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Brasil futuro
Esse é o Brasil do futuro que uma dessas inteligências artificiais sem alma “imaginou”.| Foto: Images.ai

Todo entusiasmado, o amigo me manda uma mensagem dizendo que, recentemente, foi assistir a uma palestra de Jordan Peterson. O que ele me conta é algo que aprendi há muito tempo, mas que insisto em esquecer. Refletir sobre a vida (e registrar essas reflexões) nos torna pessoas melhores pelo simples fato de termos uma ideia melhor de para onde estamos indo e aonde queremos chegar. Se chegaremos lá é outra história.

Ele, o amigo citando Peterson, fala do velho exercício de pôr no papel, com o máximo de detalhes possível, uma imagem de você mesmo daqui a cinco anos. Sim, é aquele mesmo exercício que os cínicos desprezam sem jamais tentar. Coisa de autoajuda barata - dizem. Eu não preciso disso. E outras justificativas que eles dão para continuarem na mesma. Mas, ó, juro que o exercício não tem nada a ver com “o Universo conspira a meu favor” nem com ensinamentos dos coaches quânticos. Pode dormir tranquilo.

Ao ouvir o amigo e me lembrar do exercício, fico paralisado. No meio dos porcelanatos da Leroy Merlin! Para desespero da minha mulher empolgada (“esse daqui vai ficar lindo no banheiro, benhê!”), não consigo pensar em mais nada a não ser nessa imagem que meu cérebro se recusa a imaginar: a de mim mesmo em 2028. É que ando tão ocupado sendo o que queria ser há cinco anos, tão entretido com meus sonhos tornados realidade, que não tive tempo para pensar no futuro.

Aqui valem o parágrafo novo e a ressalva. Imaginar e até planejar não têm nada a ver com a certeza da realização. Afinal, diz o provérbio que “enquanto o homem planeja, Deus ri”. Ideia que é reforçada no “seja feita a Vossa vontade” do Pai Nosso. No entanto, é preciso ao menos escolher um dos muitos caminhos, bem como um destino.

Ah, já ia me esquecendo de um detalhe importante: para Jordan Peterson, o exercício de se imaginar no futuro próximo exige que incluamos todos os nossos... defeitos. Nossos demônios. Nossas fraquezas. “Inclusive as tendências autodestrutivas”, diz o amigo. Isso foi uma indireta? Esse detalhe é importante para que reconheçamos que, na maioria das vezes, o responsável por nossos fracassos & sucessos não é nem o Lula, nem o “racismo estrutural”, nem o retorno de Saturno. Adivinha o que é!

Aposto que

Além da ressonância pessoal, a mensagem do amigo encontrou eco numa dúvida que expressei aqui há algumas semanas, num texto intitulado “‘Perdi a esperança no Brasil’”. Nele, perguntei ao leitores o que exatamente seria esse país ideal que eles tanto buscam. Com que tanto sonham. Que utopia tupiniquim é essa? Teria esse Brasil tão sonhado ruas folheadas a ouro? Seria uma espécie de Dinamarca ou estaria mais para uma Coreia do Norte verde-amarela?

Aí me ocorreu a ideia que proponho com a certeza de que serei ignorado. Afinal, confessemos: é tão mais divertido reclamar, não é? É mais divertido bater no peito e se dizer defensor de um conceito tão, tão, tão, tão abstrato que está para nascer quem conseguirá discernir seus contornos mínimos. Humpf. Apesar disso, aqui vai a ideia que é ao mesmo tempo simples e ultradifícil.

Imagine o Brasil daqui a cinco anos. Com o máximo de detalhes. Quem será o presidente - se é que teremos presidente? Qual será a grande notícia do dia 16 de maio de 2028? Qual será o índice de inflação daquele mês? Qual time lidera o Brasileirão? No ponto de ônibus, sobre o que as pessoas estarão falando? Nas redes sociais (se na sua imaginação ainda houver redes sociais), sobre o que os brasileiros estarão se digladiando?

E, sendo fiel ao exercício original, imagine o Brasil daqui a cinco anos tendo de enfrentar todos os demônios nacionais, por assim dizer. A tendência ao populismo. A profunda ignorância econômica. Certa propensão a escolher o que é mais rápido e exige menos esforço em detrimento do que é certo. Essa mania ridícula de ficar dando ouvido a artistas, esportistas e jornalistas. E por aí vai.

Agora o toque final: coloque-se nesse Brasil que você imaginou com tanto cuidado. Como você se sente? Está feliz ou continua indignado? Na sua mesa tem abundância ou falta o básico? Na hipótese de você ter imaginado um país em ruínas, como é que você vai levando a vida? Continua fiel aos seus princípios ou já se corrompeu “em nome da sobrevivência”? Aposto que.

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