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O líder do Partido Popular, Alberto Núñez Feijóo: principal opositor contra o atual governo espanhol
O líder do Partido Popular, Alberto Núñez Feijóo: principal opositor contra o atual governo espanhol| Foto: EFE / Fernando Alvarado

Hora de concluirmos as colunas de começo de ano aqui no nosso espaço de política internacional. Como fizemos em ocasiões anteriores, levantamos alguns aspectos e temas para ficarmos de olho no ano que começa. Por vezes acertamos, algumas vezes erramos, mas, felizmente, os acertos costumam ser maioria. Concluímos com alguns aspectos globais e outras eleições importantes em 2023.

Finlândia e Grécia

Começando pela Europa, teremos cinco eleições importantes no Velho Continente. Em abril, é a vez dos finlandeses escolherem seu novo parlamento. As pesquisas indicam uma vitória conservadora, contra os social-democratas atualmente no poder. A questão é que, talvez, os conservadores precisem fazer uma aliança, e tudo indica que a extrema-direita finlandesa terá o seu melhor resultado eleitoral da História.

Os conservadores do KOK fariam uma aliança com o Finlandeses, anteriormente chamado de “Verdadeiros Finlandeses”, uma referência à sua bandeira anti-imigrantes? Caso não o façam, pode-se repetir um cenário comum no parlamentarismo, o de “venceu, mas não levou”, com os conservadores ficando em primeiro, mas sem conseguir formar um governo, já que a atual coalizão de governo, à esquerda, aparentemente, teria maioria.

Também é interessante o fato de que será a primeira eleição finlandesa após o pedido de entrada na OTAN, com a invasão da Ucrânia pela Rússia e a guinada estratégica finlandesa com potencial de influenciar as eleições. Depois, em julho, é a vez dos gregos elegerem seu parlamento. A diferença entre os conservadores do Nova Democracia, atual governo, e dos socialistas do Syriza está diminuindo, mas as pesquisas indicam vitória conservadora.

O curioso no cenário grego é que será a última eleição com as atuais regras. Para o próximo pleito, realizado até 2027, será reinstaurado o bônus de desempenho para o vitorioso das eleições, que pode representar até cinquenta assentos extras. Esse tipo de procedimento existe em alguns países parlamentaristas, para viabilizar a chamada “governabilidade”, embora não seja o mais democrático dos procedimentos.

Polônia

Em outubro são os poloneses que elegem seu parlamento. A Polônia atualmente é governada pelo conservador Lei e Justiça, liderado por Jaroslaw Kaczynski, embora o premiê seja Mateusz Morawiecki. O Lei e Justiça conseguiu concentrar muito poder, com as maiores bancadas em ambas as casas do parlamento e a presidência da república, ocupada por Andrzej Duda.

Essa concentração colocou o governo polonês em choque com a União Europeia, em meio às acusações de corroer as instituições democráticas do país. Falamos disso aqui em nosso espaço ainda em 2018, no texto Polônia, Hungria e o populismo com o dinheiro dos outros. A imagem do governo está em queda nos últimos dois anos, sofrendo com o gerenciamento da pandemia de covid-19 e também com o desastre ambiental no rio Oder.

A guerra na Ucrânia, por outro lado, tem sido motivo de elogios dos poloneses ao governo. A Polônia é, proporcionalmente à sua economia, um dos países que mais fornece apoio aos ucranianos. As pesquisas apontam vitória apertada do Lei e Justiça, contra a Plataforma Cívica, de centro, liderada por Donald Tusk, que foi premiê polonês de 2007 a 2014 e presidente do Conselho Europeu de 2014 a 2019.

É possível, entretanto, que Tusk seja mantido na liderança do partido, mas abra mão da candidatura ao cargo de premiê, já que sua rejeição também não é das mais amigáveis. Finalmente, as coalizões Esquerda, de partidos social-democratas e socialistas, e Polônia 2050, de caráter liberal, devem disputar o posto de terceira maior bancada, mas sem chances de vitória.

No máximo, podem ser cortejadas pela Plataforma Cívica para a formação de um governo de “frente ampla” que tire os conservadores do poder. Também no segundo semestre de 2023, teremos eleições gerais na Espanha. Enquanto as outras eleições que citamos serão apenas nacionais, na Espanha ocorrerão eleições para o parlamento nacional e também para províncias e municípios.

Espanha e Reino Unido

No plano local, será interessante vermos o desempenho de legendas separatistas ou autonomistas, cujo caso mais conhecido é o da Catalunha. Nesses pleitos as legendas de extrema-direita, como o neo-franquista Vox, e de esquerda radical costumam ter desempenho melhor do que no plano nacional. Nacionalmente, é uma boa notícia ver a Espanha realizando uma eleição apenas ao fim do mandato do governo.

Entre 2015 e 2019 foram disputadas quatro eleições no país, sempre resultando em um parlamento travado. Agora, o mandato de Pedro Sánchez, do PSOE, de centro-esquerda, chega ao fim. Seu principal opositor será o ex-presidente do governo da Galícia, algo análogo ao cargo de governador no Brasil, Alberto Núñez Feijóo, líder do PP, o principal partido de centro-direita da Espanha.

As pesquisas em 2022 estão em efeito montanha-russa, hora colocando o PSOE na frente, hora o PP. O terceiro lugar deve ficar com o Vox, enquanto o Unidas Podemos, de esquerda, deve ficar em quarto lugar, mantendo a atual configuração do parlamento. Até lá, entretanto, muita coisa pode mudar, já que o pleito deve ser realizado apenas em novembro.

Mencionamos as eleições locais espanholas e também ocorrerão pleitos regionais no Reino Unido em maio, o primeiro grande teste para o premiê conservador Rishi Sunak. As pesquisas indicam favoritismo do Partido Trabalhista, com os recentes desgastes dos conservadores. Por outro lado, o fato da maioria das cidades em disputa já ser governada pelos trabalhistas faz com que a “obrigação” de vitória mitigue o aparente favoritismo.

Nigéria e Congo

Como curiosidade, a Ucrânia também deveria realizar eleições parlamentares este ano, mas, por motivos óbvios, o atual estado do pleito é incerto, para dizer o mínimo. Saindo do continente europeu, no mínimo outras três eleições merecem a atenção do eleitor neste ano. Começando pela Nigéria, que, em fevereiro, elege novo presidente e todo o Congresso nacional e, em março, realiza eleições locais.

As eleições nigerianas são das maiores do mundo e, pela geografia do país, representa alguns desafios logísticos. Além disso, o eleitorado jovem do país se registrou em massa nos últimos anos, dando um bom sinal de que a democracia no gigante africano segue em seu processo de consolidação. Essa onda de novos eleitores foi motivada pelos protestos contra o governo e contra a polícia nos últimos anos.

O atual presidente Mohammadu Buhari não concorre, limitado em seu número de mandatos. Além de presidente eleito, o ex-general também governou o país após um golpe militar nos anos 1980. Hoje o favorito pelas pesquisas é Peter Obi, do Partido Trabalhista, mas as pesquisas estão apertadas, com três candidatos com chances de ficarem em primeiro. O segundo turno é uma certeza.

Outro candidato forte é Atiku Abubakar, que foi derrotado por Buhari em 2019 nas internas do partido. A Nigéria, nos últimos anos, foi um pilar na África ocidental. Por seu tamanho, geográfico, demográfico e econômico, ela é um navio-piloto de sua região. Para onde a Nigéria apontar, a tendência será sentida em outros países da região. Daí a imensa importância de suas eleições.

Caso a Nigéria consiga realizar suas eleições com sucesso e sem violência política, mesmo com uma miríade de candidatos e diversos problemas internos, teremos um bom sinal para seus vizinhos. Mais ao sul, em dezembro, teremos eleições gerais na República Democrática do Congo, para presidente, Assembleia Nacional e também as assembleias provinciais.

No caso congolês, o conflito com grupos rebeldes no leste, como o M23, apoiado por Ruanda, e a cada vez maior presença russa no país devem ser temas eleitorais. Infelizmente não é possível fazer comentários mais elaborados no momento, já que sequer as candidaturas estão definidas. Saindo da África e indo ao sudeste asiático, a Tailândia realiza suas eleições em maio.

Tailândia, Líbia e Haiti

O país passou por uma séria convulsão social nos últimos anos, com diversos protestos contra a junta militar e contra a monarquia. Centenas de pessoas foram detidas e um estado de emergência declarado pela junta militar possibilitou uma forte repressão. Não é uma coincidência, então, que o partido que lidera as poucas pesquisas independentes é o principal partido de oposição, o PTP, que já foi banido duas vezes pelo judiciário tailandês.

Já o partido oficialista da junta militar, o Palang Pracharath, está com um desempenho baixíssimo nas pesquisas. Caso isso se confirme nas urnas deve até mesmo aumentar as suspeitas de fraude no último pleito. Claro, caso a fraude não se repita ou não ocorra nenhuma manobra jurídica para evitar que a oposição possa disputar a eleição ou, caso vença, assuma o poder.

Finalmente, é necessário mencionar que, supostamente, Líbia e Haiti passarão por eleições esse ano, ambos os pleitos constantemente adiados. A Líbia está dividida em duas facções principais, que podem retomar o conflito a qualquer momento, enquanto o Haiti está mergulhado em caos e violência. Não que apenas eleições resolverão alguma das duas situações, mas seriam um passo importante rumo à estabilidade.

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