao extremo por ser uma zona onde concentra o poder de Cuba. Numa travessa que dá acesso ao Comitê Central surgiu uma van, com o vidro do meio entreaberto no lodo direito, e parou na esquina antes de pegar a rua principal. Da calçada, vislumbrei pela fresta do vidro um homem barbudo, já de idade avançada. Mirei firme para ter certeza, ele me olhou firme também, a van partiu. Era Fidel, não restava dúvida. Tanto que confirmei depois com jornalistas cubanos que ele circulava pela cidade comumente em uma van.

Leia a série de reportagens:

https://www.gazetadopovo.com.br/mundo/especiais/passagem-para-cuba/

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