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Quando a política vira piada
| Foto:
Wenderson Araújo/Gazeta do Povo
Sabrina Sato entrevista o deputado Paulinho (PDT-SP). A apresentadora virou celebridade no Congresso

Matéria publicada hoje na Gazeta do Povo:

Foi-se o tempo em que os políticos apenas inspiravam caricaturas nas novelas e programas humorísticos. Figuras fictícias como Odorico Paraguaçu, Justo Ve­­ríssimo e De­­vagar Franco estão perdendo a con­­corrência para um novo tipo de personagem. Na sátira atual, os próprios deputados e senadores transformaram-se na piada pronta.

A fórmula reflete o sucesso de dois programas semanais – o Pâ­­ni­­co na TV, da Rede TV!, e o Custe o Que Custar (CQC), da Bandei­­ran­­tes. Neles, os parlamentares são co­­locados contra a parede no próprio ambiente de trabalho, não raro, em situações constrangedoras. E poucos conseguem se equilibrar no fio da navalha entre o humor e o ridículo.

O caso mais notório envolveu o senador Eduardo Suplicy (PT-SP), que topou caminhar pelos corredores do Senado com uma sunga vermelha por cima da calça a pedido de Sabrina Sato, apresentadora do Pânico. Dias antes, ele já havia caído em uma “pegadinha” do programa. Instigado por um humorista disfarçado de eleitor, foi ao plenário mostrar um cartão vermelho para o presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP).

“Nunca imaginei que uma sunga poderia causar tanto transtorno. Tem tanta coisa ruim na política para as pessoas criticarem”, diz Sabrina. As imagens não foram ao ar a pedido de Suplicy, que por pouco não enfrentou um processo por quebra de decoro parlamentar. Mas o paulista não é o único a ceder aos encantos do humor – e das curvas – de Sabrina.

A atuação dos comediantes/repórteres causa furor no dia a dia do Congresso. Após as primeiras abordagens aos parlamentares, no ano passado, o CQC chegou a ser proibido de entrar na Câmara e no Senado. A volta ocorreu após uma enorme mobilização e um manifesto de repúdio à censura, que reuniu 260.021 assinaturas recolhidas em todo o país.

Atualmente, os dois programas estão 100% liberados para trabalhar em Brasília. Com liberdade, eles aprenderam os atalhos do parlamento e conseguem abordar qualquer um dos 594 parlamentares. Menos Sarney, invariavelmente cercado por uma equipe de seguranças.

Celebridade

Na quarta-feira, a reportagem da Gazeta do Povo acompanhou o trabalho de Sabrina Sato no Congresso. Entrevistá-la é uma tarefa complexa – mas não por estrelismo. Ex-participante do Big Brother Brasil e capa da revista Playboy em 2004, ela provoca um turbilhão por onde passa, muito em função das microssaias que veste. “Os senadores até chegam perto, mas nunca folgam. Há uma relação de respeito”, conta Sabrina, em uma das qua vezes que parou para falar com a Gazeta do Povo.

A entrevista é interrompida porque ela é forçada a atender os fãs a cada 20 segundos. Entre as 16h16 e 16h20, Sabrina posou para 14 fotos com uma legião de crianças, adolescentes, funcionários públicos, assessores parlamentares e desocupados. “Ela é tão bonita quanto na tevê”, diz uma menina de 14 anos e que pede para não dar o nome porque os pais não sabem que ela está ali.

A garota e uma amiga foram ao Congresso apenas para ver Sabrina. A humorista fica posicionada estrategicamente em um espaço conhecido como “túnel do tempo”, que liga os gabinetes dos senadores ao plenário. Ou seja: não há escapatória.

Ainda assim, Sabrina explica que só entrevista os que topam participar. “Eles se acostumaram comigo por aqui e, no geral, são muito simpáticos”, revela. Segundo a humorista, a aceitação ocorre porque ela tem uma proposta diferente dos “outros programas”, considerados mais agressivos entre os parlamentares. “Estou aqui para mostrar um lado diferente, um lado mais pessoal e divertido, dos políticos. Só isso.”

O papo entre Sabrina e os senadores flui com facilidade. Entre os xodós da repórter estão dois paranaenses: Alvaro Dias (PSDB), a quem chamou de “mais bonito do Congresso”, e Flávio Arns (PSDB), com quem disputou recentemente uma partida de “vôlei imaginário”. “Eles são muito queridos, sempre me ajudam a entender as coisas.”

Na semana passada, o alvo era o aniversário do presidente Lula, que comemorou 64 anos na terça-feira. Sabrina perguntava aos senadores qual seria o melhor presente e, ao mesmo tempo, fazia um questionário sobre os gostos do presidente. Sem cerimônia, pediu para o sergipano Almeida Lima (PMDB) ensiná-la a fazer nó de gravata, na porta do plenário e na frente do comitê de imprensa. O peemedebista aceitou sem qualquer questionamento.

Logo depois, brincou com Wellington Salgado (PMDB-MG) e pediu para que ele cortasse o cabelo. O mineiro disse que só cortaria se ela fizesse uma cirurgia para tirar sua pinta da testa.

Em mais uma parada, Sabrina atende o celular. Quem fala é o namorado, o deputado federal Fábio Faria (PMN-RN), a quem chama de “amorzão”. Faria ficou famoso por outra namorada – a apresentadora Adriane Galisteu, a quem bancou viagens com dinheiro da Câmara, episódio que ficou conhecido como o escândalo das passagens aéreas.

Sabrina não gosta de falar da vida pessoal, mas recorre a um exemplo de família para comprovar o gosto pela política. “Meu avô foi vereador em Penápolis (SP) por 28 anos seguidos.” Além disso, garante que se informa – ao menos semanalmente – sobre o tema.

Segundo ela, acompanhar o trabalho dos parlamentares não é fácil. Por isso, é bem comedida em qualquer crítica. Para Sabrina, a maioria dos políticos é séria. Declaração que faz ela própria cair na gargalhada.

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