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Vivemos acuados pelo medo. Medo de sofrer um acidente, da bala perdida, da catástrofe, de ser traído, de perder o emprego, de perder alguém querido.

Diariamente os telejornais do mundo mostram cenas chocantes. Recentemente 154 vidas foram ceifadas na queda do avião da Gol. Nos últimos dias o país inteiro veio acompanhando o caso da cratera do metrô em São Paulo. Ficamos atônitos. Sensibilizados com a dor dos familiares dessas vítimas e, certamente, agradecidos por não ver ali nenhum conhecido. É nestes momentos que paramos para repensar os relacionamentos e refletimos sobre a morte.

A morte é a única certeza que se tem na vida. É uma realidade difícil de ser compreendida porque pouco se sabe sobre ela e pouco estamos interessados em discutir o assunto. Simplesmente porque acreditamos que ela pertence aos outros, esquecemos que um dia chega para todos, inclusive para nós mesmos. Na nossa cultura ocidental a morte é tratada como tabu. Somos educados para temê-la. Vivemos a cultura da ciência, do culto ao corpo e do prolongamento da vida.

O ser humano pode buscar seu próprio desenvolvimento e amadurecimento emocional. No decorrer deste processo ele se depara no dia-a-dia com situações de conflitos que geram angústias cruciais: a frustração, a angústia da finitude, a morte. É preciso aprender a refletir e a pensar a respeito dos sentimentos dolorosos da existência humana.

O filósofo existencialista Heidegger dizia que: “uma existência autêntica só se torna possível quando os homens interiorizam o pensamento da morte, quando compreendem não apenas que todos os homens são mortais, mas que têm de morrer suas próprias mortes e, que ninguém o pode fazer por eles. Então eles podem ser livres para viver suas próprias vidas, não como um qualquer, mas como eles próprios”.

No entanto, quando a morte bate na porta da nossa família, ou quando alguém se depara com a proximidade do fim, muita gente busca nos dogmas da religião, através da fé, explicações e força para lidar com a impermanência das coisas e aceitar a transitoriedade da vida. Quando isso acontece a primeira reação é a não aceitação de que tenha batido no endereço certo. É tentar negá-la, fugir, sentir medo da dor e da frustração de perceber que não se tem o controle da sua existência. Ela vem, com ou sem aviso e leva a quem mais amamos, filhos, pai, mãe, marido, mulher, amigos.

A perda de um ente querido traz mudanças radicais em nossas vidas no âmbito afetivo e estrutural, pois vínculos importantes são rompidos. Quanto maiores e mais fortes forem os laços de dependência, mais difícil será a elaboração da perda.

Quem tem dificuldade para aceitar e falar sobre a morte precisa entender que nada nesta vida é permanente. Que estamos aqui de passagem. Que é agora e não depois que devemos ajudar ao próximo, para amanhã não sentir a dor do remorso. A racionalidade excessiva, às vezes, pode prejudicar os relacionamentos pessoais. Por isso, é necessário tentar ser menos exigente e mais afetuoso com as pessoas que fazem parte do nosso cotidiano. Lembrar sempre de dizer às pessoas queridas o quanto as amamos. Assim, quando a saudade invadir nosso coração teremos somente boas lembranças e a certeza de que contribuímos para a alegria e felicidade de quem nos deixou para sempre.

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