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Lixo: acidente, falha ou projeto?
| Foto: Divulgação/Magis

O lixo e a poluição não são simples acidentes de percurso. Ao contrário, em uma economia linear como a nossa, os descartes gerados são amplamente projetados e portanto uma falha do design.

De acordo com pesquisas da fundação Ellen MacArthur, as decisões que tomamos ao projetar um produto, sistema ou serviço determinam 80% de seu impacto ambiental.

Em um mundo com recursos finitos, essa estatística compromete tanto o planeta quanto a economia. Uma abordagem circular da economia, como discutimos no nosso artigo de estreia, inspira-se na natureza para reverter a lógica linear de  “extrair recursos, fabricar bens, consumi-los e descartá-los”.

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Na natureza, não existe lixo, poluição ou aterros sanitários, porque todos os materiais circulam. As “sobras” de uma espécie se transformam em alimento ou recurso para outras espécies. Organismos crescem, morrem e voltam ao solo. Então o ciclo recomeça e é completamente circular.

O modelo cíclico do mundo vivo nos mostra na prática que é possível manter recursos em uso pelo maior tempo possível, reaproveitá-los e utilizá-los para regenerar diferentes ecossistemas. A economia circular, com sua abordagem prática e princípios, vem ajudando designers e arquitetos em diferentes partes do planeta a incorporar os ensinamentos e mecanismos do mundo natural em seus projetos.

Neste artigo compartilhamos três exemplos bem diferentes, mas que ilustram muito bem um dos princípios da economia circular, que consiste em eliminar resíduos e poluição desde o princípio, ou seja, na frase de projetação.

O design circular e suas estratégias

Sofá modular Costume, por Stefan Diez para Magis.
Sofá modular Costume, por Stefan Diez para Magis.

O Costume, sofá projetado pelo designer Stefan Diez e lançado em 2021 pela Magis, foi projetado para evitar o desperdício e por isso aposta no design modular e na sua flexibilidade.

Todos os componentes do sofá podem ser desmontados e substituídos, o que aumenta sua adaptabilidade a diferentes usuários e espaços e, consequentemente, amplia sua vida útil, gerando menos lixo e poluição. Além disso, o sofá oferece uma gama de configurações variadas, o que atende as preferências e necessidades dos consumidores em diferentes momentos de suas vidas.

A escolha dos materiais utilizados na produção da peça da Magis também foi pautada pela sustentabilidade e circularidade. O Costume tem uma estrutura feita de polipropileno reciclado e reciclável, enquanto o seu tecido pode ser retirado e lavado ou substituído com facilidade. E para garantir o conforto e minimizar o uso de espuma sintética, o sofá inclui molas embutidas.

Sunne Light, por Marjan van Aube.
Sunne Light, por Marjan van Aube.| Divulgação

A Sunne Light, luminária criada pela designer holandesa Marjan van Aube, aposta no “design solar” como uma das formas de reduzir a poluição, combater o aquecimento global e tornar a energia solar acessível para todos, em qualquer lugar do mundo.

Marjan van Aube explica que as superfícies deveriam ser desenhadas para absorver a energia do sol. Segundo ela, seria possível produzir energia através de superfície de edifícios e objetos, ampliando suas funcionalidades e transformando suas aparências, colocando em prática o que ela define como "design solar".

Para não ficar só na teoria, Marjan criou a luminária Sunne: uma peça de design que combina arte, sustentabilidade e tecnologia para criar a luz ambiente do futuro. Quando pendurada em frente à uma janela, a luminária coleta naturalmente a energia do sol, que é armazenada em uma bateria integrada. À medida que escurece, a luz da Sunne começa a brilhar, pois a luminária contém células solares “SunPower”, que se carregam durante o dia e produzem luz durante a noite.

Marjan desenvolveu os painéis solares em colaboração com o ECN.TNO, um dos centros de pesquisa de energia mais avançados da Europa, e testou as células solares na Universidade de Tecnologia de Eindhoven. A superfície curva da luminária foi projetada para garantir o máximo aproveitamento dessas células solares.

Painéis da Honext podem ser reutilizados ou reciclados.
Painéis da Honext podem ser reutilizados ou reciclados.| Divulgação

Os painéis para construção Honext foram desenvolvidos como uma alternativa circular, sustentável e saudável às divisórias e revestimentos tradicionais. Isto porque, os materiais de edificação e o setor da construção são responsáveis ​​por mais de um terço do consumo global de recursos.

Apenas 20% a 30% dos resíduos de construção e demolição são reutilizados ou reciclados. E cerca de 30% do consumo global de energia e das emissões de CO2 relacionadas à energia são atribuídos ao uso de edifícios.

É preciso também levar em consideração os produtos químicos amplamente utilizados em canteiros de obras que contribuem para poluição do ar, como por exemplo, vapores nocivos provenientes de óleos, colas, tintas, madeiras tratadas e plásticos.

Os painéis Honext são feitos de resíduos de celulose e por isso são mais leves que os divisores comuns, fáceis de instalar e isentos de aditivos tóxicos – como compostos orgânicos voláteis (COVs). Além disso, possuem propriedades acústicas e térmicas, são impermeáveis e resistentes à umidade. E após anos de uso, esses painéis podem ser reintroduzidos no ciclo industrial e reutilizados em uma ampla gama de aplicações no setor da construção e do design.

Os 03 exemplos trazidos aqui exemplificam como diferentes setores - moveleiro, iluminação e construção - vem incorporando uma abordagem circular para eliminar ou reduzir drasticamente o lixo e a poluição. E mais uma vez, podemos confirmar que o lixo é mesmo uma invenção humana, uma falha do design e, acima de tudo, um projeto econômico e social. Mas nunca um mero acidente.

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