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O amor que funda a família
| Foto: Andreas Wohlfahrt/Pixabay

Na engenharia da construção de casas e edifícios, fundação ou alicerce são os termos utilizados, no jargão, para designar as estruturas responsáveis por transmitir as cargas da construção ao solo. Existe uma série de tipos diferentes de fundações, projetadas levando em consideração a carga que vão receber e o tipo de solo em que serão firmadas. Há fundações rasas, para o caso de cargas leves; e mais profundas, para os edifícios altos em que os esforços do vento serão consideráveis ao longo dos anos.

Assim como há a fundação de uma casa, que é material, há também a fundação de um lar, de uma família, que será a verdadeira vida da casa. A família, assim como um edifício muito alto, que arranha o céu, tem a pretensão de levar os seus membros para o Céu imaterial; e, assim como aquele vai padecer os reveses do clima e a força dos ventos, a família também terá de resistir às ventanias e temporais da sociedade e da cultura, aos ataques de inimigos e invasores e, em suma, a todas as investidas do que a tradição chamou sempre de mundo. Portanto, a fundação da família precisa ser muito sólida e profunda, e cravada num solo firme e confiável. E qual é o fundamento da família?

Uma palavra, para resposta, talvez ocorra facilmente a muita gente, e não será novidade dizer que o que sustenta uma família é o amor. Sim, mas isso de nada nos serve se, associada a essa palavra, estiver apenas uma ideia vaga, uma mistura incoerente de imagens alegres, sorridentes e emocionadas. O que se quer dizer com esta palavra, propriamente? Mais ainda: há somente um amor, geral e genérico, que cada membro da família tem por todos os outros? Todos os amores da família são igualmente amor, sim, mas amores distintos, pois o amor, sendo algo radicalmente pessoal, muda conforme a pessoa – quem ela é, quem somos para ela e o que ela é para nós. E, se essa ideia lhe soa um pouco estranha, como se dividir ou distinguir uma realidade tão absoluta quanto o amor fosse diminui-lo ou rebaixá-lo, é porque é mesmo endêmica na nossa geração uma má compreensão sobre as relações que existem dentro da família, e portanto uma compreensão errada do que seja o amor que os pais devem aos filhos, e da diferença que existe entre ele e o amor que um marido deve à sua esposa e vice-versa.

É bastante compreensível que a nossa geração não tenha suficiente clareza sobre os papéis de cada membro da família, dada a falta de referências, de exemplos nítidos, por melhores que nossos pais tenham sido para nós

Nossa geração desaprendeu a distinguir não somente a hierarquia das relações dentro da família, mas o próprio papel de cada membro nesse contexto, e até o próprio papel da família na sociedade. Essa grande confusão de papéis não é recente, e tem raízes que remontam à Revolução Industrial, no século 18, quando os homens, em vez de trabalharem próximos de casa, num ofício de família que envolvia a todos, passaram a sair de casa muito cedo e a tomar o bonde para trabalhar lá longe, na indústria, deixando em casa a mulher e os filhos, até muito tarde. Depois, também as mulheres começaram a sair de casa para trabalhar, e a deixar os filhos na recém-criada escola obrigatória. Essas foram das maiores mudanças que já se viu na história com relação às famílias.

Mas a geração dos nossos pais – ou seja, os pais daqueles que hoje somos pais, com nossos mais ou menos 30 a 45 anos – sofreu ainda mais com as grandes influências e transformações sociais e culturais que ocorreram no século 20, especialmente nos anos 60: a “liberação sexual” e a grande confusão relacionada ao lugar da religião na orientação da vida das pessoas. Por isso é bastante compreensível que a nossa geração não tenha suficiente clareza sobre esses papéis, dada a falta de referências, de exemplos nítidos, por melhores que nossos pais tenham sido para nós. A geração deles não sabia muito bem para onde estava sendo conduzida, e agora, à distância, podendo ver os resultados daquelas ideias e daquelas práticas, cabe a nós resgatar um pouco dessa compreensão. Bebendo de fontes mais antigas do que nossos próprios pais, temos a possibilidade de refazer o elo rachado com alguns valores, e reinventar os seus princípios na nossa nova circunstância, concreta e atual.

Pode soar bastante antiquado falar hoje, em praticamente quase todos os meios, da união entre um homem e uma mulher como algo sagrado, um laço atado para o resto da vida, e cujos frutos mais doces serão colhidos, ainda por cima, após o fim desta vida. Uma relação indissolúvel, para além de qualquer dificuldade – ou pior, em que se deseja as dificuldades, num certo sentido, para justamente aproveitar-se delas para fazer o amor triunfar e vencer, e assim se fortalecer. O critério oficial e mais difundido hoje em dia, ao contrário, é o de julgar os relacionamentos conforme a realização própria, pelo contentamento que nos dão os seus prazeres e pela satisfação dos desejos mais imediatos – quando não de desejos mesquinhos e egoístas. Por baixo de justificativas edulcoradas e sentimentalistas jaz um critério feio de assumir: se o outro me serve, me atende, faz para mim o bem que eu desejo, estou junto; se gera alguma dificuldade, se eu preciso me mover, me doar, me negar ou me sacrificar por ele ou para que o relacionamento encontre novamente harmonia e paz, é melhor abandonar, a história chegou ao fim, foi “eterna enquanto durou”.

Se os indivíduos já partem à busca de um relacionamento com essa visão, se já dirigem o olhar para os outros com base nessa premissa “divorcista”, segundo a qual há algumas condições para que o casamento persista, mas que se eu – que venho sempre em primeiro lugar – não estiver “feliz” devo partir para outra, não há nada mais lógico do que terminarem mesmo. E tenham claro, por favor, que com isso não estou dizendo absurdidades, como alguns poderiam objetar, de que as mulheres, e mesmo os homens, devem aturar situações de violência, abuso, ou de que devem ir por caminhos errados somente para acompanhar o cônjuge, unidos até o fim, mesmo que o fim seja o Inferno. Eu estou falando de um casamento, ou seja, da união consciente de duas pessoas num mesmo projeto, num mesmo propósito, que se baseia, simplesmente, no objetivo de fazer o outro verdadeiramente feliz, e de nisso encontrar sua própria felicidade, tendo claro de antemão que, muitas e muitas vezes, o outro vai falhar em fazer isso por você, e que você vai precisar perdoá-lo.

Um relacionamento cuja motivação seja somente buscar a própria felicidade, entendendo com essa palavra a própria alegria superficial, o próprio conforto, a própria facilidade e a própria satisfação, não tem como se perpetuar por muito tempo, por se tratar de uma impossibilidade pura e simples. Primeiro, porque ninguém é capaz de oferecer isso a um outro sempre; segundo, porque isso não é verdadeira felicidade, e vai, em momentos de crise e confusão que talvez nem a própria pessoa compreenda, deixar de satisfazer. Esse bem, que ingenuamente se busca, não é felicidade e satisfação verdadeira, profunda, duradoura. Porque a felicidade humana consiste num misterioso paradoxo, num nexo aparentemente contraditório que existe entre negar-se a si mesmo, entregar-se e, nesse gesto, ganhar-se e ser feliz como na parábola do grão de trigo, que precisa morrer para florescer, ou parafraseando a velha piada: “o que é, o que é, que quanto mais tiro, maior fica?” – que, neste caso, não é o buraco, mas sim o nosso coração. Quando mais o esvaziamos do amor-próprio, do egoísmo e da autoindulgência, que sobrevivem melhor em corações pequenos e mal arejados, mais se expande e maior fica o nosso coração, e nele passa a caber um amor genuíno, e ainda mais engrandecedor.

Relembremos, porque nunca é demais, os famosíssimos versos de Camões, cujo intuito é definir o amor:

É um contentamento descontente [...]
É cuidar que se ganha em se perder
É querer estar preso por vontade
É servir a quem vence, o vencedor

Um relacionamento cuja motivação seja somente buscar a própria felicidade, entendendo com essa palavra a própria alegria superficial, o próprio conforto, a própria facilidade e a própria satisfação, não tem como se perpetuar por muito tempo

No nível do corpo e das emoções, sentimos de fato como algo ruim, e ficamos descontentes, ao ter de aturar os defeitos do outro, e a perdoá-lo, contra as probabilidades; mas é nesse esforço que seremos verdadeiramente contentados, em nossa sede íntima de amar. Parece que estamos perdendo, e às vezes estamos, de fato, perdendo alguma coisa exterior, mas que será sempre menos importante, de menor valor e de menor duração, para ganhar coisas invisíveis, interiores, que são eternas. É um ato de vontade própria manter-se fiel, dedicar-se à família, e assim prender-se às atividades, compromissos e serviços relacionados ao cuidado ou ao sustento do lar e dos filhos, aquela tonelada de tarefas que não faz sobrar tempo; mas, sendo feito por vontade, numa atitude voluntária de entrega, é amor, e o amor, como dissemos, esvazia, engrandece e realiza intimamente. E “é servir a quem vence, o vencedor” todas as vezes em que estamos “certos” em nossa pequena justiça, e assumimos as penas, e pedimos desculpas quando merecíamos um pedido de desculpas, numa briga: para o olhar desatento, estamos servindo a quem vence, mas, no nível das coisas que mais importam, somos os verdadeiros vencedores, entesourando algo muito maior do que ganhar uma discussão.

Teço essas reflexões com o fim de nos aproximar de uma noção mais autêntica do amor verdadeiro – na medida em que é possível aludir, com palavras, a uma realidade que só se conhece de fato na prática, dando um primeiro passo no escuro, contra o medo e a desesperança. Como dissemos no início, não é difícil vir à boca das pessoas a palavra “amor” quando se pergunta o que está na base de uma família. Por isso era necessário, antes de qualquer coisa, distinguir o verdadeiro amor do egoísmo disfarçado de amor. Mas, ao mesmo tempo em que este é o sentido do casamento – amar assim o seu marido ou sua esposa, e ser feliz buscando a felicidade do outro, nessa misteriosa contradição –, nós temos de distinguir as notas próprias que caracterizam esse amor conjugal, que não são as mesmas do amor filial, nem o dos pais para com os filhos, nem o dos filhos para com seus pais. São as características que ele precisa necessariamente apresentar para que seja o que deve ser, para que exista desse seu modo particular, e de fato se concretize plenamente em nossa vida. Suas notas são, tantos quantos são os dedos de nossa mão, cinco. O amor conjugal deve ser 1. plenamente humano; 2. total; 3. fiel; 4. exclusivo; 5. fecundo. E o que isso quer dizer?

Ele é plenamente humano, porque envolve o ser humano inteiramente, em todas as suas dimensões, sem deixar nada de fora. E o ser humano não é apenas corpo, nem apenas corpo e sensações, nem apenas sensações e emoções. Mas também não é tão-somente mental, nem mesmo intelectual. O amor do casal envolverá desde os seus corpos, nos prazeres e nas dores, na saúde e na doença, e também seus pensamentos e sentimentos, seus ideais e esforços de vontade, até o seu espírito imortal, a sua pessoa, propriamente, e só assim pode ser plenamente humano. E será total, como quando damos a alguém um presente, não importando o que se fará dele depois. Não há condições, nem ressalvas, nem a possibilidade de se tomar de volta, ou áreas da nossa vida em que preservaremos à parte. Não haverá vidas paralelas. Nossa vida estará totalmente comprometida nele, e assim ele será total.

Deve ser fiel, não somente no sentido mais óbvio da palavra, ligado às traições e relações extraconjugais, que são um caso mais grave e patente de infidelidade. A fidelidade ao compromisso conjugal deve estender-se no tempo, a cada dia e a cada instante, a todas as vezes em que, apesar dos pesares, formos fiéis à entrega total e plenamente humana que nos propusemos a fazer. Quando dizem “não foi com esta pessoa que me casei”, as pessoas estão ignorando que a substância da vida humana é a sua história, composta por suas escolhas de como viver as circunstâncias. Então foi, sim, com aquela pessoa que nos casamos, e justamente por ser pessoa ela vai mudar – e com nossa fidelidade a ajudaremos a mudar para melhor. E deve ser exclusivo, de um para um, de um só homem para uma só mulher, e vice-versa; não é possível entregar-se totalmente e ser fiel a duas pessoas ao mesmo tempo, afinal. E, por fim, é nota marcada e necessária do amor conjugal a fecundidade, isto é, que ele esteja aberto e disponível para atingir o seu ápice, o seu coroamento simbólico, que é a conjunção material daquelas duas pessoas na miraculosa geração de uma terceira, à qual se dará um novo nome.

Reparem como todas essas marcas, uma após a outra, vêm sendo atacadas, ridicularizadas e sistematicamente relativizadas pelas vozes da cultura de massa, ao menos desde a geração de nossos pais. Valoriza-se como motivo de uma relação unicamente o desejo físico, ou o desejo físico mesclado de uma “química” psicológica, o que não é plenamente humano. Cria-se uma teia de raciocínios e de argumentos para tergiversar a doação e a entrega, e alegar como é preciso preservar-se e estabelecer seus limites, e fazer as coisas para si mesmo em primeiro lugar. E seria ilógico não concluir, a partir disso, que a fidelidade e a exclusividade a um único “parceiro” são bobagens, que impedem a felicidade.

E a mais atacada de todas as marcas do amor conjugal é, sem dúvida, a última, a sua fecundidade. Após a criação dos anticoncepcionais, especialmente, o assunto nem é mais mencionado, saiu do horizonte, pois separou-se de vez a fecundidade inerente à relação sexual, corolário do amor conjugal, da satisfação individual. Mas mais importante ainda é que, por meio desse ponto, mina-se todos os outros, pois isso põe em xeque todos os deveres assumidos no compromisso entre um homem e uma mulher. Para dizer o mínimo, essa suposta “liberdade” sexual somente para o prazer tira muita responsabilidade de cima dos homens – e contribui muito para proliferação de adolescentes de 40 anos, maconheiros e jogadores de videogame – e joga sobre a mulher uma indevida responsabilidade: sobre a sua saúde, considerando-se todas as estatísticas relacionadas ao uso de anticoncepcionais.

Se a natureza do amor conjugal não estiver clara para os pais, se ele não for cultivado em primeiro lugar, os filhos carecerão da estabilidade que é moldada por esse amor, da qual necessitam para ser bem educados

Enfim, quando se abole a fecundidade do casal, transforma-se essa relação em algo muito parecido com o que se dá entre dois homens e duas mulheres – que é necessariamente estéril. E assim começa-se a afirmar que qualquer relacionamento tem o mesmo nível de dignidade, e pode-se chamar tudo de “família”, quando, na verdade, sem a abertura para a fecundidade, que é o sulco definitivo da entrega e das exigências do amor total, não se tem um amor conjugal pleno, e portanto não se perfaz a plena realidade da família (esclareço, antes das críticas: isso em nada diminui a dignidade dos casais que, por qualquer razão, estejam impedidos de ter filhos, ou aos quais essa graça simplesmente não aconteça, ou que, por justas razões, sejam orientados a evitá-los. Falo aqui da marca da fecundidade, que é a abertura do casal para o florescimento do seu amor nos filhos que Deus lhes quiser dar. Ter filhos não é direito nem dever, é graça).

Então, é esse amor, o conjugal, que é fundação da família, e não o amor filial, que é diferente dele e, no contexto sadio da família, dele provém. E se a natureza desse amor conjugal não estiver clara para os pais, se ele não for cultivado em primeiro lugar, os filhos carecerão da estabilidade que é moldada por esse amor, da qual necessitam para ser bem educados. Se houver uma confusão de papéis – e de amores –, o desarranjo será geral. Nós podemos mencionar casos mais graves, em que, numa estranha disputa de afetos, o pai ou a mãe é levado a optar por um filho em detrimento do cônjuge, ou em que o filho dorme com um dos pais no quarto no lugar do outro cônjuge, e em casos extremos em que, sufocados por essas distorções, o casal se separa após a chegada de um filho, ou após a saída desse filho de casa. Mas há casos mais corriqueiros, presentes em muitos lares, em que o filho interfere no relacionamento do casal por estar sempre presente, compartilhando a cama com os pais, e fazendo solicitações motivadas por um ciúme, da mãe ou do pai. O ciúme nada mais é do que um sentimento de desconforto e insatisfação relacionado a uma expectativa: a expectativa de exclusividade, de um amor exclusivo. Sendo assim, se existe um “ciúme saudável” ou ao menos justificável, é o que há entre os dois membros do casal, porque a exclusividade e a totalidade são de fato notas próprias do seu compromisso. Porém, não é próprio do amor que os pais devem aos filhos ser exclusivo, muito ao contrário: é a norma, segundo o que falamos do amor conjugal, quando nenhuma circunstância o impede, que um casal venha a ter mais de um filho, e mesmo muitos filhos. Portanto é intrínseco, é da própria natureza do amor filial ser múltiplo, ser dirigido a mais de uma pessoa, e é intrínseco ao ser filho assistir aos seus pais dando aquele amor também aos seus irmãos. Por isso todo ciúme nos filhos, seja de um dos pais com relação ao outro, seja no evento da chegada de um novo irmão, deve ser amorosamente corrigido com uma noção mais adequada de seu lugar na estrutura da família: o seu amor não é fundacional; não é o da raiz, mas o do fruto. E isso, embora possa parecer doloroso num primeiro momento, dará segurança e tranquilidade à criança, porque a aproximará do que é real, estável, salutar.

Não edifiquemos nossa casa sobre a areia, e nem nossa família sobre paixões vãs, sobre o egoísmo, ressentimentos, ou sobre um difuso amor mesquinho, que busca o próprio contentamento

O amor dos pais para com os filhos é, sim, individual e pessoal, ou seja, leva em conta todas as especificidades daquela criança, o fato de ela ser única e irrepetível, de ter suas necessidades e anseios próprios e individuais: é o amor que ama aquela pessoa, e que a considera como tal, cuidando dela desde o seu nascimento, e mais tarde amparando-a, aconselhando-a, em suma, amando-a sempre do modo como ela precisa, até a eternidade. E os filhos verão os pais fazendo isso também com seus irmãos, verão os pais se esforçando por compreender e levar em conta a individualidade de cada um deles para poder dar aquilo de que precisam – e isso não deve ser causa de ciúme; ao contrário, deve ajudar a criança a compreender ainda melhor o quanto ela é amada e respeitada no seio da família, que está solidamente fundada no amor dos pais. E mesmo que, por qualquer razão que seja, esse casal for impedido de ter outros filhos e tiver apenas um, ou mesmo que não venha a ter nenhum, o amor filial que vai brotar do seu coração como decorrência do amor conjugal terá essa mesma natureza e essas mesmas notas. Por isso um filho único também não deve sentir ciúmes dos pais, confundindo o amor desses fundadores da família com o que é reservado a ele. E esse casal ainda pode direcionar esse amor sobejante a outros “filhos” que forem postos em seu caminho, de algum outro modo.

É este amor, e não outro – amor verdadeiro, amor verdadeiramente conjugal –, o que deve ser posto na sólida fundação de uma família. E aqueles que, por um infortúnio, tiverem de criar seus filhos sozinhos, sem a presença da outra parte, e mesmo para os quais a geração de seu filho envolva uma história triste, ou mesmo horrenda, não é preciso temer. A criação de sua alma, de sua pessoa imortal, que se deu naquele instante de sua geração, foi necessariamente querida pelo Criador, e por isso a criança tem valor em si mesma, independentemente da infeliz relação que a gerou. Nesse caso estará na fundação de sua família, diretamente, o grande amor do qual o nosso amor conjugal é apenas um símbolo, e que, indiretamente, fundamenta todas as famílias, e todas as pessoas existentes, o amor que move o sol e as demais estrelas.

Como ensina a famosa parábola do evangelho, não edifiquemos nossa casa sobre a areia, e nem nossa família sobre paixões vãs, sobre o egoísmo, ressentimentos, ou sobre um difuso amor mesquinho, que busca o próprio contentamento. Firmemos nossa casa sobre a rocha, e a nossa família sobre um o amor verdadeiro e, antes de tudo, sobre a sólida hierarquia dos amores, que tem em sua base o amor entre um homem e uma mulher.

Conteúdo editado por:Marcio Antonio Campos
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