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[Dedico este texto à professora Vanilde, que me ensinou a ler e a escrever, e aos professores que me ensinaram, talvez com uma ênfase exagerada, a ter espírito crítico].

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Eu, você, todo mundo teve professores bons, às vezes até muito bons, inspiradores e tal. E outros francamente ruins, deploráveis, quando não medíocres. Tive professores que, para além do beabá, me ensinaram a pensar por conta própria, levando em conta valores sobre os quais eles não tinham controle. A eles sou grato para além do que consigo expressar aqui.

Por outro lado, tive “mestres” como Judite, minha professora de OSPB (Organização Social e Política Brasileira). Uma funcionária pública meio nazistoide e fã da Ditadura que faltava ao serviço uma vez por semana para ensinar patriotismo e anticapitalismo com um livro do Frei Betto. Vai entender.

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Professores são indivíduos, cada qual com suas idiossincrasias, talentos, histórias de superação, frustrações, tragédias pessoais, anseios. Seres complexos. Quando se juntam numa corporação, contudo, eles perdem essa individualidade (uma individualidade que muitas vezes lhes é autoritariamente tirada) para se transformar em “classe”. Este é um texto sobre os professores enquanto classe, não enquanto indivíduos. Até porque, em se tratando de professores, está mais do que claro que os bons também se tornaram reféns do Espírito de Corpo.

E a classe, qualquer uma (até mesmo a dos jornalistas), é sempre um ser amorfo, mais imoral do que amoral, um filhotinho de Leviatã. No caso dos professores, esse filhotinho de Leviatã virou um corvo de estimação que há muito se diverte furando os olhos da sociedade.

Exemplos dessa classe que nos sequestrou são o querido-mas-antiético professor Raimundo, criação do genialmente ambíguo Chico Anísio, e as professoras Isadora e Irene de "Central do Brasil". São personagens que parecem ter sedimentado uma imagem imaculada, quase santa mesmo, que passamos a fazer dos professores. Fruto de um sentimentalismo que nos impede de vê-los como indivíduos complexos que são e que os transforma em abnegados sacerdotes da Educação – a deusa não do conhecimento, e sim dos diplomas.

Foi a partir da ideia questionável de que “o magistério é vocação e sacrifício” e de que o Pisa, Ideb e outros indicadores criados por burocratas vão nos levar ao Paraíso que nos tornamos reféns dos professores enquanto classe. Afinal, quem tem coragem de negar algo à "profissão que forma todas as outras profissões"? Unidos em sindicatos liderados por comunistas, uns mais e outros menos declarados, eles conseguiram até mesmo que pagássemos um belo resgate de 10% do PIB em investimentos na Educação até 2024. Em troca, garantem que seremos não pessoas melhores, e sim cidadãos melhores.

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Mas venho do futuro e trago más notícias: esse Everest de dinheiro (quase R$1 trilhão) não salvará o Brasil.

Escoadouro de dinheiro

Se a pandemia de Covid-19 serviu para outra coisa além de dar vazão ao fascismo sanitário foi para mostrar, a quem tem olhos de ver, que os professores não são nada santos. Não são seres puros, desprovidos de autointeresse e que precisam ser valorizados e exaltados a qualquer preço. São até um tantinho desnecessários. Prova disso é a relutância deles em voltar a dar aulas. Mas quem se importa com a “vocação e o sacrifício” quando o que está em jogo é a luta política mesquinha e o direito a receber o salário no conforto de casa, talvez lendo Márcia Tiburi para passar o tempo, não é mesmo?

A desculpa de que os professores não querem voltar a dar aulas porque temem o coronavírus tampouco faz sentido. Afinal, se fossem coerentes e realmente rezassem pela cartilha da “ciência, ciência, ciência” da Organização Mundial da Saúde, os professores saberiam que até os burocratas do Unicef temem os prejuízos causados pela ausência das crianças nas escolas. Se a Educação fosse mesmo o objetivo maior da classe, a Salvação que os professores prometem à sociedade, jurando com a mão esquerda sobre um exemplar puído de “Pedagogia do Oprimido”, de Paulo Freire, eles estariam se manifestando pela reabertura das instituições de ensino, e não o contrário.

A pandemia e o agradável ano sabático semiforçado dos professores também serviram para mostrar que a Educação, controlada por sindicatos (só a palavra já me dá engulhos) poderosos, é um escoadouro de dinheiro público, um sistema ineficiente e caro que a sociedade encontrou para, primeiro, se iludir de que teremos um futuro idílico se o Zezinho aprender de uma vez por todas a tabuada do 7 e, depois, arranjar um lugar para esse mesmo Zezinho passar o dia enquanto os pais trabalham.

Da pré-escola à universidade, a Educação nada mais é do uma demorada creche de luxo onde os estudantes aprendem a amar o Che e, com alguma sorte, a fórmula de Bhaskara.

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Divisão com dois números na chave

Educação é bom e eu gosto. Gosto tanto que nunca dependi de professor algum para aprender nada. Professores não são, ao contrário do que diz o senso comum, detentores do saber. Eles são apenas intermediários num processo que é bastante natural para quem tem interesse. A professora Vanilde me ensinou a ler e a escrever e a ela sou muito grato, mas a partir daí coube sempre a mim buscar o conhecimento que a alfabetização me permitia decifrar.

A despeito dos esforços dos sindicatos para fazer crer que, sem os professores, a sociedade está fadada às trevas, a história e a evasão em massa causada pela pandemia mostram que o interesse pela educação é igualmente individual, complexo, idiossincrático, e não uma característica dos estudantes como um todo. A pressão dos universitários “em greve” para que não haja ensino a distância ilustra isso com um toque de humor negro.

De volta ao ensino fundamental e médio, é por isso que, em meio à pandemia, o sempre controverso homeschooling ganhou força. De repente, e meio que obrigados, os pais perceberam que seus filhos dispõem de toda informação do mundo e que só precisam de uma orientaçãozinha e alguma disciplina para tirarem uma nota no ENEM que lhes permita entrar para uma faculdade.

Onde aprenderão, entre outras coisas, que professores são seres iluminados e que um país tem que investir trocentos zilhões na Educação para quem sabe um dia ter uma população capaz de fazer divisão com dois números na chave.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]
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