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Franklin Ferreira

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Judiciário

O Tribunal do Espantalho

tribunal do espantalho
O Espantalho (interpretado por Cillian Murphy) comanda um tribunal de exceção em "Batman: o Cavaleiro das Trevas ressurge". (Foto: Divulgação)

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Em tempos de crise, a justiça, que deveria ser um pilar de estabilidade, pode se tornar um instrumento de opressão. No filme Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge, o Tribunal do Espantalho simboliza a perversão do ideal de justiça, transformada em um espetáculo de vingança. Esse cenário fictício encontra ecos históricos nos tribunais soviéticos da era de Stalin, onde julgamentos encenados serviam à consolidação do poder através do medo. No Brasil contemporâneo, práticas como lawfare, ativismo judicial e censura política criam um terrível ambiente de insegurança, com os cidadãos temendo expressar suas convicções políticas e até religiosas.

O Tribunal do Espantalho

No filme Batman: O Cavaleiro das Trevas Ressurge (2012), dirigido por Christopher Nolan, uma das sequências mais impactantes e simbolicamente tenebrosas é o grotesco Tribunal do Espantalho. Após Gotham sucumbir ao domínio de Bane, o temido vilão oriundo da prisão brutal conhecida como “The Pit”, situada em alguma região inóspita do Oriente Médio, emerge um novo regime de terror travestido de justiça popular. No centro desse sistema está o dr. Jonathan Crane, o Espantalho, que assume o papel de juiz em um tribunal de exceção, onde a paródia da legalidade serve apenas para mascarar o caos e a violência.

Essa corte improvisada e sombria julga, de forma sumária e arbitrária, membros da elite de Gotham, que são condenados sem direito a defesa real. As sentenças, invariavelmente morte ou “exílio” (um destino igualmente fatal), são pré-estabelecidas, e os julgamentos, desprovidos de qualquer resquício de imparcialidade, funcionam mais como espetáculos públicos de humilhação e punição do que como busca por justiça. A multidão, envenenada por anos de desigualdade, e inflamada pela retórica revolucionária de Bane, aplaude com fervor, legitimando o linchamento moral e físico dos condenados.

O tribunal simboliza a perversão máxima da justiça: uma forma de vingança coletiva disfarçada de revolução social. A figura de Crane, com seu cinismo gélido e sua autoridade performática, não representa a razão ou a lei, mas sim o colapso de ambas. Ele é o executor de uma ordem onde o medo substitui a razão e a punição se impõe como espetáculo de poder. A cena funciona como uma crítica mordaz a regimes revolucionários que, ao prometerem libertação, acabam por instaurar novas formas de tirania. Nesse microcosmo distorcido, a justiça deixa de ser um ideal ético e passa a ser um mecanismo de controle, moldado por ressentimento, vingança e manipulação midiática.

O Tribunal do Espantalho simboliza a perversão do ideal de justiça, transformada em um espetáculo de vingança

Os tribunais soviéticos na era de Stalin

A imagem do Tribunal do Espantalho encontra ecos perturbadores na história real, especialmente nos tribunais soviéticos sob o regime de Joseph Stalin, notadamente durante os julgamentos de Moscou, ocorridos entre 1936 e 1938. Esses processos, realizados no auge do Grande Expurgo, foram cuidadosamente coreografados como espetáculos públicos de condenação, com o objetivo de eliminar opositores políticos, intelectuais dissidentes e até mesmo antigos aliados do próprio Partido Comunista. Os acusados, frequentemente rotulados como traidores ou “inimigos do povo”, eram submetidos a julgamentos farsescos, onde confissões eram arrancadas mediante tortura, coerção psicológica ou ameaças direcionadas às suas famílias. Estima-se que entre 600 mil e 1,2 milhão de pessoas foram executadas ou morreram em campos de trabalho forçado, os gulags, durante o período.

Longe de buscar justiça, esses julgamentos serviam à propaganda estatal comunista. Ao exibir publicamente a “culpa” dos réus, o regime reforçava a narrativa paranoica de que estava cercado por sabotadores e conspiradores, legitimando a repressão como uma necessidade de segurança nacional. Assim como no tribunal distorcido comandado por Crane, os vereditos sob Stalin eram definidos de antemão, e a população, embriagada pela retórica oficial e manipulada pela mídia, aplaudia as condenações com um fervor forjado no medo e na desinformação. A justiça, transformada em instrumento de espetáculo, operava não para esclarecer, mas para intimidar e subjugar. A justiça também foi usada para fins revolucionários na Alemanha nacional-socialista, na China comunista e na Cuba socialista.

O paralelismo entre essas instâncias – uma fictícia, outra histórica – reside na instrumentalização do Judiciário como ferramenta de dominação política. Em ambos os casos, a ideia de justiça é pervertida e transformada em fachada, uma ilusão de legalidade que esconde a violência institucionalizada. A retórica de “defesa do povo” serve apenas para mascarar o verdadeiro objetivo: consolidar o poder absoluto por meio do medo, da perseguição e da supressão sistemática da dissidência.

O ativismo judicial e a perseguição política no Brasil

No Brasil, práticas como o lawfare, que é o uso estratégico do sistema judicial para fins políticos, e o ativismo judicial têm provocado uma crescente desconfiança da população nas instituições. Quando magistrados extrapolam suas atribuições, interpretando leis de forma seletiva ou criando normas sem respaldo legal, o Judiciário deixa de ser um pilar de justiça e passa a funcionar como instrumento de poder. Esse cenário se agrava com a censura institucionalizada, apresentada como combate à desinformação, mas que, na prática, silencia vozes dissidentes e restringe a liberdade de expressão. Jornalistas, cidadãos e lideranças políticas que contestam o discurso dominante enfrentam processos, multas, bloqueios e perseguições, gerando um ambiente de intimidação constante.

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O Supremo Tribunal Federal (STF), instância máxima do Judiciário, tem adotado medidas que violam garantias constitucionais, como autorizar prisões sem o devido processo legal e impor decisões marcadamente arbitrárias. A corte também impôs censura prévia a conteúdos digitais, desconsiderando o princípio da liberdade de expressão, e interferiu em atribuições do Congresso Nacional, assumindo competências legislativas e reforçando a percepção de abuso de poder. Recentemente, ministros do STF ironizaram a sociedade brasileira, chamando-a de “213 milhões de pequenos tiranos”, zombaram da necessidade de emendas parlamentares até mesmo “no céu”, e um deles chorou ao ler voto que responsabilizou plataformas digitais pelos conteúdos de seus usuários. Esses gestos acentuam a imagem de uma corte distante da sobriedade institucional e envolvida em disputas político-ideológicas.

As ações do STF ecoam os tribunais de exceção vistos tanto na ficção (como o de Gotham City em Batman: o Cavaleiro das Trevas ressurge) quanto na história real, como nos julgamentos sob o regime de Stalin, em que a justiça servia mais para legitimar perseguições do que para proteger direitos. No Brasil, decisões judiciais que atendem a interesses partidários e ideológicos, em detrimento dos princípios constitucionais, reforçam a percepção de parcialidade e abuso de poder. A manipulação da opinião pública, tanto por veículos de comunicação tradicionais quanto por narrativas criadas nas redes sociais, intensifica a tensão política e amplia o sentimento de injustiça.

O resultado é um ambiente de medo generalizado. Há presos políticos com liberdades cerceadas por acusações controversas, exilados forçados a deixar o país sob ameaça, contas bancárias e perfis digitais bloqueados sem explicações consistentes. A perseguição implacável a vozes dissidentes e a censura persistente sufocam o debate público, corroendo os pilares democráticos e substituindo o diálogo pela intimidação, e a representação política pela arbitrariedade judiciária.

Triunfando sobre o medo

Diante de um cenário de opressão, censura e injustiça, como podem os cidadãos brasileiros encontrar esperança e resiliência? Somente a fé no Senhor Jesus oferece respostas para vivermos em tempos de adversidade e desesperança.

As ações do STF ecoam os tribunais de exceção vistos tanto na ficção (como em “Batman: o Cavaleiro das Trevas ressurge”) quanto na história real, como nos julgamentos sob o regime de Stalin

A Escritura ensina que Deus é soberano sobre todas as circunstâncias, inclusive sobre os sistemas humanos marcados pelo erro e injustiça. Em meio à opressão e à impunidade, os cristãos são chamados a confiar no controle do Deus criador e a esperar pela revelação de sua justiça no tempo certo, o Dia do Senhor. Essa confiança é uma âncora que sustenta o fiel e expulsa o desespero. A fé também requer coragem para defender a verdade, mesmo sob risco. Daniel e Pedro enfrentaram perseguições por sua fidelidade, e hoje os cristãos são igualmente convocados a testemunhar com sabedoria, firmeza e amor, resistindo à tentação do silêncio motivado pelo medo.

Nesse contexto, a igreja se torna um refúgio vital em tempos de crise. A Escritura orienta os crentes a manterem a comunhão, sobretudo em dias difíceis (Hb 10,24-25), e uma igreja saudável pode oferecer suporte emocional, espiritual e material aos que enfrentam provações. A oração, por sua vez, é uma arma poderosa contra a opressão. A Bíblia ordena que os cristãos orem por todas as autoridades, confiando que Deus pode transformar corações e circunstâncias (1Tm 2,1-2). Em um ambiente de desconfiança, viver com retidão é um testemunho poderoso. O Senhor Jesus chama os cristãos a brilharem como luzes no mundo. Atos de bondade, honestidade e amor ao próximo podem desarmar a hostilidade e inspirar mudanças. Por fim, a fé cristã transcende as batalhas deste mundo. Jesus advertiu que seus seguidores enfrentariam tribulações, mas também assegurou sua vitória final sobre o mal. Essa esperança escatológica, a fé no retorno triunfante do Messias Jesus e na restauração de todas as coisas, fortalece os fiéis a perseverarem, conscientes de que sua verdadeira cidadania está nos céus (Fp 3,20).

Por fim, na Escritura o Deus de Israel adverte severamente os juízes corruptos e injustos. O Criador confronta tais juízes que se acham “deuses” (Sl 82,2-7), garantindo que, por sua corrupção, perderão sua autoridade e morrerão como homens comuns. A Escritura ensina que haverá punição divina aos que decretam leis injustas e oprimem os pobres (Is 10,1-2). Juízes que aceitam subornos enfrentarão destruição, e suas cidades serão arrasadas (Mq 3,9-12). Os poderosos que acumulam riquezas injustas são denunciados, com promessa de miséria (Tg 5,1-6). O único Deus julgará todos, inclusive os juízes injustos (Ec 3,17). A corrupção judicial pode levar ao colapso de uma nação (Pv 29,4). O Deus santo e reto exige justiça, e sua violação acarreta consequências espirituais e terrenas.

Deus é nossa justiça

O Tribunal do Espantalho, os julgamentos stalinistas e as recentes decisões judiciais no Brasil revelam a distorção da justiça por interesses políticos e ideológicos, espalhando medo e opressão. Porém, os cristãos respondem com confiança em Deus, que tem a história em suas mãos, que sustenta seu povo até que venha sua justiça perfeita, no Dia do Senhor, um dia de vindicação e acerto de contas definitivo. Oremos, portanto, com a Escritura Sagrada: “Cantem ao Senhor um cântico novo, porque ele tem feito maravilhas; a sua mão direita e o seu braço santo lhe alcançaram a vitória. O Senhor fez notória a sua salvação; manifestou a sua justiça diante dos olhos das nações. [...] Porque ele vem julgar a terra; julgará o mundo com justiça e os povos, com retidão” (Sl 98,1-2.9).

Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos

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