Requião recebeu a Gazeta do Povo em sua casa, em Curitiba.| Foto: Roger Pereira
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Para onde vai Roberto Requião? Desde que saiu do MDB, partido que ajudou a fundar e do qual foi uma das principais lideranças por décadas, mas que não o quer candidato ao governo do Paraná, o ex-governador e ex-senador tenta achar uma legenda para que possa disputar o Palácio Iguaçu pela sexta vez. Mesmo sem uma sigla, Requião tem feito caravanas pelo estado e desponta como única alternativa da esquerda para desafiar o governador Carlos Massa Ratinho Junior (PSD) e garantir um palanque com visibilidade ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no Paraná. Nesta entrevista à Gazeta do Povo, ele revela que o PT de Lula tende a ser seu destino, mas que a decisão ainda não está tomada e depende, principalmente, da decisão dos diretórios nacionais dos partidos em formarem uma federação partidária com PT, PSB, PCdoB e PV.

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Aos 80 anos, e caminhando para a eleição ao lado de Lula (76), Requião não sente que falta renovação nos quadros políticos da esquerda e centro-esquerda e ainda critica a tentativa de Ratinho Junior de renovar o executivo estadual, chamando de “molecada” os secretários e principais assessores e aliados do governador.

Críticas não faltaram, também, ao seu ex-partido, aos deputados do PSB do Paraná, ao presidente Jair Bolsonaro (PL) e ao pré-candidato à Presidência da República Sergio Moro (Podemos)

Confira a entrevista:

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A última entrevista que o senhor deu para a Gazeta do Povo foi em 2019 e o senhor disse que ia manter-se como um militante dedicado às causas nacionais. O que mudou para o senhor querer voltar a discutir a política local, a ponto de ser pré-candidato a governador?

Militante é o que eu sou desde que eu nasci. Eu faço política porque sou de uma família interessada em mudanças sociais, desde meu trisavô. Eu entrei na política motivado pelo desejo, na época juvenil, de mudar o mundo, de contribuir para a sociedade. Então eu sou um militante na política. Nunca tive preocupação em ter cargo público, mas, por via de consequência, eu entrei para ajudar o PMDB na fundação e acabei sendo deputado estadual. Hoje, depois de ter sido governador por três vezes, senador por duas vezes, presidente do Parlamento Europeu – Latino-americano, em Bruxelas, presidente brasileiro do Parlasul (Parlamento do Mercosul), e tendo acompanhado esse movimento econômico e filosófico do mundo, com essa abertura do liberalismo, seus fracassos, seus acertos e erros, eu estou olhando o que acontece no Brasil e no Paraná. E resolvi participar de novo. O Paraná é um verdadeiro horror, o Rato (governador Ratinho Junior) não tem ideia do que faz no governo. Os erros são simplesmente brutais. Veja o que aconteceu com o ferry boat de Guaratuba: fizeram uma concorrência, tiraram exigências, puseram um sujeito que não sabia o que fazer. Provocaram aquela bagunça e, de repente, o Rato diz “não podemos mexer numa concorrência durante o verão”. Ele já devia ter intervindo naquilo, tomado posse daquilo, e colocado um operador capaz - se o DER não é -, para resolver o problema da temporada, de milhares pessoas que estão sofrendo. Então eu resolvi participar desse processo, dar uma alternativa. O Rato, hoje, e seu pai, têm cinco emissoras de televisão, 14 de rádio e 91 rádios transmissoras do que eles produzem, é o domínio da comunicação no Paraná. Não fazem rigorosamente nada, não têm ideia do que fazem. Venderam, por exemplo, a Copel Telecom, para alugar no dia seguinte para fazer funcionar as escolas, a Receita Estadual e as usinas da Copel. O mundo clama por uma internet pública para o povo poder ter acesso sem despesas absurdas ao conhecimento, ao intercâmbio de informações, e eles vendem isso aqui. Estão vendendo ações da Copel, da Sanepar, com tarifas absurdamente caras e sem nenhuma obra significativa. Estão mandando dinheiro para fora. A Sanepar é empresa “3 A” no mercado. O que o povo que paga conta brutal de água tem a ver com isso? E esse dinheiro vai para onde? Para investidores estrangeiros que investiram na Bolsa de Nova York e sequer sabem onde fica o Paraná. Eu fiquei indignado com tudo isso. É uma incompetência radical. E eu, convidado por companheiros de sete partidos, comecei a fazer a caravana pelo Paraná, para levantar o nível da consciência popular. E me coloquei como pré-candidato ao governo do estado. Daqui a um mês, vou me definir por um partido, com o consenso do grupo que está me apoiando.

Até o senhor se apresentar, Ratinho Junior governou o Paraná sem uma sombra, sem um antagonista, com uma oposição limitada à enxuta bancada de oposição da Assembleia. Assim, ele passou por esses três primeiros anos de mandato sem ser muito contestado e bem avaliado, o que lhe dá certo favoritismo, não?

Com algumas brilhantes exceções, temos uma Assembleia absolutamente medíocre. E com os partidos sendo adquiridos. Por exemplo: ele adquiriu o MDB, não sei de que forma. É um jogo sórdido de eliminar qualquer crítica. Agora, não tem governo. É a história do novo, mas é uma molecada de uma incompetência absoluta. Eles não têm ideia do que estão fazendo. Lembro dele na campanha, sua grande promessa era transformar milho em galinha, galinha em nuggets. E se elegeu com isso. Ele não tem a menor ideia do que está fazendo no governo. A Assembleia Legislativa é uma vergonha. O pedágio que ele resolveu estabelecer vai ter um preço bem mais caro do que antes, com mais 15 praças. Mas ele está tentando fazer o que o Lerner (Jaime – ex-governador) fez comigo na minha primeira candidatura. Baixou o pedágio que ele mesmo criou e ganhou a eleição, para, logo depois, sair uma liminar dizendo que o Estado não podia mexer no que havia sido pactuado e o pedágio subiu 100% e acabou nesse escândalo que todos conhecemos. Briguei contra o pedágio durante três mandatos, mas o Ministério Público Estadual e Federal davam parecer a favor do aumento da tarifa e o juiz dava uma liminar satisfativa – que nunca vai a julgamento de mérito, porque já resolve o caso. E aumentaram até isso tudo se transformar nesse escândalo que todo o Brasil conhece hoje. Agora, até o Ministério Público concorda e denuncia, depois de ter sido um instrumento dos aumentos absurdos. Neste ano, a história se repete: sabendo que o pedágio dele é absolutamente contra o interesse do Paraná, ele postergou a concorrência para depois da eleição. Fez hoje o que o Lerner fez ontem.

O senhor criticou a juventude que Ratinho Junior e seu grupo político representam. Mas a única aposta da esquerda, aqui, é a volta de Lula e a volta de Requião. Não está faltando renovação no campo progressista? Não há "moleques" na esquerda?

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Qual a diferença de um moleque e um homem maduro? A diferença é que o moleque está em formação. O homem maduro está formado, completo, leu e se experimentou. Já disse a você: fui governador três vezes, senador duas vezes. Eu sei o que devo fazer. Fiz e posso fazer de novo, tenho competência. E o resto da novidade foi uma onda absolutamente sem sentido. Claro que a juventude tem que se preparar para assumir o poder e não é impossível que jovens avancem acima do padrão de sua idade e tenham competência grande para administrar, para conhecer, para praticar ciência. Mas essa coisa da novidade é absolutamente ridícula. É uma novidade que elege quem? O Chico Linguiça, o Zé do Palanque, o Tibiriçá, o Capivara? Não tem cabimento, virou um circo. E o chefe desse picadeiro é o Bolsonaro e essa onda toda de renovação, que não era a onda de renovação, era a onda do entreguismo, para acabar com o projeto nacional para ser substituído por um projeto de globalização da economia. O que o Moro queria? Prender corruptos? Não. E o Bolsonaro é o animador do picadeiro. Quem administra é o Paulo Guedes e o interesse dos banqueiros.

Hoje o Lula cresce pelas suas qualidades, mas, também, pelos defeitos do Bolsonaro. O Bolsonaro se elegeu contra o PT e hoje o Lula cresce contra o Bolsonaro. É um erro, mas há uma falta de consciência política sobre o que aconteceu e o que cada grupo pretende

Roberto Requião, pré-candidato ao governo do Paraná

Essa onda de renovação, na eleição de 2018, tirou do senhor uma reeleição para o Senado dada como certa pelos institutos de pesquisa até a véspera do pleito. O senhor não teme que esse fenômeno se repita?

O país mudou. O mundo mudou. A América Latina toda já teve vitória dos candidatos da esquerda, progressistas, pelo menos, contra o liberalismo econômico. E não vai ser diferente no Brasil.

Lula ser candidato depois de todos os processos e condenações (revertidas pelo Supremo Tribunal Federal) não é um risco para a esquerda? Não se podia buscar um nome com menor rejeição?

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A rejeição foi fabricada. Procurar uma liderança com menor rejeição é aceitar a tese dos que condenaram o Lula sem provas, com Bolsonaro e toda a mídia. O Lula aprendeu muito em seus governos. Cometeu muitos erros. Eu fiz oposição à política econômica do PT, durante meu período no Senado, e apoiei tudo que achava positivo. O Lula aumentou o salário mínimo, colocou uma parte enorme da população no mercado de trabalho e no mercado de consumo. As pessoas viajavam de avião, faziam universidade e tinham mantidos seus direitos. Isso tudo acabou. Então, o que estamos vivendo hoje é a resposta à má administração, ao erro absoluto do liberalismo e dos picaretas da direita brasileira. Não deu certo. A minha mágoa é que isso não seja politizado, que o povo não entenda, por exemplo, que a Lava Jato servia para entregar a Petrobras, na guerra americana no mundo pelo petróleo. Estamos errando em tudo e falta um pouco de consciência política nisso. Se o pessoal entendesse um pouco mais de economia, nós teríamos um governo mais progressista do que teremos. Agora, o Lula, hoje, aparentemente, para mim, é a melhor opção. É a saída que temos para uma transição dessa barbárie.

E o senhor dará ao Lula o palanque que ele precisa no Paraná?

Por que você quer me condenar a não apoiar o Ciro, por exemplo? O Ciro Gomes está prestando um serviço enorme para o Brasil, discutindo a política. Ele presta um desserviço a ele mesmo quando se transforma no opositor do Lula. Ao invés de aparecer como um sujeito capaz de transformar as coisas, ele se colocou como um sujeito tomado pelo ódio a algumas pessoas. E fica difícil entender isso porque ele foi ministro do PT. Mas ele tem dado uma importante contribuição ao debate político do país. Agora, eu vou participar desse processo com meus companheiros, com o PT, sem sombra de dúvidas. O PT tem me acompanhado, mas o PDT tem me acompanhado também. E o compromisso que eles colocaram, a proposta que eles fizeram, é que os partidos me apoiem independentemente da minha posição em relação à Presidência da República.

E quando sai essa definição? O PT já escancarou o convite. Até o Lula tem participado da articulação.

O PT escancarou, o PDT escancarou, a Rede escancarou, o PCdoB escancarou, o PSB escancarou. Mas eu pretendo, em determinado dia, ir à Igreja do Rosário, esperar a iluminação.

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Essa definição passa pela questão da chapa proporcional, uma vez que seu filho deve segui-lo no novo partido?

Não. Ele escolhe o partido que ele quiser. Ele é meu filho, mas tem a personalidade própria, a posição dele, que nem sempre é igual à minha. Jogamos juntos, mas a questão eleitoral não é uma questão ideológica no Brasil, hoje. Hoje o Lula cresce pelas suas qualidades, mas, também, pelos defeitos do Bolsonaro. O Bolsonaro se elegeu contra o PT e hoje o Lula cresce contra o Bolsonaro. É um erro, mas há uma falta de consciência política sobre o que aconteceu e o que cada grupo pretende.

E a sua saída do MDB, depois de décadas no partido. Fica mágoa?

Eu coloquei o PMDB por três vezes no poder no Paraná. Eu fui um dos redatores da carta de princípios do PMDB nacional: partido das classes populares, desligado das decisões do grande capital. Então, foi o PMDB que saiu de mim. O PMDB fez uma reunião nesta semana para definir o preço do seu apoio ao Ratinho. Não tem cabimento algum isso. O MDB se transformou num balcão de negócios. O MDB tem 0,5% de apoio da população paranaense, não vai eleger nem um deputado.

Apesar de a gota d’água para sua saída ter sido a convenção estadual, o senhor fez oposição a um presidente da República do PMDB (Michel Temer) estando no PMDB...

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Claro, porque eu já não concordava com aquele PMDB dos negócios. O PMDB da entrega da Eletrobras, da Petrobras, do Banco do Brasil, da Caixa Econômica. O PMDB que queria tirar o direito dos trabalhadores, não que não houvesse necessidade de uma revisão na Consolidação das Leis Trabalhistas. Mas eles não fizeram revisão, fizeram extinção dos direitos do trabalhador, transformando trabalhadores em objetos.

Outro partido que o convidou, assim que o senhor anunciou a desfiliação do MDB, foi o PSB, via diretório nacional, no mesmo movimento que levou o Marcelo Freixo e o Flávio Dino para o partido. Mas os deputados estaduais do partido foram a Brasília, junto com o governador Ratinho Junior, para intervir pelo desconvite. Como está essa situação? Ainda há clima para que seu destino seja o PSB?

Depende do PSB. Eu acho que o PSB entrando na federação, esse pessoal todo que saiu do PMDB quando eu endureci e foi para o PSB, vai sair também. Como eles não têm proposta, não têm visão voltada ao interesse público, eles não vão largar o Ratinho.

Roberto Requião, ex-governador e ex-senador.| Foto: Jonathan Campos/Arquivo/Gazeta do Povo

Na morte do ex-governador Jaime Lerner, ano passado, foi marcante o vídeo que o senhor fez em homenagem a ele, seu rival político, diferenciando as questões políticas das questões pessoais. Queria saber sua opinião sobre seus dois outros rivais históricos: Alvaro Dias (Podemos) e Beto Richa (PSDB)

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Nunca deixei de reconhecer o talento do Jaime Lerner, o Jaime era meu amigo. Fiz política universitária junto com ele. O Jaime foi um belo prefeito de Curitiba, mas ele tinha uma visão da decoração urbana, do mobiliário urbano. Ele não tinha sensibilidade social. Ele estava incomodado com a cidade como uma máquina de viver, mas não se preocupava com a vida do povo. Sobre os outros dois, não penso nada no momento. O Alvaro começou bem, no velho MDB, mudou de posição na sequência. E eu já disse que a prisão do Beto Richa foi absolutamente irregular. Estou defendendo o Beto Richa? Não, estou defendendo o Direito e a Justiça. Os promotores não podiam fazer o que fizeram, é contra a lei. Que processem e, culpado, condenem, ponham na cadeia. Mas eles não podem estar resolvendo quem vai preso, quem não vai preso, e quando prendem; no período eleitoral, inclusive. Eles passaram de todos os limites e têm que ser contidos.

E como seria um eventual quarto governo Requião, 30 anos depois do primeiro?

À moda pragmática do Lula. Imediatamente eu baixo a tarifa de água e energia elétrica. Coloco as empresas públicas a serviço das pessoas do Paraná e não do mercado. E farei aquele governo que eu fiz, melhorado com a experiência que adquiri nos cargos que ocupei.

No cenário nacional, seja quem for o próximo presidente eleito, tendemos a ter um país dividido. Há como pacificá-lo?

Que cartilha que você leu sobre essa divisão? Essa divisão é uma ilusão. O país já rejeitou o bolsonarismo, o liberalismo e o Guedes. Agora, o problema, para ser governador, é que precisamos ter um presidente da República afinado com as ideias e políticas populares. Eu reitero que o Ciro está prestando um bom trabalho na discussão, apesar da língua solta e destrambelhada, e acho que o Lula já é presidente da República, já ganhou a eleição. Não vejo como se possa reverter esse processo. Acho que essa eleição está sendo um processo eleitoral emocional: não é inteligente, não é consciente, não é politizado. E acho que, aquilo que acredito, eu tenho que continuar brigando por isso. E o melhor, no momento, é a eleição do Lula, embora eu discorde dele em muitas coisas.

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E a candidatura de Sergio Moro?

É um quadro mediano, lê umas apostilas, virou um juiz medíocre: não é muito burro, mas também não é inteligente e não tem cultura. E cada vez que ele fala, ele se desmoraliza mais. Agora, está evidenciando que fazia o jogo dos americanos, ao declarar que, se presidente, vai privatizar a Petrobras.