Militantes do Talibã se reúnem em praça central após tomar o controle de Kandahar, Afeganistão, 13 de agosto| Foto: EFE/EPA/STRINGER
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O Talibã está de volta. De volta e mais poderoso que nunca. Com um número de combatentes que pode chegar a 100.000 homens, o grupo fundamentalista avança no rastro deixado pela retirada das tropas dos Estados Unidos, que em outubro de 2001 os apeou do poder depois da série de atentados de 11 de Setembro.

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No último dia de fevereiro de 2020, o Talibã assinou um acordo de paz com as bênçãos dos Estados Unidos, em que se comprometia em dividir o poder com o governo local e trabalhar por um Afeganistão unido e pacificado. Mas bastou os americanos iniciarem a retirada de suas tropas para que o Talibã implodisse o acordo, partindo para o que pode vir a ser o controle total do país. No mês passado, o grupo já havia conquistado o controle de 54% das localidades do país, entre as quais mais de uma dezena de capitais. No momento em que esta coluna é escrita, os radicais já tomaram o controle de Kandahar, a segunda maior cidade do país, e marcham para Cabul, a capital afegã.

O Talibã que está voltando ao poder não é mais o Talibã pré-invasão americana que era conhecido pelas práticas tribais pré-islâmicas – muitas delas primitivas e em dissonância com qualquer valor humanitário. A burca é, talvez, o símbolo mais famoso da supressão dos direitos das mulheres. Mas não o único. As meninas são proibidas de frequentar escolas, ter sequer bonecas para brincar, pois as representações humanas de qualquer natureza são consideradas coisas do demônio.

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Em 2001, quando uma aliança entre os Estados Unidos a Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) colocou fim a cinco anos de regime Talibã, o grupo se transformou em uma insurgência que desafiou a mais poderosa aliança militar do planeta. Uma insurgência que não só deu trabalho durante duas décadas, como se mostrou capaz de resistir e enganar até o fim. E com vitória.

O Talibã que marcha para a conquista completa do Afeganistão é ainda mais brutal. Sob as ordens de seu líder, o mulá Haibatullah Akhundzada, o grupo apagará a última centelha de democracia, respeitos aos direitos humanos e civilidade para com o povo.

Por onde passa, depois de 20 anos sob fogo cerrado, os novos donos do pedaço estão promovendo execuções sumárias de “traidores”. Intérpretes que serviram aos militares estrangeiros, jornalistas e membros das forças de segurança do condenado Estado afegão.

Em duas décadas de conflito, os aliados ocidentais perderam 7.100 entre militares e empreiteiros. Cerca de 73.000 militares e policiais afegãos foram mortos e um saldo de 47.000 vítimas civis. Não se sabe quantos talibãs partiram dessa para melhor, mas estima-se que tenham sido algumas dezenas de milhares. O Talibã soube resistir. Para eles a morte é prêmio. Por aqueles lados há sempre uma quantidade expressiva de gente disposta a morrer pela promessa de paraíso. São criados quase que exclusivamente por este fim.

Tratando-se de extremistas islâmicos que combinam com a leitura estreita e estrita da religião com o primitivismo de práticas tribais, os Talibãs oferecem as condições ideais para que o Afeganistão volte (embora jamais tenha deixado de ser completamente) a ser um celeiro de terroristas com potencial de exportar para o mundo o seu potencial destrutivo.

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Em 2001, o Afeganistão ganhou relevância e destaque global por ter sido a casa e esconderijo de Osama bin Laden, o então chefão da al-Qaeda, organização que realizou os atentados de 11 de Setembro.

O grupo foi formado no início da década de 1990 por jihadistas afegãos, ou combatentes islâmicos, que resistiram à ocupação soviética do Afeganistão (1979-1989) com o apoio dos Estados Unidos. Os guerrilheiros foram recrutados entre os jovens da etnia pashtun (predominante no sul do Afeganistão) que frequentavam as madraças (escolas religiosas) paquistanesas. Talibã, por sinal, em pashto significa “estudantes”.

Naquele 1979, o Afeganistão virou um dos lugares mais quentes do mundo, disputando com o Irã, que inaugurava o seu regime teocrático, os primeiros laboratórios do ativismo revolucionário do islã. Sendo os primeiros sunitas e os segundo xiitas. Mostrando que as duas correntes majoritárias da religião largaram juntas no uso da religião como insumo de insurgências e luta política.

Em 2001, o Afeganistão se transformou no palco da guerra contra o terror – justamente pelo fato de o Talibã ter transformado o país na maior incubadora de terroristas do planeta e pelas razões já conhecidas associadas aos atentados cometidos em solo americano.

Em 2021, o Afeganistão volta a ser o Afeganistão. Um Afeganistão cada vez pior.

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