Presidente Jair Bolsonaro discursa na abertura da Assembleia Geral da ONU, em Nova York.| Foto: Alan Santos/Presidência da República
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Nesta semana a pauta religiosa foi repercutida internacionalmente, às voltas com a necessidade de buscar fazer uma leitura mínima do contexto mundial – afinal, dados consistentes de organizações como a Open Doors International dão conta de que mais de 70% da população mundial vive sem respeito ao mais fundamental dos direitos: o de pautarem sua conduta pelo imperativo de sua consciência em assuntos de crença espiritual, tanto na esfera da liberdade de crença quanto da liberdade religiosa.

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Desde coisas simbólicas como um sino cristão poder tocar pela primeira vez no Iraque desde a ocupação do Estado Islâmico, como ocorreu nesta semana, até a situação das mulheres cristãs paquistanesas que estão sendo (novamente) acusadas de “blasfêmia” pelas autoridades islâmicas e o óbvio caso do vizinho Afeganistão e os terríveis relatos de início de execuções nas ruas (embora desmentidas oficialmente) pelo Talibã, mostram a atualidade e gravidade deste tema.

É um lampejo de esperança ver o Brasil tomando a dianteira para tratar da primeira liberdade, base (muitas vezes negada) de todas as outras discussões entre os carrancudos irmãos da comunidade internacional

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É sempre uma frustração ver momentos em que as autoridades mundiais se reúnem na Assembleia Geral das Nações Unidas (neste 2021, em sua 76.ª edição), discursam sobre os mais variados temas – todos certamente relevantes em escalas de urgência e importância –, mas quase nunca alguém levanta a bandeira de um dos pontos mais sensíveis da existência, e garantido no artigo 18 da Declaração Universal dos Direitos Humanos (DUDH) de 1948.

Assim sendo, digam o que quiserem, o espaço temático aqui deve elogiar a postura do governo brasileiro ao endereçar diretamente o tema. Desde o início de seu mandato, o presidente Jair Bolsonaro tem reiteradamente usado a oportunidade – e o holofote de sermos o primeiro país a discursar sempre – para trazer o assunto à baila. Neste ano de 2021, ele contribuiu duplamente com o tema. A primeira foi ao usar uma expressão interessante, quando diz que “a liberdade do ser humano só se completa com a liberdade de culto e expressão”. Mostra aqui um correto entendimento da diferença entre a liberdade de crença (na sua dimensão de consciência, da lente a enxergar o mundo) e a liberdade religiosa (esta tendo como núcleo essencial a externalidade do culto), e ligando-a à liberdade de expressão. Afinal, é a liberdade religiosa que, corretamente compreendida, serve como termômetro das demais, inclusive da livre expressão.

Já a segunda contribuição esteve em manter nossa tradição de país acolhedor e lugar de refúgio ao garantir a concessão de vistos humanitários para cristãos, mulheres, crianças e juízes afegãos. Apesar de sabermos das dificuldades operacionais que muitas vezes cria obstáculos para a concretização desta política, este gesto é o mínimo que se espera da civilização fundamentada nos valores da dignidade da pessoa humana e o bem comum. É parte do chamado a “acordar” feito pelo secretário-geral da ONU, António Guterres, em seu discurso. É parte do “deixar a adolescência” como disse Boris Johnson, primeiro-ministro do Reino Unido.

A tradição de que o Brasil fala primeiro na Assembleia Geral da ONU vem desde o início da constituição da Organização das Nações Unidas. E isto se deu, dizem algumas fontes, justamente pela dificuldade de diálogo dos líderes mundiais. Ninguém queria “iniciar a conversa”. Coube a nós – ao nosso mundialmente famoso talento para o que os de língua inglesa chamam de easygoing (aquele povo de fácil trato) – fazê-lo. É, assim, um lampejo de esperança ver-nos tomando a dianteira para tratar da primeira liberdade, base (muitas vezes negada) de todas as outras discussões entre os carrancudos irmãos da comunidade internacional.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]
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