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Automatização permite aumentar a produção sem correspondente aumento em empregos.
Automatização permite aumentar a produção sem correspondente aumento em empregos.| Foto: Michal Jarmoluk/Pixabay

Tem sido moda falar-se em empreendedorismo, educação para desenvolver o espírito de iniciativa, preparo profissional para não depender de emprego assalariado, fim do emprego para a vida toda... enfim, temas de um mundo que passou da era em que prevalecia a carteira profissional, a carreira na mesma empresa e direitos trabalhistas para um tempo de instabilidade, empregos de curta duração, redução dos direitos trabalhistas e até mesmo o fim do emprego tal qual o conhecemos nos últimos dois séculos.

Em 1996, o economista Jeremy Rifkin escreveu o livro O Fim dos Empregos, no qual ele afirma que o desemprego tecnológico era a maior ameaça que a sociedade contemporânea iria enfrentar nas décadas seguintes. Rifkin apresentava evidências de sua afirmação e insistia na necessidade de uma espécie de união internacional para buscar formas de atacar o problema. Isso foi há 24 anos.

Segundo a corrente de pensamento de Jeremy Rifkin, a revolução tecnológica, a fabricação de produtos em alta escala, o acirramento da concorrência e a ebulição no mundo dos negócios levariam à instabilidade das empresas, aumento na taxa de mortalidade empresarial e, portanto, o emprego único para a vida toda deixaria de existir.

A disrupção tecnológica, a inteligência artificial e os robôs cognitivos possibilitam aumentar as quantidades produzidas sem aumento proporcional no número de empregos

Para muitos, o livro era pessimista e exagerado. Porém, não mais que dez anos depois Rifkin começou a ter razão, situação que foi agravada pela explosão populacional. Há 190 anos, o mundo atingiu 1 bilhão de habitantes, chegou a 3 bilhões em 1960 e, neste início de terceira década do século 21, está se aproximando dos 8 bilhões, o que exige aumento de produção para atender a tanta gente.

Ocorre que a atual revolução tecnológica permite aumentar a produção sem gente. Isto é, a disrupção tecnológica, a inteligência artificial e os robôs cognitivos possibilitam aumentar as quantidades produzidas sem aumento proporcional no número de empregos. Ao lado da pobreza, o desemprego é o maior perigo que o mundo enfrentará daqui para a frente.

Quanto ao empreendedorismo, vale lembrar que no passado praticamente todo mundo era empreendedor. O agricultor, o alfaiate, o sapateiro, o vendeiro, o pequeno comerciante, o médico, o advogado, o encanador, o eletricista, o consertador de relógios, o carpinteiro, o barbeiro, esses eram os trabalhadores antes do surgimento da empresa moderna a partir da Revolução Industrial. Desses, quase ninguém era empregado assalariado.

Foi o advento da fábrica, a divisão do trabalho e a produção industrial em série que levaram à proliferação do trabalho assalariado. Assim, cabe a pergunta: será que o mundo não está voltando a suas condições de 200 ou 300 anos atrás? Antes da empresa atual, o empreendedorismo e os riscos corridos pelo trabalhador eram a regra. O emprego com salário fixo era a exceção.

Há alguns anos, fui a um evento de uma indústria. Diretores no palco, empregados na plateia, discursos bonitos, elogios à dedicação e lealdade dos trabalhadores, juramentos de fidelidade à organização e as duas frases clássicas do mundo empresarial: “aqui, somos uma grande família” e “nosso maior valor é nosso capital humano”.

Uma família, diante de crise, não demite o filho; divide o bife

A pandemia veio, castigou aquela empresa e, no primeiro semestre de 2020, as demissões foram rápidas e radicais. Claro, a empresa precisava sobreviver. Porém, há várias formas de fazer a mesma coisa. Não houve perguntas nem consideração quanto à situação de cada trabalhador, nada, apenas um comunicado lacônico por via eletrônica.

Essa empresa tivera sucesso nos anos anteriores, era capitalizada, sem dívidas e com planos de expansão. Mas ela nem sequer ofereceu ajuda para recolocar seu pessoal demitido. Insisto: medidas duras eram necessárias, mas o condenável é a farsa dessa história de que “aqui somos uma família”, sobretudo porque ela podia fazer os ajustes dividindo os sacrifícios e com menos dor aos empregados.

Uma família, diante de crise, não demite o filho; divide o bife. Uma empresa é uma instituição social, que vai além dos interesses pessoais de seus donos. Uma empresa não pode ser julgada apenas por seus resultados financeiros, mas também por suas consequências sobre as pessoas, o meio ambiente e o futuro. Em próximo texto, falarei sobre o impacto desse cenário sobre a eficiência e a lealdade do empregado.

Conteúdo editado por:Marcio Antonio Campos
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