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Foto: Nelson Almeida/AFP
Foto: Nelson Almeida/AFP| Foto:

Embora esteja no mesmo nível de intenções de voto que os nanicos que mencionei na semana passada, Amoêdo não é um candidato qualquer. Na verdade, ele é o melhor candidato entre todos os registrados para a eleição de 2018. Na verdade mesmo, ele me parece ser o melhor candidato a presidente desde que o Brasil se tornou uma república, e digo isto mesmo tendo criticado o Partido Novo em diversas oportunidades.

Antes de mais nada, quero registrar minha discordância com a opção que Amoêdo fez ao criar o Novo. Em um ambiente culturalmente dominado pela esquerda como o Brasil das últimas cinco décadas, eu creio que ele teria conseguido influenciar o país com muito mais eficiência se tivesse se empenhado em criar uma força midiática de direita, aquela organização ainda utópica a que muita gente costuma se referir como “a Fox News brasileira”. Entretanto, o dinheiro e o tempo eram dele, e ele optou pela ação política direta, o que não deixa de ser uma ação louvável e com bons frutos. Minhas críticas ao Novo sempre envolveram a postura do partido em relação a um tema dos mais caros aos conservadores, o aborto. Eu tenho convicção de que o partido teria muito mais a ganhar do que a perder se adotasse uma postura firme contra o aborto pois, juntamente com o desarmamento, foram os temas que mais movimentaram a opinião pública neste ano de eleição.

Mas voltemos ao candidato em si. Amoêdo tem uma história que qualquer pessoa de bem se orgulharia de ter: homem de família, pai de três filhas e ainda casado com a mãe delas, profissional extremamente bem sucedido, esportista, vencedor na batalha contra um câncer e  multimilionário – difícil arrumar alguém mais bem qualificado para presidir o país. Amoêdo se diz, como ele mesmo declarou em entrevista no Roda Viva, um liberal na economia e um conservador nos costumes.

Suas propostas de governo são, de longe, as melhores que já vi desde que acompanho a política brasileira: equilibrar as contas públicas, desburocratizar a abertura de empresas e a contratação de funcionários, privatizar todas as estatais, priorizar a educação básica, implementar sistema de bolsas em escolas particulares para alunos do ensino público, integrar as polícias e criar plano de carreira para todos os policiais, reformar a lei penal, criar e ampliar PPPs para gerir hospitais e investir em programas de prevenção e saúde familiar, melhorar o Bolsa Família e criar portas de saída em todos os programas sociais, acabar com o Fundo Partidário, reduzir deputados e senadores em um terço do número atual, acabar com o voto obrigatório e instituir o voto distrital misto, definir metas de trabalho para os funcionários públicos, reduzir o número de ministérios para 12, indexar salários públicos aos privados, acabar com mordomias nos três poderes, acabar com regime previdenciário especial para políticos, reformar a Previdência, acabar com os lixões em todo o país, reduzir barreiras ao comércio internacional, negociar acordos comerciais com as maiores economias do globo, eliminar as exigências nacionalistas para atrair capital produtivo estrangeiro, entre muitas outras.

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O plano de Amoêdo seria perfeito, não fossem alguns fatores. Em primeiro lugar, seu partido ainda é minúsculo e sem capilaridade nenhuma em nível nacional. Isso quer dizer que, além de não ter tempo de televisão, ele também não terá milhares de prefeitos e vereadores espalhados por todo o Brasil, fazendo campanha para o candidato à Presidência e levando seu nome e número a uma parcela da população que certamente fará diferença (PT, MDB e PSDB levam grande vantagem sobre todos os outros nesse quesito). Em segundo lugar, Amoêdo não é um mestre da comunicação. Os Estados Unidos elegeram um empresário bem sucedido, mas Donald Trump é um dos maiores comunicadores que já vi. Amoêdo é um homem de negócios, fala como um homem de negócios e faz campanha como um homem de negócios. O terceiro fator diz respeito à concorrência ideológica, onde ele disputa com Jair Bolsonaro o voto de direita. Jair, político há mais de 30 anos, tem uma militância e um eleitorado consolidados, gente que não está disposta a experimentar alguém novo demais em um momento tão delicado da história nacional, em que o fantasma do desgoverno petista ainda ronda o país.

Por último, Amoêdo é rico demais. Pode parecer que estou fazendo piada, mas o brasileiro médio não sabe lidar bem com a riqueza alheia, especialmente quando ela é lícita e abertamente declarada. Nossa sociedade não premia a virtude e o sucesso, e nem sequer os admira. Costumo dizer que essa é uma das maiores diferenças entre Brasil e Estados Unidos. Aqui, as pessoas torcem para que você enriqueça, pois quanto mais gente rica, mais riqueza para todo mundo. No Brasil, as pessoas torcem para que você se dê mal, porque o sentimento que impera é a inveja. Ainda que estivesse em pé de igualdade com os outros candidatos em todas as áreas que mencionei, João Amoêdo seria vítima da inveja de um povo acostumado à pobreza e à mediocridade.

Enfim, como se usa muito no meio empresarial, a maior evidência de que sua opinião é positiva a respeito de algo está na resposta àquela pergunta clássica das pesquisas de satisfação: você recomendaria a um amigo? Sim, eu recomendaria Amoêdo.

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