O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, acompanha o Chanceler alemão, Olaf Scholz, após entrevista coletiva, no Palácio do Planalto, em Brasília (Brasil). no dia 30 de janeiro de 2023| Foto: EFE / André Borges
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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva se encontrou nesta segunda-feira (31) com o chanceler alemão Olaf Scholz, em Brasília. A visita se dá no contexto de uma pequena tour do social-democrata Scholz pela América do Sul, passando também pelo Chile e pela Argentina. Dentre a pauta das conversas se destacam três temas. Meio ambiente, o acordo comercial entre União Europeia e Mercosul e a guerra na Ucrânia. Todas elas caminharam de acordo com o esperado do governo Lula, para o bom e para o ruim.

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No início do ano, fizemos alguns comentários sobre o que poderia ser esperado da política externa do governo Lula 3 aqui em nosso espaço, e o colunista também publicou comentários em redes sociais após o segundo turno das eleições presidenciais. Naquele momento comentamos que o Brasil retomaria a cooperação em pautas ambientais internacionais. Pois bem, na visita, Scholz anunciou cerca de duzentos milhões de euros para o Fundo Amazônia.

Essa cooperação já era sinalizada quando da posse de Lula, que contou com a presença do presidente alemão, Frank-Walter Steinmeier. Mesmo com essas iniciativas e a nomeação de Marina Silva como Ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, não se deve esperar muito idealismo. Por exemplo, os governos Lula foram ferrenhos defensores do Princípio da Responsabilidade Comum, mas Diferenciada, que coloca pesos diferentes nas responsabilidades ambientais dos países ricos.

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O que o governo Lula sabe é que, atualmente, ações predatórias do meio ambiente geram mais consequências negativas do que eventuais benesses, especialmente no cenário internacional. É mais pragmático usar o patrimônio ambiental brasileiro como ferramenta de política externa e de atração de investimentos, de acordo com uma economia do século XXI, distante do modelo da Segunda Revolução Industrial de mera exploração dos recursos naturais. A floresta em pé pode valer mais do que a mera madeira.

Acordo comercial

Já sobre as relações com a Europa, na ocasião comentamos que Lula havia dito desejar retomar as negociações do acordo de livre-comércio Mercosul-UE. O acordo foi rejeitado por parlamentos europeus por razões ambientais; algumas delas apenas discurso para disfarçar pautas protecionistas, deve-se frisar. A questão é que o acordo também desagrada setores do novo governo. Não é de surpreender que Lula disse "vamos trabalhar de forma muito dura para concretizar esse acordo, mas alguma coisa precisa ser mudada”.

O acordo também desagrada o governo Fernández na Argentina. O fato é que a postura de Lula não é novidade, ao menos não para os nossos leitores. O presidente também afirmou que pretende fechar o acordo ainda no primeiro semestre de 2023, uma meta otimista, para dizer o mínimo. Existe também o jogo de palavras. Concluir um acordo não necessariamente significa sua entrada em vigor, já que ele precisaria ser aprovado por todos os parlamentos envolvidos.

São praticamente três dezenas de casas legislativas, incluindo algumas de configuração bem complicada, como a francesa e a argentina. Dificilmente isso ocorreria num prazo tão apertado como alguns meses. Finalmente, a questão da guerra na Ucrânia. Quando da eleição de Lula, comentamos que não se deveria esperar grandes guinadas do governo brasileiro, que precisa equilibrar seus interesses econômicos, suas relações políticas e a defesa de princípios multilaterais.

Quando se fala em “interesses econômicos”, leia-se fertilizantes russos, que fornecem cerca de um quinto dos insumos consumidos no Brasil, essenciais para a produção agrícola brasileira. Ou seja, embora possa se esperar um tom conciliador e uma postura mais pró-Ucrânia em fóruns multilaterais, nas relações bilaterais tudo deve continuar como está. Por exemplo, o governo Bolsonaro por vezes se absteve e por vezes votou a favor da Ucrânia no âmbito da Assembleia Geral da ONU.

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Munições

Dessa vez, Lula afirmou que a Rússia errou em invadir a Ucrânia, mas que a crise antecedente teria também participação ucraniana, evocando o ditado popular de “quando um não quer, dois não brigam”. O presidente brasileiro quis amenizar as declarações anteriores, quando era candidato, em que igualou a Rússia e a Ucrânia, com ampla repercussão negativa do que foi visto como equiparar o agressor e a vítima de uma invasão militar ao seu território.

Longe dos holofotes, entretanto, o governo assinou a declaração conjunta com a delegação alemã que condena "enfaticamente a violação da integridade territorial da Ucrânia pela Rússia e a anexação de partes de seu território como violações flagrantes do direito internacional.". Principalmente, Lula afirmou ter vetado o envio de munições de depósitos do Exército Brasileiro para a Ucrânia, dizendo que o Brasil é um “país de paz” e que seu governo deseja criar um fórum de diálogo para encerrar o conflito.

Ainda não está claro quais munições seriam essas, já que o Brasil emprega o carro de combate Leopard 1, antecessor do modelo que a Alemanha enviará aos ucranianos. O canhão do modelo usado pelo Brasil possui um calibre menor, com as munições não sendo compatíveis. Podem ser também munições da viatura de combate antiaéreo Gepard, utilizada com sucesso pelos ucranianos contra drones russos. O fato é que o Brasil recusou o envio alegando uma postura de neutralidade.

O fato de tanto a Rússia quanto os países da OTAN estarem buscando munições em parceiros longevos e depósitos da Guerra Fria mostra o quanto o atual conflito está sendo desgastante. Abordamos o tema do envio de armamentos aos ucranianos na mais recente coluna aqui em nosso espaço. O fato é que pode-se fazer um julgamento moral da ação do governo brasileiro, de não apoiar um país invadido, mas a política internacional, bom lembrar, é amoral. Ela segue interesses concretos e palpáveis, como os econômicos.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]
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