O doleiro Dario Messer.| Foto: Reprodução/Facebook
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O doleiro Dario Messer, conhecido como o “príncipe dos doleiros”, é uma das figuras mais importantes entre os criminosos de todos os tipos em atuação no Brasil. Ele estava no topo de uma rede de lavagem de dinheiro que movimentou mais de US$ 1,6 bilhão. Se o dinheiro é o que move de traficantes a corruptos, ele é o cara que conhece os caminhos que podem levar as autoridades ao coração dessas organizações criminosas: seus recursos financeiros.

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Messer não era só o “doleiro dos doleiros”. Ele era o Banco Central de bandidos cujo espectro de atuação vai doo PCC a políticos e grandes empresas brasileiras, alcançando algumas das maiores organizações de crime transnacional. Podemos incluir na lista traficantes de armas, provedores de drogas do Paraguai e Bolívia, os sanguinários cartéis mexicanos e a maior lavanderia de dinheiro sujo do mundo, que hoje é a China.

Peça-chave na 23º fase da Operação Lava Jato, batizada de Operação Câmbio, Desligo, Messer fechou o maior acordo de delação premiada da operação e da história do Brasil. Prometeu devolver R$ 1 bilhão e, ao que indica, entregou seus clientes e os beneficiários de suas operações. Mas será que Messer entregou todo mundo? Contou tudo o que sabia? Pelo padrão das delações anteriores, é possível presumir que não.

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Nas últimas semanas, alguns detalhes começaram a vazar, mas nada próximo ao que realmente importa em uma delação de um criminoso da dimensão de Messer.

Quando pediu a sua prisão, a Polícia Federal já havia descoberto que o doleiro coordenava um “banco” clandestino construído sobre um sistema informatizado exclusivo e que integrava mais de 3 mil empresas offshore, com contas bancárias em 52 países.

Qual era o motivo de manter uma rede clandestina com essas dimensões e presença em mais de um quarto dos países existentes no mundo? Messer necessitava estar onde o dinheiro precisava ser entregue. Ou seja, tinha que oferecer a cobertura perfeita para que seus clientes pudessem enviar e receber dinheiro em qualquer canto do planeta, gerando a menor suspeita possível.

O serviço principal que Messer oferecia era o de fazer milhões e milhões de dólares pularem de um país para o outro sem que um centavo precisasse formalmente “viajar” pelas fronteiras. Ele elevou o já conhecido esquema do dólar-cabo a uma escala industrial.

No caso de Messer, milhões e milhões de reais produzidos em atividades ilícitas no Brasil foram parar nas mãos dos clientes que precisavam internalizar dinheiro sem deixar rastros – por ser de origem ilegal ou, simplesmente, por sonegação fiscal. Os valores equivalentes, em dólares, foram parar em contas dos criminosos que enviam fuzis e cocaína para as organizações criminosas no Brasil.

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Alguém, alguma vez, já viu uma mala de dinheiro ser apreendida quando ia do Brasil para a Bolívia ou ao Paraguai? Armas e drogas não são grátis, mas o dinheiro não existe. Messer é a Pedra de Roseta para decifrar esse milagre.

Se a delação de Messer não tiver a lista das contas de destino indicadas por ele no exterior, ela se torna apenas um ensaio de justiça. Contar quem recebeu dinheiro no Brasil é a parte mais simples das operações comandadas por ele. Messer sabe onde o dinheiro foi parar no exterior. Essas contas são, inevitavelmente, o destino do dinheiro que jamais foi visto voltando pelas fronteiras do Paraguai e da Bolívia. Traficantes pagam a conta de suas “importações” por sistemas como o de Messer.

Um esquema descoberto pela DEA, a agência antidrogas dos Estados Unidos, pode ser muito educativo para entender como operadores como Messer são a medula do crime transnacional organizado.

Na falta de um Messer nos Estados Unidos, os cartéis mexicanos, que arrecadam bilhões de dólares com a venda de drogas nos EUA, replicam o seu modelo em associação com chineses radicados no país.

Eles entregam a receita do tráfico para os chineses, que realizam uma curiosa intermediação financeira para fazer os dólares produzidos nos Estados Unidos se transformarem em pesos no México e em outros destinos, que incluem o Brasil.

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Os traficantes entregam pilhas de dólares para os chineses, que mantêm o dinheiro fisicamente estocado em suas residências ou locais dedicados para este fim. De posse de verdadeiras fortunas, que em alguns casos chegaram a superar 200 milhões de dólares escondidos, os chineses acionam suas redes em seu país de origem para fazer rodar complexas engrenagens de lavagem de dinheiro.

Por lei, os chineses são impedidos de transferir para o exterior mais de 50 mil dólares anuais. Mas os milionários chineses fazem mil e uma piruetas para tirar seus recursos dos bancos locais. Uma delas atende perfeitamente ao esquema iniciado pelos traficantes nos Estados Unidos.

Os ricaços chineses pagam a conta do envio de produtos eletrônicos de alto valor que são mandados legalmente para os negócios de fachada que os traficantes controlam em seus países de origem, onde tais produtos são vendidos e a receita da operação passa a ser a mais limpa do mundo. O valor equivalente, em dólares, é mantido guardado de forma física sob a os cuidados dos lavadores chineses ou usado para compra de joias e imóveis. Sempre pagos em dinheiro vivo.

Todos os dias, os celulares dos americanos que vivem nas áreas de interesse dos chineses são invadidos por mensagens de texto ou chamadas automatizadas de “corretores” oferecendo pagamentos generosos em cash por propriedades.

O modelo dos chineses se difere do sistema de Messer na execução, mas a concepção é a mesma; o objetivo é idêntico.

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Se não contou, Messer precisa contar quem estava na outra ponta da linha. Não só os beneficiários das operações no Brasil, mas quem eram os destinatários da fortuna em dólares que ele fez circular por meios de suas empresas de fachada pelo exterior. Isso é o que verdadeiramente importa.