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A primeira-ministra Sanna Marin tentará se manter no poder na Finlândia, que acaba de entrar na OTAN; Ucrânia também acompanha com atenção eleições em Montenegro e na Bulgária
A primeira-ministra Sanna Marin tentará se manter no poder na Finlândia, que acaba de entrar na OTAN; Ucrânia também acompanha com atenção eleições em Montenegro e na Bulgária| Foto: EFE/EPA/MAURI RATILAINENP

O próximo domingo (2) será dia de eleições em três países europeus integrantes da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN). Na Bulgária e na Finlândia, ocorrerão eleições gerais para os parlamentos nacionais, com a consequente formação dos governos desses países parlamentaristas. No pequeno Montenegro, teremos o segundo turno da eleição presidencial. As eleições podem contribuir para determinar como está o termômetro de apoio popular à Ucrânia contra a invasão russa.

Finlândia e OTAN

Começando pela Finlândia, alguns leitores podem ter estranhado o fato da coluna colocar o país tradicionalmente neutro como um integrante da aliança militar. Na quinta-feira (30), o parlamento da Turquia ratificou a entrada finlandesa na OTAN, praticamente concluindo o processo legal de adesão à aliança. Restando apenas uma assinatura simbólica, a Finlândia é, para todos os efeitos, um país integrante da OTAN, consequência direta da invasão da Ucrânia.

Mesmo antes da “operação militar” russa, ainda em dezembro de 2021, falamos aqui em nosso espaço que a entrada da Finlândia na OTAN seria quase instantânea em caso de invasão da Ucrânia. Dito e feito, pelo governo de Sanna Marin, do Partido Social-Democrata. Assumindo o cargo aos 34 anos de idade, em 2019, ela tornou-se a mais jovem chefe de governo da história finlandesa, assim como a quarta mais jovem do mundo na história contemporânea.

Seu governo, além de entrar na OTAN, é um ferrenho apoiador da resistência ucraniana e da expansão da capacidade de defesa da Finlândia. Nessa última semana, o país também anunciou a criação de um comando aéreo conjunto com Suécia, Noruega e Dinamarca, na prática criando uma “força aérea unificada” nórdica. O governo Marin também foi marcado pela pandemia de Covid-19, quando o governo invocou um estado de emergência. A Finlândia é o 74º país em número de mortes por Covid-19 por milhão de habitantes.

Nada disso, entretanto, coloca Marin e seu partido como favoritos nas eleições. Não ao menos de acordo com as pesquisas, que apontam um empate triplo pela liderança, entre os social-democratas, o Partido da Coalizão Nacional, conservador, e o Partido dos Finlandeses, populista de direita, anteriormente chamado de Verdadeiros Finlandeses. No caso, o “verdadeiros” se dava pela postura anti-imigração e “identitária”, com diversos integrantes dando declarações abertamente racistas.

Hoje, os social-democratas possuem 40 das 200 cadeiras parlamentares, governando com uma coalizão de cinco partidos, incluindo o Centro e os Verdes. A corrida apertada pela liderança significa que cada voto irá contar e que os partidos médios, como o Centro, serão decisivos para a formação de uma coalizão viável. Além disso, existe a incógnita se outros partidos aceitarão sentar à mesa com os Finlandeses, caso o partido fique em primeiro e ganhe o direito de tentar formar uma coalizão.

Bulgária e corrupção

Já os búlgaros votarão em sua quinta eleição parlamentar em três anos. Já falamos algumas vezes aqui em nosso espaço da situação búlgara, que é marcada por duas encruzilhadas. Uma delas é comum em países do leste europeu ou antigamente parte da União Soviética, a disputa entre forças pró-União Europeia e forças pró-Rússia. Os laços históricos entre a Bulgária e a Rússia são muito mais antigos do que a existência do Pacto de Varsóvia ou da União Soviética.

A própria independência da Bulgária veio por uma ação russa contra os otomanos, que dominaram a Bulgária até 1878. Os dois países eslavos têm em comum a fé cristã ortodoxa e outros aspectos culturais. Curiosamente, o suposto favorecimento russo à Sérvia, rival regional da Bulgária, afastou russos e búlgaros em momentos-chave da história, como na Primeira Guerra Mundial, quando lutaram em lados opostos. Na Segunda Guerra Mundial, a Bulgária foi novamente aliada da Alemanha.

A aliança durou até seu território ser atacado pelos soviéticos, com a Bulgária mudando de lado literalmente no dia seguinte. Esses laços culturais explicam como, mesmo após o fim dos regimes socialistas e da entrada búlgara na UE e na OTAN, existem setores influentes que defendem a Rússia dentro da política da Bulgária. No início do ano, o jornal alemão Die Welt publicou uma extensa matéria investigativa de como o governo búlgaro de Kiril Petkov, pró-Europa, teve que usar métodos clandestinos para apoiar os ucranianos.

O segredo era necessário não por causa da inteligência russa, mas para afastar os críticos dentro da própria Bulgária. A Bulgária forneceu armamentos, munições e combustível via terceiros para a Ucrânia, desde os primeiros momentos da invasão. Mesmo assim, o governo ruiu em junho de 2022, após o artista Slavi Trifonov retirar seu partido da coalizão de governo, em protesto ao fato de que o governo búlgaro autorizou que a Macedônia do Norte iniciasse conversas com a UE.

Bulgária e a Macedônia do Norte possuem divergências fronteiriças, com os irredentistas búlgaros defendendo que todo o território vizinho seria historicamente búlgaro. Em outubro de 2022, foram realizadas eleições que não conseguiram formar um governo viável, já que existe outra clivagem no debate político búlgaro. De um lado, Boyko Borisov, que governou o país por quase 11 anos em três mandatos diferentes, além de ter sido prefeito da capital Sofia, a figura que domina a política búlgara no século XXI.

Ele é acusado de corrupção, fisiologismo, repressão da mídia e “compra” de opositores, sendo inclusive brevemente detido por supostamente desviar fundos da UE. Do outro lado, os atores “anticorrupção” da Bulgária, que defendem uma modernização institucional do país e uma renovação política. Esse é um debate que, independente de direita e de esquerda na Bulgária, é uma divisão entre Borisov e seus críticos. O problema é conseguir que, com essas duas clivagens, seja formado um governo viável.

Para deixar o caldeirão ainda mais diverso, um partido que cresceu bastante nas últimas eleições é o Movimento pelos Direitos e Liberdades, que representa a minoria turca dentro da Bulgária. E se alguém deseja estabilidade política na Bulgária, talvez seja melhor desistir, já que, pelas pesquisas eleitorais, não será neste domingo que será formado um parlamento com uma configuração viável no país. A liderança ficará entre o grupo pró-UE do ex-premiê Kiril Petkov e o “bom e velho” Borisov.

Montenegro e Ucrânia

Finalmente, em Montenegro, o atual presidente Milo Dukanovic disputa o segundo turno de sua reeleição. É sua segunda passagem pela presidência, além de quatro passagens como primeiro-ministro, dominando a política montenegrina desde a independência em 2006. Contra ele, está Jakov Milatovic, quase 30 anos mais novo, proponente de uma suposta “modernização” do país. Principalmente, defensor da entrada do país na UE o mais rápido possível. Ao que tudo indica, entretanto, ele terá que esperar mais um pouco.

Montenegro é um país que tem sofrido muitas consequências econômicas da guerra na Ucrânia, já que possui profundos laços econômicos com a Rússia, além de ser popular destino turístico para oligarcas russos. Pelos laços históricos com a Rússia e com a Sérvia, Montenegro tem mantido uma posição de quase neutralidade, e uma vitória de Dukanovic aumentará a pressão dos países ocidentais pela mudança nessa postura. Uma vitória de Milatovic, por outro lado, representa uma certeza de mudança.

O domingo eleitoral, no que concerne ao governo ucraniano, será um total revés caso reúna vitórias dos Finlandeses, de Borisov e de Dukanovic. Por outro lado, a manutenção de Sanna Marin, o retorno de Kiril Petkov e uma improvável vitória de Milatovic seriam o melhor cenário possível para os ucranianos. A realidade deve ficar em algum lugar intermediário, com olhos especialmente para a Finlândia, onde todos os votos serão importantes em sua primeira eleição como país aprovado na maior aliança militar do planeta.

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