Ex-presidente Dilma Rousseff pagou até vara de pescar no cartão corporativo do governo.| Foto: Gazeta do Povo

A presidente Dilma Rousseff esteve na 29ª Festa da Uva, em Caxias do Sul, em fevereiro de 2012. Na volta, fez um pernoite em Porto Alegre, dia 16, no hotel Plaza São Rafael. A Presidência da República registrou que o Tribunal de Contas da União (TCU) determina a pesquisa de preço junto à rede hoteleira, mas justificou a escolha: “deixamos de observar tal recomendação pelo fato de que o Plaza São Rafael é o preferido da presidenta Dilma”.

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Diante dessa decisão, a Secretaria de Administração sugeriu que o Plaza fosse também o hotel do escalão avançado da comitiva presidencial, com 11 integrantes, o que facilitaria a “preparação do pernoite” da presidente. A despesa do pernoite de Dilma e comitiva, incluindo os 19 tripulantes dos dois aviões presidenciais utilizados, ficou por R$ R$ 9,8 mil e foi paga com o cartão corporativo da Presidência da República.

Dilma ficou na suíte presidencial, de 110 m², com quarto, sala, sala de jantar, lavabo e banheira de hidromassagem. A diária hoje está em R$ 1,1 mil. O hotel diz que a suíte é a predileta de autoridades políticas, executivos de alto padrão e celebridades, que preferem maior sofisticação. O hotel fica localizado no centro histórico de Porto Alegre.

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Essa é apenas uma das viagens feitas pela então presidente Dilma. Como mostram os relatórios de gastos da Presidência obtidos pelo blog, com exclusividade, as maiores despesas nos deslocamentos pelo país são relativas à segurança das autoridades. Em alguns eventos, mais de 100 militares e policiais integram o aparato de segurança, incluindo forças do Exército. A alimentação e a hospedagem dessas equipes custam caro. Além das despesas do presidente, também são pagos com cartão corporativo os gastos do vice, de ex-presidentes e de familiares dessas autoridades.

Reprodução/Arquivo Presidência da República

Almoço com diretores da Odebrecht

Ainda em fevereiro daquele ano, a presidente Dilma visitou duas das mais importantes obras da era petista, a Transposição do Rio São Francisco e a Ferrovia Transnordestina – até hoje incompletas. A comitiva presidencial esteve nos municípios de Missão Velha e Mauriti (PE). Dilma e mais 68 integrantes da sua comitiva ficaram hospedados no hotel Verde Vale, ao custo de R$ 34 mil. As duas diárias da suíte da presidente ficaram por R$ 1,5 mil. Na lanchonete Come-Come, que atendeu a equipe de apoio, os gastos chegaram a R$ 11,4 mil.

O relatório da viagem informa que foram gastos R$ 75 mil com cartões corporativos naquela viagem. No último dia de visitas, a presidente almoçou com diretores da Transnordestina Logística, concessionária da obra, e com uma das construtoras, a Odebrecht – empresa que dois anos mais tarde seria abalada pela Operação Lava Jato da Polícia Federal.

Foram acomodadas mais 19 pessoas no hotel Panorama e 46 no Ingra. Mais R$ 16,5 mil de despesas. Em dois dias, foram servidos 340 almoços e 410 lanches para o pessoal de apoio. Pelo número de refeições, é possível verificar que lá estavam, pelo menos, 44 militares do Exército, 28 policiais rodoviários federais e 10 bombeiros. Os militares foram deslocados do 40º Batalhão de Infantaria de Crateus. O escalão avançado, que chegou antes, tinha 43 integrantes.

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Uma grande equipe de apoio

Dilma já havia estado em Porto Alegre em janeiro de 2012, para prestigiar o Fórum Social Mundial. Como sempre, ficou no Plaza São Rafael. Relatório de viagem mostra que a equipe precursora ocupou 12 apartamentos e solicitou mais 28 para a o escalão avançado, mais 12 para as tripulações dos helicópteros e das aeronaves presidenciais e uma suíte presidencial. Só a hospedagem do escalão avançado chegou a R$ 28 mil. No caso da comitiva oficial da presidente, ficou em R$ 10 mil, sendo R$ 2,2 mil com duas diárias da suíte presidencial.

A alimentação dos militares da equipe de apoio à viagem presidencial custou R$ 8,4 mil. Foram servidos 730 lanches. O Escritório de Apoio da Presidência em Porto Alegre, com 13 integrantes, apresentou nota fiscal de uma despesa de R$ 1,6 mil na Churrascaria Garcia, na Praia de Belas.

Foi necessário, ainda, alugar uma sala do hotel, por R$ 3,3 mil, para atender o ministro Gilberto Carvalho e outros ministros que compareceram ao fórum. Também houve o aluguel de 200 metros de grade, 100 metros de unifilas e quatro biombos para um evento com a presença da presidente – tudo por R$ 4,6 mil. O custo total das despesas com cartão corporativo alcançou R$ 58 mil.

Ao solicitar a sala de apoio, um assessor da Secretaria-Geral da Presidência destacou que o Fórum Social é “um espaço democrático de ideias, formulação de propostas e de articulação de movimentos sociais, ONGs e outras organizações que se opõem ao neoliberalismo e ao domínio do mundo pelo capital”.

Cartão corporativo paga vara de pescar

Como a vida não é só trabalho, a presidente Dilma passou alguns dias na Base Naval de Aratu, na Bahia, durante o Carnaval. Mas ela não foi assistir os blocos. Preferiu pescar. A sua assessoria correu e comprou vara de pesca e molinete por R$ 270. Precavida, a equipe de apoio também alugou um gerador, por R$ 6,2 mil, por causa da constante falta de energia na base.

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A hospedagem da equipe de apoio, de 16 a 20 de fevereiro, custou R$ 65 mil. Desta vez, não teve aluguel de lancha para passeios por R$ 20,4 mil, como aconteceu no réveillon daquele ano. Mas o custo total da viagem custou R$ 87 mil aos cofres públicos.

Reprodução/Presidência da República

Vice, ex-presidentes, familiares...

O então vice-presidente Michel Temer esteve em São Paulo de 8 a 12 de janeiro de 2012. Seus 10 agentes de segurança ficaram hospedados no hotel Golden Tower, ao custo de R$ 25 mil. O vice-presidente, que não tinha tarefas a executar no governo, como reclamou no período pré-impeachment de Dilma, retornou a São Paulo em 4 de março com a sua equipe de segurança. Espetou mais uma conta de R$ 11,7 mil no Golden Tower. Em dezembro daquele ano, 10 seguranças de Temer ficaram novamente hospedados no mesmo hotel durante uma semana. Mais R$ 14 mil de despesa.

A equipe de segurança de familiar do vice-presidente, lotados em São Paulo, com seis integrantes, ocupou três apartamentos duplos em Brasília, de 15 a 23 de janeiro, ao custo de R$ 4,1 mil. Nova hospedagem ocorreu de 24 a 26 de fevereiro daquele ano. Mais R$ 1,8 mil na conta do contribuinte.

Há ainda despesas no cartão corporativo com a equipe de segurança de familiar da presidente Dilma, com nove integrantes, que ficou hospedada em Brasília, no Torre Palace Hotel, de 1º a 6 de fevereiro de 2012. A conta bateu em R$ 4,8 mil. A equipe voltou a se hospedar no mesmo hotel, em Brasília, de 24 a 26 de fevereiro. A conta fechou em R$ 1,4 mil. A filha da presidente Dilma, Paula Rousseff, esteve em Pelotas (RS), em 8 de março. Ela solicitou que a sua equipe de segurança, composta por cinco agentes, poderia ficar no mesmo hotel onde estava hospedada, o Jaques Jorge Tower.

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O cartão corporativo do ex-presidente Luiz InácioLula da Silva pagou R$ 2,2 mil em combustível durante três semanas de março daquele ano. Os carros – um Fusion e um Ômega – estavam à disposição da sua equipe de apoio. Um detalhe: o relatório informa as placas “oficiais” e “vinculadas” de cada um dos veículos. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso gastou R$ 1,2 mil com combustível no posto Higienópolis em abril de 2012.

O blog fez contato com a assessoria da ex-presidente Dilma e solicitou esclarecimentos sobre a escolha do hotel Plaza São Rafael para a sua hospedagem em Porto Alegre em fevereiro de 2012. Não houve resposta até a publicação da reportagem.