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E segue a discussão sobre o poligenismo e o Pecado Original
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O que começou no meio evangélico norte-americano agora segue firme entre os católicos. Há algumas semanas comentei no blog como uma reportagem de rádio e um artigo do pastor Albert Mohler Jr. tinham causado uma discussão sobre a existência histórica de um primeiro casal de humanos. Já naquele post eu mencionava um artigo que tentava resumir a maneira como a Igreja Católica vê essa questão.

Ontem, Mark Shea, em seu blog no National Catholic Register, resolveu avançar um pouco no tema. Ele parte de um outro artigo, escrito na Forbes por John Farrell, para quem a evolução realmente derruba a doutrina do Pecado Original. Shea discorda desse ponto de vista; para ele, a ciência não tem absolutamente nada a dizer sobre esse assunto. Shea vai direto ao ponto e (citando Chesterton) se pergunta por que certos nomes do ateísmo militante parecem ter tanta fixação por maçãs e cobras falantes quando a maior parte dos cristãos do mundo já superou esse estágio e entende essa parte do relato como metáfora, mantendo como fato apenas o essencial: que houve uma primeira desobediência a Deus.

Reprodução
Afresco do século 3.º nas catacumbas de São Marcelino e Pedro mostra a tentação de Adão e Eva: só os fundamentalistas (religiosos e cientificistas) ainda continuam no estágio da cobra falante e da maçã; cristãos com fé madura já aprenderam a interpretar o trecho da forma correta há muito tempo.

O artigo de Shea lembra um ponto importante: na encíclica Humani Generis, Pio XII não fecha totalmente a porta ao poligenismo, mas deixa uma pequena fresta: tratando-se de outra hipótese, isto é, a do poligenismo, os filhos da Igreja não gozam da mesma liberdade, pois os fiéis cristãos não podem abraçar a teoria de que depois de Adão tenha havido na terra verdadeiros homens não procedentes do mesmo protoparente por geração natural, ou, ainda, que Adão signifique o conjunto dos primeiros pais; já que não se vê claro de que modo tal afirmação pode harmonizar-se com o que as fontes da verdade revelada e os documentos do magistério da Igreja ensinam acerca do pecado original, que procede do pecado verdadeiramente cometido por um só Adão e que, transmitindo-se a todos os homens pela geração, é próprio de cada um deles. (destaque meu). Ou seja, pode-se supor que, caso a Teologia chegasse a um modo de harmonizar o poligenismo com a narração da Queda, havia a possibilidade de aceitar o poligenismo. A questão é se essa harmonização já foi obtida ou não. No Brasil, o falecido dom Estêvão Bettencourt, da Pergunte e Responderemos, defendia o chamado “poligenismo monofiletista”, em que havia um grupo pequeno e coeso de humanos, em oposição a grupos dispersos, mas nunca encontrei um texto dele em que o monge beneditino explicasse como isso se encaixava com o relato do Pecado Original.

O que Shea faz é sugerir a abordagem de Michael Flynn, que oferece, de uma forma leve e um pouco irônica, uma alternativa para entender o que pode ter acontecido, incorporando conceitos de Biologia, explicando a diferença entre “há um homem do qual todos os humanos descendem” e “Todos os humanos descendem de um [único] homem”, sem negar nem a existência de um grupo inicial de Homo sapiens, nem uma desobediência a Deus cometida por um primeiro casal. Usando conceitos de santo Tomás de Aquino, Flynn traça um esquema de como, então, ocorreria a propagação do Pecado Original para toda a espécie humana. Numa primeira (e segunda, e terceira) leitura, me pareceu interessante e bem coerente, mas confesso que ainda preciso digerir melhor tudo que está ali. Também parece diferente da proposta de Denis Alexander, de uma “transmissão por contaminação” e não apenas por descendência. Shea acredita que dentro de algumas décadas virá algum pronunciamento de Roma que “atualize” a Humani Generis. É esperar para ver; e, enquanto isso, seguir pesquisando e questionando.

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