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Desde 1979, o Irã, sob uma teocracia xiita totalitária, rejeita valores como liberdade religiosa, democracia e direitos individuais, implementando uma visão político-religiosa que ameaça Israel e nações árabes como Jordânia, Arábia Saudita e Iraque. O regime apoia grupos terroristas como Hezbollah e Hamas, desestabiliza o Oriente Médio por meio de guerras por procuração na Síria, no Líbano e no Iêmen, e seu programa nuclear, conduzido com pouca transparência e resistência à supervisão internacional, e é uma ameaça à existência de Israel, especialmente se o Irã conseguir armas nucleares.
A “Guerra dos Doze Dias” de Israel contra o Irã, iniciada na madrugada de 13 de junho de 2025, foi uma operação militar precisa e eficaz das Forças de Defesa de Israel (IDF), que resultou na neutralização do alto comando da Guarda Revolucionária, no aniquilamento de centenas de combatentes e cientistas, e na destruição das principais instalações nucleares do país, inviabilizando seu avanço atômico. Além disso, as IDF conseguiram desestruturar mais da metade da capacidade antiaérea iraniana e infligir danos severos às suas bases militares, aeronaves e helicópteros remanescentes e sistemas de lançamento de mísseis. Esses 12 dias, que evocam a Operação Foco das IDF em junho de 1967 – marcada pela destruição preventiva da Força Aérea Egípcia –, entrarão para a história como uma das maiores vitórias militares de Israel.
Nesse contexto, a Operação Martelo da Meia-Noite, lançada em 21 de junho de 2025, representou uma ação militar sem precedentes dos Estados Unidos contra o Irã. Foi a primeira vez que os Estados Unidos atacaram diretamente instalações nucleares iranianas, marcando uma escalada decisiva após o colapso das negociações diplomáticas entre os dois países – um esforço fracassado de contenção multilateral do programa nuclear iraniano. A ofensiva combinou alta precisão e poder destrutivo: sete bombardeiros furtivos Northrop Grumman B-2 Spirit lançaram bombas antibunker GBU-57A/B, enquanto mísseis de cruzeiro BGM-109 Tomahawk foram disparados do submarino USS Georgia, posicionado em local não revelado, provavelmente no Mar da Arábia ou no Golfo de Omã. As instalações nucleares de Fordow, Natanz e Isfahan foram atingidas com sucesso. A operação sinalizou uma nova postura dos EUA, atacando preventivamente, mesmo diante do risco de desestabilização regional e repercussões globais.
A Escritura ensina que os líderes têm o dever de proteger sua nação, e a ação militar, quando necessária, é um instrumento legítimo para conter ou destruir o mal
Para o teólogo batista Albert Mohler, o ataque representa uma “mudança fundamental” na política externa dos Estados Unidos, sinalizando que o mundo entrou em um “território desconhecido”. Para Mohler, esse momento levanta questões cruciais sobre moralidade, autoridade e o papel da fé em tempos de crise. Segundo ele, para os cristãos, os acontecimentos não devem ser vistos apenas como eventos políticos, mas também como desafios espirituais. Por isso, exigem uma análise fundamentada nas Escrituras e uma renovada confiança na soberania de Deus. Partindo das ideias de Mohler, examinarei a justificativa dos ataques, sua relação com a teoria da guerra justa e a importância da oração em tempos de incerteza.
Perigo real e imediato
O contexto do ataque americano foram os continuados alertas sobre o programa nuclear do Irã, que representava uma ameaça iminente: “Por quase qualquer medida, o ato foi justificado pelo perigo real e imediato representado pelo programa nuclear rebelde do Irã”. Essa ameaça culminou em ataques aéreos e navais dos Estados Unidos contra instalações estratégicas do Irã, no contexto da Operação Leão Ascendente, das IDF: “Os riscos foram enormes, mas o perigo era claro”.
Do ponto de vista cristão, a segurança de uma nação é uma responsabilidade dada por Deus aos governantes, que são “a autoridade [que] traz a espada; [...] ministro de Deus, vingador, para castigar quem pratica o mal” (Rm 13,4). E o programa nuclear iraniano, que operava sob supervisão insuficiente para garantir a plena confiança da comunidade internacional, constituía um perigo real e imediato claro, justificando uma resposta militar decisiva. A Escritura ensina que os líderes têm o dever de proteger sua nação, e a ação militar, quando necessária, é um instrumento legítimo para conter ou destruir o mal.
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No entanto, também precisamos reconhecer que esses ataques poderiam levar a um “conflito mais amplo que pode sair do controle”, como destaca Mohler. Essa advertência lembra que a guerra, mesmo quando justificada, pode trazer consequências imprevisíveis, como o escalonamento do conflito ou sua globalização. Assim, enquanto a ação militar pode ser necessária, a confiança última do cristão deve estar no cuidado e soberania do Deus criador, não nas ações humanas.
Autoridade constitucional
Mohler aborda a legitimidade da ação do presidente Donald Trump, que agiu “de forma decisiva”, dentro de sua autoridade como Comandante em Chefe das Forças Armadas dos Estados Unidos. A Constituição dos Estados Unidos confere ao presidente a capacidade de agir rapidamente em situações de perigo real e imediato, quando o Congresso não pode responder com rapidez. Assim, a ação de Trump foi constitucional, alinhando-se com a responsabilidade de um líder eleito de proteger a nação que ele governa. No entanto, Mohler menciona que há “dimensões morais, políticas e até teológicas” no ataque ao Irã; assim, a análise da Operação Martelo da Meia-Noite não pode ser apenas jurídica, mas deve considerar os princípios éticos cristãos.
A justificativa moral dos ataques ao Irã
Mohler argumenta que o ataque ao Irã foi justificado, afirmando que o “perigo real e imediato” do programa nuclear iraniano tornou a ação necessária. Do ponto de vista cristão, a moralidade da guerra é avaliada pela teoria da guerra justa, uma tradição desenvolvida por teólogos cristãos como Agostinho de Hipona, Tomás de Aquino e Bento XVI.
A ética cristã reconhece a guerra como um mal necessário em um mundo caído, mas exige que ela seja conduzida com justiça e moderação
Mohler detalha os critérios dessa teoria, demonstrando que a Operação Martelo da Meia-Noite foi conduzida com base em princípios claros que justificaram sua execução. Primeiramente, seu caráter era defensivo, visando proteger a nação, o Ocidente e Israel contra uma ameaça nuclear iminente, e não iniciar uma guerra de conquista. Em segundo lugar, a ação possuía autorização legal, sendo considerada constitucional, conforme abordado acima. Em terceiro, a proporcionalidade foi respeitada, com ataques direcionados a instalações nucleares específicas, como Fordow, evitando alvos civis para minimizar danos colaterais. Em quarto, os alvos eram estritamente militares, com precisão nos ataques a infraestruturas estratégicas, conforme indicado em relatos da operação. Em quinto, a operação foi um último recurso, executada após repetidos alertas sobre o programa nuclear iraniano e o esgotamento de opções diplomáticas. Por fim, o objetivo maior era promover uma “paz estável” na região, não a destruição do adversário. Esses princípios refletem um esforço para equilibrar segurança, legalidade e ética em uma ação militar de alta complexidade, destacando a intenção de neutralizar uma ameaça sem escalar o conflito para além do necessário, em busca de estabilidade duradoura.
Esses critérios alinham-se com a ética cristã, que reconhece a guerra como um mal necessário em um mundo caído, mas exige que ela seja conduzida com justiça e moderação. A partir do ensino da Escritura, o cristão entende que a paz é o objetivo final, mesmo quando a guerra é inevitável.
Implicações teológicas e espirituais
Mohler destaca as “dimensões teológicas” dos ataques, um ponto crucial para a perspectiva cristã. A Escritura ensina que todas as ações humanas ocorrem sob a soberania de Deus. Os eventos da guerra no Irã, embora conduzidos por seres humanos, estão sob o controle divino. Isso não isenta as autoridades governamentais de responsabilidade moral, mas oferece ao cristão a certeza de que Deus está operando, mesmo em meio ao caos.
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Além disso, a menção ao perigo real e imediato ecoa a visão cristã de que o mal deve ser confrontado. O programa nuclear iraniano, destinado a propósitos hostis, representava uma ameaça não apenas a Israel, mas à ordem global. Para o cristão, enfrentar ameaças catastróficas à humanidade é uma forma concreta de responder ao chamado para resistir ao mal. Como bem resume a célebre frase atribuída a Edmund Burke: “Tudo o que é necessário para o triunfo do mal é que os homens bons não façam nada”.
Mas Mohler conclui com uma nota de incerteza – “Onde isso vai terminar? Honestamente, não sabemos” – e um chamado à oração por um “sucesso verificado”. Esse apelo reflete a humildade cristã diante de eventos globais complexos. Por isso a Escritura instrui os crentes a orar “por todos os que estão em autoridade, para que tenhamos uma vida tranquila e pacífica” (1Tm 2,1-2). A oração é a arma espiritual do cristão, especialmente em tempos de crise.
Os Estados Unidos e Israel agiram “sozinhos até agora”. Que os líderes destas nações encontrem “sabedoria que desce lá do alto” (Tg 3,15) para evitar uma escalada descontrolada do conflito no Oriente Médio. No entanto, para o cristão, a esperança não está nos militares, em equipamentos de última geração ou nas estratégias humanas, mas no Deus criador, que promete guiar e sustentar seus filhos. Os cristãos confiam que a vontade do único Deus prevalecerá, mesmo em meio a conflitos militares e violência.
Para o cristão, enfrentar ameaças catastróficas à humanidade é uma forma concreta de responder ao chamado para resistir ao mal
Vivendo a fé em tempos de crise
As reflexões de Albert Mohler oferecem uma perspectiva cristã para pensar sobre a ação militar dos Estados Unidos contra o Irã. A Escritura justifica ações militares defensivas contra ameaças claras, mas exige que elas sejam conduzidas com justiça e moderação. A liderança decisiva, a autoridade constitucional e a teoria da guerra justa fornecem um arcabouço ético para avaliar esses eventos. No entanto, a incerteza do futuro e as dimensões teológicas nos lembram que a confiança última do cristão está no único Deus, o Senhor. Que os cristãos respondam a esses desafios com oração, discernimento e fidelidade, vivendo para a glória de Deus e confiando que sua verdade prevalecerá. Que essa seja nossa postura em um mundo de cada vez mais incertezas e temores.
Oremos, de acordo com o Livro de Oração Comum: “Pai Todo-poderoso, é da tua vontade que todos os povos vivam em unidade e harmonia; bendizemos o teu santo nome pelo fim desta guerra e pelo dom da paz e da concórdia. Dá a todas as nações a graça de respeitarem os teus mandamentos e de viverem juntas em paz, justiça e liberdade. Mediante Jesus Cristo, nosso Senhor. Amém”.
Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos




