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O ex-presidente Lula
O ex-presidente Lula durante pronunciamento após a decisão de Fachin de anular as ações contra ele na Lava Jato.| Foto: João Damasio/Estadão Conteúdo

Os brasileiros começaram a semana com a notícia de que Lula poderá concorrer à Presidência em 2022. Muitos deles lamentaram profundamente. Outros muitos, no entanto, comemoraram. Alguém dirá que me refiro aos petistas e lulistas. Ledo engano. Tem bastante gente que vestiu camiseta verde e amarela, foi para as ruas contra o PT, aplaudiu o impeachment de Dilma, e agora comemora, ainda que contidamente, a liberação de Lula para se candidatar.

Os Bolsonaro, com certeza, comemoraram. Até meus três cachorros já entenderam que Jair jamais seria presidente de um país que não houvesse tido o PT no governo por mais de uma década. Jair e Lula são quase como um yin e yang. A diferença é que existe um lado luminoso no yin-yang. Os filhos também devem ter feito uma festa, já que as chances de reeleição do papai aumentaram consideravelmente. Não só comemoraram como torcerão por Lula e, quem sabe, apertarão 13 no primeiro turno para garantir que a disputa permaneça em casa.

Teve muita gente comemorando a anulação dos processos contra Lula. Gente demais. Sinal de que estamos mais afundados no poço do mau-caratismo que nunca antes

Os bolsonaristas mais realistas também comemoraram. A maioria deles o fez em silêncio, ou durante o banho, com aquele “Yes!” acompanhado de uma descida do antebraço com a mão fechada em punho. Ninguém viu, mas eles comemoraram mesmo assim. Sabem que seu político do coração se alimenta principalmente da polarização. Em breve poderão, mais felizes que nunca, sair por aí repetindo seu mantra, “senão o PT volta”, agora em versão personalizada, “senão o Lula volta!”.

Os bolsonaristas de fé, aqueles que continuam acreditando que Jair foi enviado por Deus para salvar o Brasil, comemoraram em seu inconsciente, mas ainda não sabem disso. Alguns, depois do baque da notícia e da vontade de sair fazendo passeata contra o STF, sentaram e pensaram que sempre há um lado positivo para as coisas ruins, e o positivo de termos Lula contra o mito é podermos contar de novo com a turma que abandonou o barco. Afinal, ninguém da direita vai votar no Lula, certo?

A turma do Centrão também comemorou. Afinal, o Centrão sempre estará pronto a abraçar quem quer que ocupe a Presidência e que, por meio de muitos esquemas bem conhecidos, despeje o dinheiro público nos bolsos certos. O Centrão tem votos, o Centrão tem em suas mãos o poder de avançar ou bloquear projetos de lei em andamento. O Centrão adora ser Centrão e adora poder vender caro a sua influência. No Brasil pós-Lava Jato, então, vão nadar de braçada em qualquer um dos governos. Aliás, se o Centrão pudesse escolher, montava uma chapa só. Lula presidente e Bolsonaro vice. E versa.

O jornalismo chapa-branca comemorou. Alguns vestiram uma fantasia de indignação, outros foram mais diretos, mas todos comemoraram. Poder usar o medo da volta do PT em textos, colunas, entrevistas, programas, podcasts, lives etc. não tem preço. Para todas as outras coisas existe aquele cartão da propaganda. Antevejo um retorno glorioso aos tempos em que batiam no governo, um requentamento de matérias antigas, aquela tirada de poeira das palavras de ordem que se tornaram tão démodé na atual presidência.

O jornalismo de esquerda comemorou. Eles não precisaram nem disfarçar. Finalmente, poderão solidificar a teoria de que Lula foi injustiçado e Dilma sofreu um golpe. Suas teorias da conspiração ganharam legitimidade pelas palavras de um ministro do Supremo. Que alegria! Poder defender Lula novamente, sem o medo de ser avacalhado. Na verdade, a excitação é ainda maior porque agora a turma do outro lado está do mesmo lado da comemoração. É um verdadeiro bacanal, o carnaval que faltou em 2021.

Pensando bem, teve muita gente comemorando. Gente demais. Sinal de que estamos mais afundados no poço do mau-caratismo que nunca antes. Talvez você não tenha comemorado. Espero que não. Não há nada para se comemorar. Achávamos que a polarização PT-PSDB era ruim. Mas o Brasil é a terra, por excelência, do “nada é tão ruim que não possa piorar”. Ganhamos Lula-Bolsonaro, Bolsonaro-Lula. Como diria Charlie Brown, que puxa.

Conteúdo editado por:Marcio Antonio Campos
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