O ex-presidente americano Donald Trump mostra manchete de jornal sobre sua primeira absolvição de impeachment, em janeiro de 2020| Foto: Drew Angerer/ Getty Images
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Confirmando o que apontavam as previsões mais realistas, o ex-presidente americano Donald Trump foi absolvido no julgamento de impeachment realizado no Senado americano, neste sábado (13). É o segundo processo de impedimento enfrentado por Trump. No primeiro, quando ainda era presidente, foi absolvido em janeiro de 2020 da acusação de ter usado o cargo para pressionar um governo estrangeiro a ajudá-lo a encontrar informações constrangedores a respeito de seu adversário político Joe Biden — por quem acabou sendo derrotado nas eleições de novembro do ano passado. O que estava em jogo nesse novo julgamento não era o cargo presidencial, que já havia terminado, mas a possibilidade de que ele se tornasse inelegível. Trump prepara, agora, as próximas cartadas para voltar à Casa Branca em 2025.

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A seguir, uma lista das quatro cartadas que Trump prepara para manter-se influente na política americana nos próximos quatro anos e para garantir o seu lugar no pleito de 2024:

  1. Encontrar uma novo canal de comunicação com sua base eleitoral. Trump foi banido do Twitter no início de janeiro, dias após a invasão do congresso americano por apoiadores que ele havia incitado em discurso e em postagens na rede social. Outras onze plataformas online também impuseram restrições a Trump. O aplicativo de uma rede social alternativa, a Parler, muito usada por seus apoiadores, deixou de ser oferecida por Google, Apple e Amazon. Tratam-se de golpes duros na capacidade de Trump direcionar-se diretamente a seus seguidores, pois era extremamente atuante e prolífico em suas mensagens. Trump era uma metralhadora de tuítes. Agora, contenta-se em enviar suas mensagens por meio de contas de terceiros ou de grupos de apoiadores. Mas o alcance não é o mesmo, e Trump não tem acesso direito a elas. A conta "Trump War Room", por exemplo, que divulgou o seu comunicado oficial após a absolvição no Senado, tem 1,3 milhão de seguidores no Twitter. É bastante, mas não se compara aos 88 milhões de seguidores que Trump tinha em sua conta pessoal. Além disso, a maior parte da imprensa americana, que viveu sob ataque constante de Trump durante sua presidência, está disposta a silenciar o ex-presidente por meio de uma tática simples, mas efetiva: ignorá-lo solenemente. Após o ataque ao Capitólio, a sede legislativa americana, até mesmo uma parte importante da imprensa conservadora voltou as costas para Trump e reconheceu que ele havia passado dos limites e que estava prejudicando o próprio Partido Republicano. Para contornar isso, o bilionário Trump chegou a aventar a possibilidade de criar seu próprio canal de TV. Mas talvez não precise ir tão longe. Canais como a Fox News já se reposicionaram e deixaram claro para sua audiência que continuarão sendo o porto seguro dos trumpistas. Pode não ser o suficiente. Para o seu projeto de retorno à presidência, Trump precisa de uma estratégia digital que contorne a censura imposta pelas grandes empresas de mídia social;
  2. Garantir seu domínio sobre o Partido Republicano. A absolvição de Trump foi possível porque o Senado americano tem metade de suas cadeiras ocupadas por parlamentares republicanos. Ainda assim, sete deles votaram pelo impeachment de Trump (para que ele fosse condenado, pelo menos metade deles precisariam ter votado como os democratas). Trump procura uma maneira de vingar-se dos republicanos que votaram contra ele, expurgando-os do partido ou encontrando outra forma de puni-los politicamente. Mas isso pode levar a um racha interno com efeitos negativos para as eleições legislativas de meio de mandato, em 2022, quando serão renovados todos o deputados e um terço dos senadores. As eleições de meio de mandato são essenciais para mudar o equilíbrio político em Washington, em preparação para o pleito presidencial dois anos depois. A força política de Trump dentro do Partido Republicano decorre dos 74,3 milhões de votos que ele, mesmo derrotado, recebeu em sua tentativa de reeleição no ano passado. Sua fraqueza, porém, reside no fato de que ele não é uma unanimidade no partido. Segundo uma pesquisa Ipsos/Reuters realizada este mês, metade dos eleitores republicanos acredita que Trump tem alguma responsabilidade pela invasão violenta do Capitólio, no dia 6 de janeiro. E há uma ala de políticos republicanos tradicionais que está disposta a recuperar o controle do partido das mãos do trumpismo. Isso inclui, por exemplo, o líder republicano no Senado, Mitch McConnell, que votou contra o impeachment de Trump por considerar que seria inconstitucional fazê-lo com um ex-presidente, mas que deixou claro que considera, sim, que o bilionário é culpado pelo ataque às instituições democráticas no episódio da invasão do congresso. Para garantir sua influência sobre o partido, Trump terá que optar entre dois caminhos: apaziguar os ânimos e reconciliar-se com a ala tradicional ou partir para o confronto com os "traidores", expurgando-os ou submetendo-os aos seus objetivos.
  3. Reformar os sistemas de votação nos estados. Trump está disposto a seguir com sua narrativa de que só perdeu as eleições porque foi vítima de fraude. Nos Estados Unidos, cada estado tem seu próprio sistema de votação, e Trump pretende convencer seus aliados políticos a reformar cada um deles. Porém, isso também tem potencial para causar divisões dentro do Partido Republicano, pois muitos de seus líderes, em nível nacional ou local, não concordam com as acusações de fraude eleitoral feitas por Trump;
  4. Provar que é inocente de novo e de novo. O fato de ter sido absolvido em um julgamento político como é o impeachment não significa que Trump está livre de punição por seu papel na invasão do Capitólio ou por sua tentativa de empastelar o resultado das eleições. Ele já está na mira da Justiça por ter pressionado um funcionário do estado da Georgia (que, por sinal, é republicano) para encontrar votos a favor dele nas recontagens. Também há a possibilidade de ser investigado criminalmente pela incitação à invasão do Capitólio. Há diversos outros processos sendo montados contra ele na Justiça por diferentes atos governamentais e por conflito de interesses em seus negócios. Trump sempre se saiu bem em litígios, mas o prenúncio agora é de uma tempestade de processos. Ele terá que provar repetidas vezes que é inocente e não possui mais a imunidade presidencial para protegê-lo.
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Apesar dos desafios, Trump obteve, com sua absolvição no Senado, uma sobrevida ao seu projeto político. Além disso, com ou sem ele no páreo, o trumpismo seguirá sendo uma força importante nos Estados Unidos, que muitos políticos procurarão explorar.