Congresso da Unidade Antifascista em Berlim, 10 de julho de 1932| Foto:
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Nos últimos dias muita gente querida (e algumas nem um pouco) estampou em suas redes sociais e entulhou a memória dos smartphones alheios com as mais variadas versões de um poster criado em 1932 pelos alemães Max Keilson e Max Gebhard. Duas bandeiras vermelhas sobrepostas em meio a um círculo com os dizeres Antifaschistische Aktion. Ação antifascista, ou antifa para os íntimos.

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O brasão, que agora está moda, foi concebido para representar a união dos comunistas alemães que no início do século passado se estapeavam entre si enquanto o Adolf Hitler conquistava cada vez mais apoio popular.

Por anos a fio, os militantes do Partido Comunista Alemão e do Partido Social Democrata trocavam insultos entre si. Cada um dos lados acusava o outro de fascistas. Quando eles resolveram parar de brigar, os fascistas passaram a ser qualquer coisa que não fosse eles mesmos. A aplicação perfeita do modelo soviético que padronizou o adjetivo para qualificar tudo e todos que estavam em desacordo com o comunismo.

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Já se passou mais de um século e o pessoal segue papagaiando. Repetindo a fórmula acreditando observar o mundo do topo olimpo das virtudes. Lugar de onde denunciam a emergia das mais abjetas ameaças à democracia.

Os comunistas estavam corretíssimos em tentar barrar a ascensão de Hitler e do nazismo. Basta recorrer ao que foi a Segunda Guerra Mundial e o holocausto. Eventos que definem perfeitamente a tragédia que marcou de forma indelével a humanidade.

Alguma virtude na ação antifa? Zero. Eles não se uniram e ilustraram isso com o simbolozinho das bandeirinhas sobrepostas que agora fazem sucesso no Instagram ou no Twitter para evitar a carnificina nazistas.

Eles renunciaram às diferenças pela devoção a outro monstro. O que os antifascistas queriam implantar na Alemanha, no resto da Europa e no mundo não se mostraria menos destrutivo. O comunismo.

Nos anos seguintes, os regimes soviéticos e chinês – para concentrar apenas nos dois mais mortais – provocaram a morte de pelo 85 milhões de pessoas, seja pela fome ou perseguição política. E, todo o mundo o modelo que inspirava os antifas. O comunismo conseguiria se transformar na mais mortal das ideologias do século 20, superando o número total de vítimas do holocausto e de toda a Segunda Guerra, com mais de 100 milhões de vítimas.

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Para o bloco oriental o fascista da vez passaria a ser o Ocidente. Em 1961, quando os comunistas alemães começaram a erguer o muro de Berlim, a justificativa era evitar a contaminação fascista. A enorme parede de concreto e arame que materializou a divisão do mundo se chamava oficialmente de barreira antifascistas. Ou seja, o Muro de Berlim era antifa!

Oficialmente, 138 pessoas morreram tentando atravessar a barreira antifascista. Alguns estudos tentam revisar os números. Alguns apontam para mais de 500 vítimas e outros já resvalam em 1.000. O detalhe, ninguém morreu tentando romper a barreira antifa, mas fugindo dela.

O Muro de Berlim foi o exemplo material e seus escombros, visitados como peça de museu, são um monumento de concreto, aço e arame que ilustra a desfaçatez que levou atrocidades serem fantasiadas de virtudes.

Ao longo do tempo se juntaram, sob o símbolo das duas bandeiras sobrepostas, os anarquistas e comunistas envergonhados. Aqueles que para não assumirem que defendem regimes autoritários, mas que preferem se vender como defensores da democracia. Se dizer antifa é muito mais palatável que comunista.

Entre idas e vindas, o movimento reaparece. No Brasil, ganhou voz e corpo na esquerda brasileira. Desmoralizados pelo mensalão, rejeitados pelos protestos de rua de 2013 e carbonizados pela roubalheira sistêmica revelada pela Operação Lava Jato, os partidos de esquerda recorreram ao modelo soviético. Muito mais eficiente que o binarismo primário do “nós contra eles” inaugurado no Brasil por Lula e replicado com os sinais invertidos pelo bolsonarismo.

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A palavra fascismo, que era um xingamento comunista, ganhou um significado. Hitler e Benito Mussolini pavimentaram o caminho para uma leva de ditadores que fizeram o conceito realmente ser algo repugnante. Inadmissível. Portanto, ser antifascista passou não moralmente consistente como ser contra estupros, pedofilia, violência doméstica, armas químicas e por ai vai. São coisas tão solidamente consolidadas que só não é contra quem realmente é um louco, bandido, genocida, fascistas e por aí vai.

Os antifas do Instagram são reféns do conceito. Nem todos. Pois me custa acreditar que todo mundo realmente sabe onde está se metendo. Foram cercados pelo “Muro de Berlim” da narrativa e tudo que está do outro lado da parede é mal. É fascista.

O sequestro do conceito não leva em conta a banalização do seu significado. Pelo contrário. Quanto mais aplicável às necessidades do momento, mais útil ele é. Alguns antifas graduados não escondem sua essência. Não se definem como ideologia, mas como tática. Uma etapazinha para atingir o objetivo. Depois pode tirar a fantasia.

A democracia que muitos dizem defender tem outro nome. Poder. Para chegar lá é preciso contar um conto. A história está cheia de exemplos. Você é realmente o antifascista que pensa que é? Alguém pode estar tentando te fazer de idiota.