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líder da maioria no Senado dos EUA, Mitch McConnell, apresentou o plano dos republicanos de estímulo econômico| Foto: Olivier DOULIERY/AFP

Os republicanos lançaram seu plano de ação econômica para conter os efeitos do novo coronavírus. Semana passada foi a União Europeia que formalizou seu pacote econômico. Duas semanas atrás, Joe Biden falou em “segundo New Deal” durante a campanha. Agora foi o líder republicano no senado dos EUA, Mitch McConnell, que apresentou o plano do seu partido. Independente de quem vença as próximas eleições presidenciais nos EUA, os dois partidos terão que negociar e chegar num acordo sobre as medidas.

O plano republicano prevê um orçamento de um trilhão de dólares extras para a economia. Importante lembrar que o governo Trump já colocou mais de dois trilhões de dólares em medidas para recuperação da economia. O novo projeto estabelece 100 bilhões de dólares para adaptação de escolas, transferência de renda de mil e duzentos dólares para os cidadãos, financiamento para empresas com menos de 300 funcionários, complementos para os programas estaduais de auxílio-desemprego, congelamento dos custos de seguros de saúde e mais de 40 bilhões de dólares em programas de saúde, como testagem e compra de equipamento de proteção individual.

Como esperado para qualquer programa estatal que envolve uma quantia gigantesca como essa, o plano já despertou críticas de diversos lados. Setores republicanos mais conservadores condenaram como irresponsabilidade fiscal e que o pacote apenas adia o momento em que a “conta vai chegar” em relação ao novo coronavírus. A principal voz dessa ala é o senador Ted Cruz, do Texas, presidenciável. Já os democratas dizem que o pacote econômico não vai longe o suficiente, é incompleto e não aborda pessoas mais vulneráveis, como a questão dos aluguéis e possíveis despejos por inadimplência.

Briga por 2024

O motivo de frisar que Ted Cruz é um presidenciável é que não é possível tirar os olhos de questões partidárias nesse momento. Pacotes econômicos são importantes e necessários, como será visto mais adiante, só que os EUA estão em ano eleitoral. Isso leva, primeiro, ao conflito entre os dois partidos, cada um tentando apontar o dedo para o outro. Não existirá pacote republicano perfeito para os democratas, e vice-versa. Além disso, embora os dois candidatos estejam definidos, existem as lutas intrapartidárias.

Trump nunca foi uma unanimidade para os republicanos e, além disso, a briga pela candidatura republicana de 2024 começará no minuto que as urnas de 2020 forem fechadas. Um republicano populista, como Mike Pence ou Mike Pompeo, para ser um autêntico sucessor de Trump? Um de perfil conservador mais discreto, como Cruz ou Nikki Haley? Um jovem mais reformista, como Marco Rubio ou Josh Hawley? Um representante de famílias tradicionais do partido, como Jeb Bush?

Mesma coisa no lado democrata. Não se trata apenas de derrotar Trump, mas de unir um partido extremamente fragmentado. Foram 25 campanhas nas primárias democratas, fora os nomes que anunciaram candidatura mas desistiram antes da campanha. Desde um jovem como Pete Buttigieg, passando pelo ex-republicano bilionário Michael Bloomberg, até Bernie Sanders, o candidato mais de esquerda de toda a trajetória democrata, que na prática é um político independente.

Até chegar, claro, nas lideranças tradicionais do partido, como os Clinton e Joe Biden, que acabou escolhido. E a própria escolha do vice da chapa de Biden está em aberto, um erro colossal nessa altura da campanha. O tema já foi abordado aqui antes e, convenhamos, sem hipocrisia nem desejos agourentos. Joe Biden tem 77 anos de idade. Não é totalmente irreal pensar na relação entre ocupar a presidência da maior economia do mundo, sua saúde e sua idade. Novamente, nada de maligno nesse pensamento.

Pacotes de “cura” ou “heróicos”

Essa briga eleitoral pode ser vista na forma como os pacotes econômicos estão sendo publicizados. O pacote econômico republicano é a Lei de Saúde, Assistência Econômica, Proteção de Responsabilidade e Escolas, na sigla em inglês HEALS Act; “Ato da Cura”, numa tradução livre. Já o pacote econômico anunciado por Biden em campanha, de três trilhões de dólares, é chamado de Lei de Soluções de Emergência Coletiva de Recuperação de Saúde e Economia. Na sigla em inglês, HEROES Act; os “heróis”. Com todo o respeito aos seus criadores e à importância dos pacotes, a dúvida é qual dos dois nomes é mais cafona.

Caso os pacotes, seja qual for o adotado, funcione, ele terá dezenas de pais e mães. Todos conhecem esse filme. Se malograrem ou gerarem problemas, a culpa será do outro. O fato é que, com ou sem nome cafona, as medidas adotadas até aqui pelo governo dos EUA e pelo Federal Reserve contribuíram para amenizar o desemprego nos EUA. Outro fato é que praticamente todos os grandes atores da economia mundial estão anunciando pacotes similares, com mudanças em suas economias e incentivos sociais, desde os mais afetados pela pandemia do novo coronavírus até os menos afetados.

Isso remete ao que é um dos pontos centrais desse espaço. Lembrar que a compreensão do que aconteceu pelo mundo contribui também para pensar nossa sociedade e nosso país. Falar em escolher salvar vidas ou salvar a economia é um falso dilema, pois a economia já está numa crise mundial, fato incontornável. A Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) fala em retração de ao menos 6% do PIB global; nos EUA, de 7%, ao menos. A crise econômica é uma realidade e quase todos os governos do mundo, de diversos espectros políticos, já aceitaram a necessidade de pacotes econômicos.

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