Estátua do ditador soviético Josef Stalin, num parque de Druskininkai, Lituânia.| Foto: Bigstock
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As ciências sociais não têm a precisão das ciências da natureza, porquanto suas leis e teorias não apresentam estabilidade e regularidade no tempo e no espaço. O método científico tem como sequência: observar um fato concreto; fazer uma pergunta sobre o fato; formular uma hipótese em resposta; realizar experimentos válidos e controlados para testar a hipótese; elaborar uma tese conclusiva; descrever as leis sobre o objeto, sua forma e funcionamento.

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O conhecimento é sempre incompleto e provisório, e deve ser objeto de contestação e novas investigações, sobretudo porque não há ciência sem o confronto de hipóteses. Duas figuras são essenciais no processo de investigação: o observador e o objeto observado. As ciências da natureza são menos mutáveis porque seus objetos seguem leis naturais com repetição fixa por um tempo ou por todo o tempo. Já as ciências humanas são mais mutáveis, pois o agente delas é o ser humano, cujas ações mudam com frequência.

Se os humanos fossem extintos, afora os eventos naturais que mudam quando há intervenção humana, os demais eventos da natureza continuariam se repetindo regularmente. Com os fatos da vida social é diferente. A Sociologia, por exemplo, como ciência que busca dar explicação científica para os fatos sociais, tem sua maior dificuldade na irregularidade permanente das ações humanas.

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É normal, nas ciências sociais, haver dificuldades específicas para a investigação e elaboração de leis e teorias. Cito o exemplo do poder, como um fato social, suas origens e consequências. De forma simplificada, poder é a capacidade que alguém tem de determinar a ação dos outros e impor punição em caso de desobediência. Entendê-lo não é tarefa fácil.

Tomo o caso de Josef Stálin, que conseguiu se manter 30 anos no poder, de 1924 a 1953, como líder totalitário do maior império de todos os tempos, o império soviético, e somente saiu porque morreu. Na personalidade de Stálin, destacava-se um aspecto que ajuda a explicar sua trajetória e a entender certa faceta do poder.

Em meus 14 anos, presenciei um episódio na escola, que somente vim a entender bem mais tarde, depois de muito estudo. Em meu colégio, havia um trio de alunos grandes e briguentos que agiam juntos, batiam nos mais fracos e espalhavam medo. Certo aluno tímido e frágil era vítima recorrente dos valentões. A reclamação chegou aos pais dos agressores, mas nada mudou. O pai do aluno que apanhava resolveu o problema a sua maneira.

O tal pai contratou dois seguranças grandalhões, deu-lhes uniforme imitando policial e os mandou levarem seu filho à escola. Lá chegando, os seguranças pararam na frente do trio de valentões e deram o seguinte recado: “Se vocês agredirem este menino, nós vamos lhes dar uma surra e quebrar seus braços”. Foi o suficiente para o trio de briguentos nunca mais agredir o colega frágil.

O conhecimento é sempre incompleto e provisório, e deve ser objeto de contestação e novas investigações, sobretudo porque não há ciência sem o confronto de hipóteses

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Lembrei desse episódio quando li que Stálin dizia que a maior emoção do ser humano é o medo, e ele sabia como espalhar o medo e controlar a população. A ditadura stalinista se baseou na gestão do medo e do terror. Durante seu governo, ele controlava tudo e a todos por meio de prisões, tortura e assassinatos. Stálin exterminava cruelmente inclusive assessores diretos e famílias inteiras.

Nós temos medo da doença, medo da morte, medo de perder o emprego, medo da violência e por aí vai. Após Mao Tsé-Tung haver colocado na prisão milhões de pessoas e mandado executar outros tantos, um assessor disse ao líder chinês: “Senhor, é preciso ouvir o povo, o poder emana do povo”. Mao respondeu: “Você não entendeu! Aqui, o poder emana da boca do fuzil”.

Em todas as ditaduras, a prisão, a tortura e o assassinato de quem desobedece é a norma. “Fuzilamos e seguiremos fuzilando enquanto for necessário. Nossa luta é uma luta até a morte”, disse Che Guevara, em discurso na Assembleia Geral da ONU no dia 11 de dezembro de 1964. Nesse tipo de poder, a obediência vem do medo e do pânico que a população sente diante da tortura e do extermínio que os ditadores exercem regularmente.

Há outras fontes do poder, que não vou explorar neste texto, a exemplo do poder intelectual, pelo qual uma ideia recebe adesão a seu favor e leva as pessoas a desejarem executá-la, ou o poder do dinheiro, pelo qual alguém consegue que algo seja feito mediante pagamento. Os empregados de uma empresa obedecem aos comandos porque são pagos para isso, a rigor não importando se acreditam ou não na decisão tomada por quem os paga.

Stálin anteviu que espalhar o terror por meio do extermínio de milhões de pessoas, gente de seu próprio povo, e executar impiedosamente até mesmos aliados e amigos próximos eram atos capazes de torná-lo obedecido e temido. A cultura do medo se revelou eficiente arma de dominação política e controle social, isto é, uma verdadeira ideologia.

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Ditadores à direita e à esquerda seguiram, e seguem, a cartilha stalinista, com algumas variações, porém, preservando sua essência. Transposta para as organizações empresariais, a ideologia do medo está presente e é prática mais comum do que se imagina. Antony Jay escreveu um livro, em 1968, intitulado Maquiavel e a Gerência das Empresas, no qual ele diz que as empresas são como estados em miniatura e têm os mesmos vícios, como alianças, traições, boicotes, punições e injustiças.

Em momentos de pandemias e de guerras, o medo se exacerba, as tragédias pessoais e familiares aumentam e os líderes maquiavélicos aproveitam o aumento do medo para impor suas vontades ao povo (ou empregados) e manter-se no poder.