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Eu disse UMA MÃO com quatro dedos, não UM MAMÃO!!!!!
Eu disse UMA MÃO com quatro dedos, não UM MAMÃO!!!!!| Foto: Eli Vieira

Não se deixe intimidar pela expressão em latim – coisa mais cafona do mundo, reconheço e me penitencio. Reductio ad absurdum é a estratégia, ou melhor, falácia de extrapolar as consequências de um fato ou ideia a fim de invalidá-los. A rigor, não precisaria recorrer a isso para apontar o absurdo que foi a manifestação de uma juíza eleitoral de associar a bandeira nacional ao bolsonarismo, a ponto de impedir a exibição dela, bandeira, não juíza, nas eleições. Mas é que o reductio ad absurdum tem seu quê de diversão. No mais, convenhamos: depois que Fachin soltou Lula, as noções do que é ou não absurdo se confundiram. Então vamos lá!

Como adiantei, mas vou repetir para novamente deixar claro o caráter “fluido” do que é ou não absurdo, uma juíza eleitoral do Rio Grande do Sul, durante uma reunião com representantes de partidos, associou o pavilhão nacional (sempre quis usar isso) a “um lado da política”. E disse entender que, por esse motivo, ostentar a bandeira nacional poderia ser considerado propaganda eleitoral. Ela não mencionou Bolsonaro, mas ninguém é bobo aqui. Em seguida, a própria juíza disse que, se tomasse uma decisão nesse sentido, ela provavelmente seria derrubada pelo TRE ou TSE. Mas quem mora no Togaquistão tem medo. Eu tenho medo.

Imaginemos, pois, que a tese tão original (não se pode acusar os ativistas de falta de criatividade) quanto estúpida vingue. E, para que isso aconteça, a simples menção à ideia estapafúrdia é a semente plantada pela juíza eleitoral – figura que, aliás, ocupa um cargo digno das pinturas de Salvador Dalí. Aí digamos que Lula vença as eleições (toc, toc, toc) e, usando do argumento “verde-amarelo = bolsonarismo”, proponha, sei lá, uma medida provisória (sic) para mudar a bandeira nacional. Será mesmo tão absurda assim essa possibilidade?

Fato sabidamente inverídico

Agora me permita um desvio rápido para falar do conceito de fake news que aos poucos, de mansinho, vai se consolidando entre nossa douta classe jurídica. Fala-se em “divulgação de fato sabidamente inverídico” e o problema aqui começa pelo advérbio. “Sabidamente” por quem, cara pálida? E, em se tratando de ações futuras, como posso atestar com toda a certeza desse universão retratado pelo telescópio espacial James Webb que uma coisa tão absurda quanto a mudança da bandeira nacional não vai acontecer? Quem me garante isso? Alexandre de Moraes?

Aliás, levando em conta as muitas asneiras e insanidades ditas ultimamente pelo ex-presidiário em processo de ressocialização Lula, apostaria uns dinheiros de pinga como já passou pela cabeça de ao menos um militante do PT, ou melhor, de uma autoridade do alto escalão do partido a possibilidade de trocar o verde-amarelo dos coxinhas pelo vermelhão assassino dos comunistas.

Por que não mudar o hino?

De volta ao pesadelo lulista, não é absurdo algum imaginar que a ideia de mudar a bandeira nacional contasse com a aprovação de parte da imprensa (aquela parte) e dos intelectuais preocupados “em apagar os vestígios desse período nefasto da nossa história”. Tampouco é difícil imaginar um elaborado esquema de corrupção montado para financiar a aprovação de qualquer ideia estúpida pelo Legislativo. Parece até que já aconteceu antes. E não faz muito tempo. Um tal de Mensalão, se não estou enganado.

Aí o governo enfrentaria, evidentemente, a fúria do povo. Mero detalhe. Assim como é apenas um detalhe o fato de a bandeira e o hino nacional figurarem na Constituição como símbolos nacionais inalteráveis. Nisso aí qualquer ministro do STF dá um jeito. Se calhar, aproveita os ares revolucionário e troca de uma vez a música de Francisco Manuel da Silva e a letra de Joaquim Osório Duque Estrada por uma batida do Olodum e uns grunhidos ou gemidos da Anitta. Por que não?

Olha, sou capaz de imaginar com perfeição o Concurso Público realizado para a escolha da nova bandeira: crianças esgotando os estoques de lápis de cor das lojas para submeter desenhos ingênuos com mensagens de apreço ao Timoneiro de Nove Dedos, reportagens sentimentais sobre pessoas que sofreram graves danos psicológicas ao terem sido expostas ao verde-amarelo opressor, e especialistas explicando que a mudança é positiva porque faz a economia girar e une a população em torno da ideia de uma pátria bolivarianamente livre.

Tudo de fachada, claro, porque o desenho da nova bandeira já está escolhido há décadas e [atenção: contém spoilers] é vermelha e traz uma foice e um martelo acrescidos de um punho levantado, 13 estrelas, algum símbolo LGBT e uma mão com quatro dedos. Que o artista, formado pela cartilha Paulo Freire, entendeu como “um mamão com quatro dedos”.

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