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Simplificações perigosas
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A campanha pela indicação à candidatura republicana nos Estados Unidos anda com uns lances interessantes. Tão importante quanto as propostas para tirar a economia norte-americana do atoleiro é a opinião dos pré-candidatos sobre a teoria da evolução. Usando essa excentricidade como pretexto, o sociólogo e escritor John Evans publicou, no Los Angeles Times, um artigo mostrando que, apesar das aparências, ele não vê uma contradição intrínseca entre ciência e religião nas mentes de protestantes mais fundamentalistas (do tipo que rejeita a evolução).

Scott Eells/pool/Reuters
Rick Perry deixou claro que não aceita a teoria de Darwin, e certamente ganhou pontos com muitos republicanos por causa disso.

Evans realizou uma sondagem com vários desses protestantes fundamentalistas (os critérios eram pertencer a uma denominação, ir à igreja com frequência e defender uma intepretação literal da Bíblia) e descobriu que eles têm a mesmíssima capacidade de entender conceitos científicos e conhecer os fatos científicos que qualquer outra pessoa. Também têm a mesma probabilidade de ter uma formação universitária no campo científico, ou de trabalhar na área, que um não religioso.

Qual é, então, o problema? Resumindo, esses protestantes dividem as teorias científicas em observáveis e não observáveis. Eles não têm problema nenhum em aceitar os fatos do primeiro grupo, mas não necessariamente aderem ao segundo grupo. Como a origem do homem, por exemplo, não é “observável” (ao contrário do movimento da Terra em torno do Sol, ou das mudanças climáticas, ainda que haja muitos fundamentalistas céticos em relação ao aquecimento global), eles se permitem rejeitar a teoria.

Um outro aspecto importante para Evans é a questão dos valores, que parece se sobrepor aos fatos. Aqui, a rejeição à evolução tem raízes históricas, na constatação de tantas atrocidades (eugenia, militarismo) que foram defendidas “em nome de Darwin” sem ter absolutamente nada a ver com sua teoria. Desde o começo do século passado apologistas protestantes já apontavam para isso. Em outros casos, são as práticas científicas que estariam se opondo a valores cristãos, como a pesquisa com células embrionárias, considerada imoral por quem defende que a vida começa no encontro dos gametas masculino e feminino. O que Evans defende, no fim, é que os “não fundamentalistas” pensem duas vezes antes de rotular um grupo como um bando de cabeças-duras que não consegue entender nada de ciência.

Esse curto post foi escrito do aeroporto de Guarulhos, em São Paulo. Daqui a pouco estarei voando para a Cidade do México, onde participo, entre 19 e 21 de outubro, do VI Congresso Latino-Americano de Ciência e Religião, que será organizado pela Universidade de Oxford e realizado na Universidad Panamericana. Durante o evento apresentarei os resultados de uma sondagem que fiz com seminaristas católicos, para saber o que eles sabem e pensam sobre a relação entre ciência e fé. Não garanto atualizações durante os dias de congresso, mas certamente pretendo fazê-las. A liberação de comentários também deve ficar mais lenta.

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A votação para a primeira fase da edição 2011 do Prêmio Top Blog acabou ontem. Ano passado, o Tubo de Ensaio, concorrendo na categoria “religião/blogs profissionais”, foi o vencedor pelo voto popular. Vamos tentar o bicampeonato e buscar melhorar a posição no júri acadêmico, em que o Tubo terminou em terceiro lugar na edição 2010.

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