Para você entender como a absolvição do senador Sergio Moro no TSE é na verdade uma condenação, precisa rebobinar um pouco a fita. Mais, mais, mais. Não, aí está aparecendo o Moro levando a marmitinha. Você voltou demais. Nessa época ele era herói e a gente achava que o Brasil tinha solução. Avança, avança, avança. Saída do Ministério da Justiça de Bolsonaro. Lançamento de candidatura pelo Podemos. Lula eleito. Aí!!! É no palavrão que eu queria chegar.
Nesse dia, o ex-presidiário e descondenado Lula declarou, para quem quisesse ouvir, que seu objetivo ao assumir a Presidência pela terceira vez não era a pacificação do país nem a prosperidade comunista (sic!) nem nada do tipo; seu objetivo era e continua sendo se vingar do seu algoz: o ex-juiz e nome-que-deveria-levar-acento Sergio Moro. Que sentiu o golpe e não o culpo. Afinal, se aprendi alguma coisa com “O Poderoso Chefão” é que ameaça de capo di tutti capi a gente leva a sério.
A isso se sucederam quase dois anos de um Sergio Moro na melhor das hipóteses morno em sua atuação como senador. Pelo menos eu não me lembro de nenhum discurso destinado a entrar para a história. Se bem que minha memória é péssima, todo mundo sabe. Me lembro, porém, das atuações discretas de Moro nas sabatinas dos agora ministros Cristiano Zanin e Flávio Dino. Aliás, como esquecer, não é mesmo?
Naquele dia, o ex-juiz da finada Operação Lava Jato e o amplíssimo ministro do STF (até então apenas um político comunista caricato) foram flagrados “num clima que vai além da cordialidade protocolar. Há ali um quê de cumplicidade, com direito a conversinha ao pé do ouvido e risadas, gostosas risadas” – como registrou um cronista. Que emendou: “Moro não entendeu o impacto que essa imagem de sua cordialidade e civilidade inoportunas terá sobre milhões de brasileiros que num passado bem recente viram nele, Moro, uma esperança de moralização da política”. Até que o sujeito escreve direitinho, né?
Inofensivo
Não quero dizer com isso que Moro tenha feito qualquer negociata em troca da manutenção de seu mandato de senador. Nada disso! O que quero dizer é que aquele clima fraterno foi um sinal de que o Sergio Moro que falava grosso (por assim dizer) com Zanin e Lula tinha se transformado num Sergio Moro mansinho-mansinho. Um Sergio Moro adestrado. Um Sergio Moro inofensivo. O recado estava dado.
Moro – quem diria?! – não oferece mais nenhum risco a um Sistema que, por obra e graça do ministro Dias Toffoli, anula as condenações de José Dirceu, Romero Jucá, Renan Calheiros e Marcelo Odebrecht. E faz isso apesar das confissões, das muitas provas e até da chancela da justiça norte-americana. Na. Cara. Dura. Moro, aliás, se tornou tão inerme que saiu de seu julgamento – pasmem! – elogiando a tecnicidade da decisão, bem como a “independência do Judiciário”. Sim, ladies and gentlemen. Ele disse isso.
Daí porque sua absolvição é, na verdade, uma condenação. E com uma pena tão severa que chega a ser desumana: a humilhação perante a elite política que tanto o temia e o descrédito dos eleitores. Pena essa que Moro aceita com uma passividade assombrosa, embora compreensível. Afinal, e correndo o risco de soar repetitivo repetitivo repetitivo, se aprendi alguma coisa com “O Poderoso Chefão” é que ameaça de capo di tutti capi a gente leva a sério.
Dito tudo isso, encerro contando a vocês que tenho um amigo tão tãO tÃO TÃO otimista que, ao ficar sabendo da absolvição de Moro no TSE, me ligou para dizer que, agora que o perigo passou, Moro vai pôr as manguinhas de fora e começar a agir, agir pra valer, no Senado. “Agora o Alexandre de Moraes vai ver o que é bom para a tosse”, disse ele. Eu ri um riso triste. Mas ri.
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