Por mais curioso que possa parecer, o voto obrigatório colabora de maneira decisiva para a descrença do eleitor. Afinal, como poderia o sujeito desenvolver uma noção de responsabilidade em relação ao futuro do País, e até mesmo de pertencimento, quando o próprio Estado mitiga a sua importância? No fim das contas, o cidadão se vê paternalizado. Refém de um discurso que chama de direito o que na prática é obrigação. E acaba não nutrindo empatia pela política, mas desprezo.
Tal sentimento — fortalecido pela sensação de que seus representantes compõem uma casta de privilegiados, uma ineficiente, mas nem por isso barata gestão pública, além dos seguidos escândalos de corrupção — acaba dando origem a dois conceitos autoenganosos. O primeiro, de que essa mesma sociedade insatisfeita com a classe política não tem nada a ver com a sua formação. Como se corruptos e incompetentes não fossem eleitos por ela própria. Já o segundo conceito prima pelo simplismo: se todos os políticos são iguais, só pode prestar aquele que for diferente. E por diferente, já que estamos falando de um cidadão desinteressado na matéria, leia-se novato.
Não é por acaso que os candidatos têm buscado lapidar as próprias imagens à feição desse zeitgeist. E pouco interessa se estão inseridos há décadas no mesmíssimo sistema que agora se dizem ávidos para transgredir.
Que o surgimento de novos nomes na política é fundamental não se discute. O busílis se dá quando a retórica visa achatar o debate. Quando um candidato, ou mesmo a sua militância, estão somente interessados em distribuir pechas para encaminhar o sucesso nas urnas da maneira mais simples possível. Sem muito debate. Sem submeter os seus projetos para que sejam criticados.
A história nos mostra que a demonização da política não é saudável para o Brasil e nem tampouco para a sua democracia. Durante a década de 80, um certo Partido dos Trabalhadores primou exatamente por essa estratégia. A sua retórica consistia, fundamentalmente, na difamação dos seus adversários e do próprio establishment. Uma narrativa construída para desembocar em uma conclusão óbvia: “o caminho sou eu, porque eu sou diferente de tudo o que está aí”. Deu no que deu.
Pois bem, cabe agora, em 2018, entender que o sistema ainda não mudou e não mudará de uma hora para a outra. Nem o pleito em outubro próximo deixará de representar o status quo. Só uma profunda reforma política e o engajamento da população — para além da picuinha nas redes sociais — serão capazes de promover essa transformação.
Até lá, resta eleger quem se apresentar mais preparado e com as melhores condições políticas para conduzir o País. Continuar referendando postes, aventuras ou regalando votos de protesto, tão somente pela encanto da narrativa, sabemos todos, não dá certo.
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