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Publicado no Caderno G desta quarta-feira:

Uma das mais importantes intérpretes de seu tempo, a pianista argentina Martha Argerich completou 70 anos no dia 5 deste mês bem a seu estilo: pouco apareceu. Avessa à mídia e a entrevistas, Argerich construiu ao longo de sua carreira, repleta de prêmios e elogios, a imagem de uma pianista “difícil”, de temperamento forte, capaz de desmarcar concertos em cima da hora e de dar dor de cabeça a qualquer tipo de empresário.

Desde cedo, essa foi a fama de Argerich. Friedrich Gulda, o compositor e pianista austríaco, seu maior professor e, supostamente, sua paixão platônica, chegou a descrever a argentina como “selvagem”. Diz a lenda, inclusive, que os dois demoraram a se conhecer porque, na primeira vez que ele topou ouvir a jovem pianista, de apenas 12 anos, a pedido do pai dela, Martha se recusou a tocar. Seria o primeiro de uma série de cancelamentos.

Quando ela finalmente se dispôs a tocar, impressionou como sempre faria daí por diante. “Tinha só 12 anos. Eu não sabia o que ensinar para ela, porque ela sabia tudo. Foi o máximo talento que tive entre meus alunos. Nunca poderia ter pedido dinheiro em troca”, escreveu Gulda em sua autobiografia.

Desde os anos 80, a argentina fez valer mais uma pequena idiossincrasia. Por se sentir “sozinha” demais quando tocava peças como solista, decidiu que não faria mais apresentações do gênero. Desde então, toca principalmente concertos com orquestra e peças de Câmara em que tenha a seu lado outros músicos.

Entre seus parceiros preferidos está o brasileiro Nelson Freire. O pianista, que convidou a argentina inclusive para participar do documentário sobre sua vida, filmado por João Moreira Salles, explicou em uma entrevista à época a dificuldade da amiga com a solidão. “Se ela está estudando, gosta de ter alguém no quarto ao lado. Ela dorme melhor se tem televisão ligada, janela batendo, sol na cara, esse tipo de coisa. Não é do estilo solidão contemplativa”, disse.

Apesar de tudo, Martha Argerich continua sendo uma das pianistas-símbolo do início do século 21. Isso porque, mais do que temperamento forte, ela tem um talento especial. Nas aulas com Gulda, ela teria aprendido mais sobre os compositores clássicos austríacos, especialmente Haydn e Mozart. Mais tarde, se tornaria uma especialista em compositores românticos, como Chopin, e nos mais sentimentais entre os compositores do início do século 20, como Prokofiev e Ravel.

Atualmente, depois de se livrar do seu segundo câncer, Argerich mora em Bruxelas e faz um esperado concerto anual em Lugano, na Suíça. Entre uma e outra aparição, evita a imprensa e os holofotes. Exatamente como fez no seu aniversário de seus 70 anos.

PS: O vídeo acima mostra Argerich com Nelson Freire tocando Ma Mére L´Oye, de Ravel.

PPS: Nos últimos dias, o blog fez várias homenagens a Argerich. Quem quiser vê os posts anteriores para mais vídeos!

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