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8 de janeiro horror
Alexandre de Moraes (ou seria Isadora Ribeiro na abertura do Fantástico?): “O horror! O horror!”| Foto: Montagem de Eli Vieira

Mais do que o deleite com um quê e muitos ais e uiuiuis de sadismo, repare no pavor que toma conta da expressão dos ministros do STF ao condenarem os pobres-diabos que participaram do 8 de janeiro. As pupilas se dilatam. Os pelos (maldita reforma ortográfica!) da cauda se eriçam. O rosto todo se contorce numa careta ameaçadora, mas cheia de orgulho. Chega a dar pena.

Como bem disse meu amigo Luís Kawaguti, os ministros do STF acreditam estar diante de um momento de gravidade histórica ímpar. E não de um bando de vândalos, alguns deles de andador e bengala (e não digo isso jocosamente; é apenas a constatação de que não havia nenhum furor revolucionário juvenil naquela balbúrdia), revoltados com aquilo que se sabe óbvio, mas não se pode dizer. “Parecem estar diante da Batalha do Somme”, escreveu o jornalista nipopolaco e intérprete bissexto de clássicos do bolero.

Tora! Tora! Tora!

Ora, não foi a própria presidente do STF, a excelentíssima e limitadíssima Rosa Weber, quem comparou os atos de 8 de janeiro ao ataque dos ancestrais do Kawaguti a Pearl Harbor? Naquele dia 7 de dezembro de 1941, que entrou para a história como o Dia da Infâmia, o Japão matou 2335 norte-americanos. Enquanto os ministros no STF tiveram de, no máximo, trabalhar do conforto de seus lares por uns dias, enquanto seu palacete de falácias (mas falácias democráticas, hein!) era limpo e arrumado.

“O horror! O horror!”, dizem eles, e somos transportados para a fronteira entre o Vietnã e o Camboja no clássico “Apocalypse Now”. Alexandre de Moraes enlouquece diante de nossos olhos, ao vivaço na TV Justiça. Enlouquece porque tanto o Coronel Kurtz de Marlon Brando quanto o interpretado pelo juiz canastrão e dublê de ministro almejam ser Deus. Enlouquece porque quer escravizar um povo que considera inferior. Enlouquece porque trava uma guerra tomisticamente injusta. Enlouquece porque, a cada dia que passa, ele perde, para si mesmo, uma batalha dentro de si.

Catástrofe!!!!!

Esse sentimento (e a palavra aqui é importante) de que o 8 de janeiro foi uma catástrofe, ou melhor, CATÁSTROFE!, ou melhor ainda, CA-TÁS-TRO-FE!!!!!!!!!!!! que quase extinguiu nossa democracia jurássica é compartilhado pelos demais ministros do STF – tirando as exceções de praxe. Aliás, viram que André Mendonça QUASE teve coragem de enfrentar Alexandre de Moraes? Quase. Bateu na trave. Quem sabe um dia... Mas onde é que eu estava mesmo?

[BARULHINHO DA FITA SENDO REBOBINADA] Esse sentimento de que o 8 de  janeiro foi uma catástrofe sem precedentes é muito real. E é isso o que torna a cruzada suprema tão perigosa. Eles realmente acreditam terem sido não só testemunhas, mas sobretudo vítimas, de uma tragédia-cheia-de-pontos-de-exclamação causada por aqueles que, absurdo dos absurdos, insistem em não aceitar o abuso de poder que os ministros STF perpetram “em nome do amor”.

José Newton já dizia...

Como todo narcisista rendido ao mundo e cheio de si, mas não de Deus, os ministros do STF também são hipersensíveis. Sensibilíssimos. E por isso se ofendem mortalmente com qualquer coisa. Qualquer palavra assim mais enfática. Qualquer janela quebrada e sala revirada. Qualquer crítica. Qualquer lógica que exponha a fragilidade cognitiva deles, delas e delus. Qualquer fato que os faça terem de encarar o orgulho ferido no espelho.

A realidade e a verdade são, para eles, ameaças. E é por isso que Alexandre de Moraes & Cia. farão de tudo para extirpar a liberdade que eles enxergam como um mal. O problema é que, no afã de proteger a democracia de mentira em que vivem e na qual agem como reis (sem nem se darem conta da contradição), eles só fazem esticar a proverbial corda. Que uma hora há se romper – como já previa José Newton – deixando um dos lados com a bunda no chão. Qual eu não sei.

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