Gazeta do Povo na China| Foto:

你们好,

CARREGANDO :)

Ni men hao,

Certa vez aprendi num curso chamado “Gerenciamento de Equipes de Alta Performance” que, se você quiser ser realmente entendido, precisa falar cinco vezes a mesma coisa, para a mesma pessoa, em situações diferentes. Não é preciso ser gerente para saber que isso é verdade. Basta ser mãe para imediatamente virar o papagaio da família. Aproveitando o gancho: Feliz Dia das Mães!

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Aqui na China, como a nossa comunicação com os chineses está sempre envolta numa nuvem escura de incompreensões devido às diferenças culturais e à língua, a gente precisa falar e ouvir não cinco, mas dez vezes a mesma coisa para começar a entender.

Vejam só. Minha professora de chinês e parceira profissional, a Nora, disse que ia nos colocar num concurso chamado a “Família mais Bonita da China”. Hum, que cheiro de roubada! Aqui em casa ninguém é nenhuma beldade para participar de concurso de beleza, então acho que não entendi muito bem. Além do mais, lembrei-me do programa de TV do qual participamos no ano passado: eu achando que ia dar uma entrevista inteligente sobre a Copa do Mundo no Brasil, e eles, na verdade, nos convidando para participar de uma gincana de futebol.

Bom, diante da empolgação da Nora, eu concordei em participar do concurso sem pedir maiores detalhes e mudei de assunto. No dia seguinte, ela me liga dizendo que o repórter estava vindo aqui em casa fazer uma entrevista comigo. “Como assim? Que entrevista? Em que língua? O que eu tenho que dizer? O que eu visto?”

“O que eu visto” foi um capítulo à parte. Eu separei alguns vestidinhos casual-chic que me pareceram adequados para uma entrevista às 3 da tarde, mas eles foram sendo reprovados um a um pela Nora e pela Aijiao (nossa ayi).

_ Esse é sexy demais! Esse é curto demais! Na sua idade, não se coloca perna e braço de fora. Preto é muito escuro. Esse vestido rosa é muito colado no corpo.

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Sentindo que aquilo ia acabar comigo vestida num qipao (vestido tradicional chinês), me enfiei num pretinho básico e entreguei para Deus.

O repórter, Song Wen Fei, pelo qual senti uma afinidade imensa desde o primeiro momento, me entrevistou por mais de três horas seguidas. _ Você gosta da China? Você tem um blog sobre Shenzhen? Conte-me algo que seu marido fez de especial para você. E seus filhos, como você os educa? Nos dê uma dica de educação ocidental.

 

Song Wen Fei por Chris Dumont

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O bombardeio de perguntas foi seguindo até que ele viu uma foto minha do inicio do ano passado e perguntou: Essa aqui é a sua filha? Eu disse rindo: _Não, sou eu antes de perder o cabelo na quimioterapia.

Pronto, a partir daí, a entrevista foi crescendo em emoção e virou uma grande catarse. Ele me fez refletir sobre como as crianças me apoiaram durante o meu tratamento, me fez lembrar de um bilhete do Marcos no qual ele dizia que eu era “a única pessoa do mundo a fazer um câncer passar despercebido” e, principalmente, de como o Luiz foi e ainda é o meu grande esteio nesta vida.

Eu falava com os olhos cheios d’água para Nora que traduzia com os olhos cheios d’água para o Song Wen Fei. Ele, por sua vez, ia anotando tudo, empolgadamente, num bloquinho de pouco mais de dez centímetros, preenchendo as folhas com caracteres lindos e bem desenhados.

Nora e Song Wen Fei, meus queridos chineses.

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Quando voltei de uma pausa para ir ao banheiro, encontrei-o fotografando todos os porta-retratos aqui de casa. Um deles, da Imaginarium, diz “As coisas mais importantes da vida não são coisas…” . Pois saibam que ele conseguiu traduzir e publicou como legenda de uma das fotos!

 

Nesta mesma noite, depois de ter traduzido vários dos posts que escrevi para a Gazeta, ele me enviou mais perguntas. Entre elas, uma que mostrou todo seu profissionalismo: “Se você conheceu o Luiz há 23 anos, como pode ter um filho de 25?”, fazendo referência ao meu enteado, Fernando, o qual chamei de filho durante toda a entrevista por que é assim que me sinto em relação a ele.

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Obrigada, Google e Baidu translators!

Dois dias depois, eu recebo um link da matéria online que, rapidamente, atingiu mais de 4000 views. Eu não consegui ler nem 1% do que estava escrito. Pedi ajuda a Nora que me disse apenas “Ele escreveu absolutamente tudo que você disse”. A matéria online foi para o jornal impresso e foi aí que eu comecei a entender que a coisa é realmente séria.

http://mp.weixin.qq.com/s?__biz=MzAwMzMxMTI3Mw==&mid=204796394&idx=1&sn=1da4de743ae7d8ddbe81780b596c8f60&scene=1&from=singlemessage&isappinstalled=0#rd

Parece que este concurso é para escolher a família chinesa mais bonita (não de beleza física, mas emocional) de toda a China e que eles querem ter um representante estrangeiro entre os concorrentes. A competição começa pelos bairros e vai evoluindo até chegar ao país inteiro. O jornal circula nos centros comunitários e os funcionários colam adesivos na foto da família preferida. Também é possível votar online e a gente já está cheio de votos.

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Conheçam os nossos concorrentes.

Hoje a Nora pediu cópia dos nossos passaportes e falou que seremos chamados para uma entrevista na TV. Em resumo: só mesmo na China para se participar de um concurso sem saber muito bem do que se trata e sem entender o que escreveram sobre você.

Eu estou achando tudo isso muito divertido e adorei ter conhecido meu companheiro de profissão, o Song Wen Fei. 宋文飞,我很高兴认识你!

Além, é óbvio, de ter divulgado a Gazeta do Povo e o Muffato por toda Shenzhen!!!!

Manterei vocês a par dos próximos acontecimentos!

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再见!

 

O reporter publicou o meu post sobre o Sea World onde havia um banner do Muffato.

 

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christianedumont@hotmail.com