Sócrates nunca deixou nada escrito, mas o eco de suas lições ainda chega aos nossos ouvidos, quase vinte e cinco séculos depois. Sócrates era aquele homem velho que ficava na praça – a Ágora – em Atenas, abordando pessoas, querendo conversar. Buscava atrair estas pessoas com perguntas sobre o que elas falavam: “Você estava dizendo achar injusta essa situação. Afinal, o que você entende ser a Justiça?” Lógico, muitos detestavam Sócrates. Parecia ser um atrevimento esse tipo de pergunta, essa ingerência na conversa alheia. Mas o ancião insistia. Aos que lhe davam trela, ele buscava encaminhar a conversa a uma descoberta: seus interlocutores não sabiam o que estavam falando! “Acho injusto”, diziam, mas não faziam a menor ideia no que se balizavam. Eram opiniões sem estofo, sem sedimento. Alguns, perplexos, compreendiam. Nascia uma luz, um caminho a ser percorrido. Por isso Sócrates se considerava um “parteiro”: ajudava pessoas a pensar e a buscar fundamentar suas ideias em bases mais sólidas. “Conhece-te a ti mesmo”, ele dizia para os poucos que aceitavam essa árdua tarefa de reconhecer seu desconhecimento sobre suas próprias palavras.
Sócrates nunca assumiu saber respostas sobre nada. “Sei que nada sei”, repetia. Mas isso fazia dele o sábio que foi. A consciência de não saber é o passo mais importante para algo mais verdadeiro acontecer. E ele dedicava seus dias a abordar novos passantes, sem se importar com as críticas e mesmo com as agressões dos incautos. Sua tarefa era ética. Fundamental. Sócrates acreditava que o mal no mundo era promovido pela ignorância. Quem não sabe, erra. O erro, para ele, poderia ser evitado. O mal não era um destino, mas uma negligência. Corrigir pela Educação era seu mote de vida.
“Prefiro ser ofendido a ofender”, dizia Sócrates. Parece cristão isso, mas é grego. Quem ofende, age por ignorância. Não sabe, tem medo de saber, prefere atacar o interlocutor, diminui-lo. É um bicho acuado. Sócrates entendia e buscava conversar. Quando não dava, afastava-se. Mas não respondia as ofensas. Não há mérito em se igualar na ignorância. Ali, tudo são sombras e as identidades se perdem. O caminho que o velho sábio escolheu foi outro, o de parteiro, o de ajudar a “dar a luz”.
Divido a lição do mestre de Atenas com todos os que agridem as palavras. Aos que xingam. Aos que ameaçam um texto e seu autor. Aos que acreditam poder calar com a violência. Não há mal em ser ofendido. “O mal é o que sai da boca do homem”. Sim, essa é uma frase cristã. A ética não tem fronteira mesmo!
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