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A gente sai do Brasil, mas o Brasil não sai da gente
A gente sai do Brasil, mas o Brasil não sai da gente| Foto:

Vida de Expatriado 3

Tenho uma grande amiga e colega de trabalho, a Glória Saez, que me serve de lição até hoje. Um dia qualquer da década de 90, ela me chamou na sua sala da ex-DPZ (que para nossa tristeza fechou as portas este ano, assim como tantas outras agências de propaganda do Rio) e disse que não estava conseguindo assinar o seu nome. Achamos que era estresse do trabalho, o vinho do dia anterior, rimos juntas, mas Gló foi ao médico e descobriu que tinha feito um derrame. Pequeno, mas ainda assim um derrame. Neste mesmo dia, ela tomou a decisão de emagrecer e parar de fumar e hoje, 20 anos depois, Glorinha continua magrinha, saudável e nunca mais colocou um cigarro na boca.

As grandes decisões da vida são assim: tomadas através de uma gigantesca força motivadora. Se esta energia for forte o suficiente, não haverá quem nos impeça de alcançar um objetivo, seja ele qual for.

Grande parte dos brasileiros que conheço e que está hoje vivendo na China, em algum momento, foi tomada por esta força propulsora que a trouxe até o outro lado do mundo para morar num dos países mais difíceis de se adaptar.

Infelizmente, esta força não está relacionada a um forte sentimento de aventura ou curiosidade. Ela está relacionada a uma grande decepção com o nosso país, o Brasil.

Casos como “acordei com os bandidos aos pés da minha cama” ou “nossa empresa faliu e não havia mais mercado para a gente trabalhar” são comuns de ser ouvidos por aqui. Paira no ar uma mistura de ressentimento, tristeza, raiva e frustração cada vez que falamos da pátria-mãe.

No nosso caso não foi diferente. Nós já havíamos mudado do Rio de Janeiro para Curitiba em busca de uma cidade mais calma para viver, mas continuamos convivendo com casos e mais casos de violência perto de nós. Não sei o que é pior: a indignação de ver um pessoa próxima ser morta ou  a conformidade que vem depois e nos faz falar do assunto como se fosse normal alguém ser assassinado nos dias de hoje.

No entanto, por maior que seja a decepção com o nosso país, não há quem não esteja acompanhando de forma emocionada os últimos acontecimentos políticos e econômicos. Recebemos pelo WhatsApp todas as gravações, fotos e vídeos em tempo real. Trocamos opiniões indignadas, compartilhamos orações por um país melhor e pedimos calma nas passeatas como se ainda estívessemos morando aí.

Grande parte nem votou para presidente por não ter tido saco (de novo a questão da motivação) de ir até o consulado, mas isso não nos tira o senso crítico e nem nos dá menos direito de reclamar do chiqueiro que transformaram o nosso Brasil. Muitos, como nós, ainda têm negócios, economias e investimentos no Brasil e paga impostos sobre imóveis ou transações financeiras.  Sentimos no bolso e na qualidade de vida o aumento do dólar ao longo do tempo, responsável pelo fechamento das portas de muitas tradings brasileiras na China. E o mais importante de tudo: temos nossos parentes e amigos vivendo esta novela de terceiro escalão que se tornou a política brasileira e cujo roteiro é de uma irrealidade sem fim.

Isso tudo, leitores, para dizer que a gente saiu do Brasil sim, mas o Brasil não saiu da gente.  “Tamo junto!”

 

FORA DILMA!!!!

A gente sai do Brasil, mas o Brasil não sai da gente

A gente sai do Brasil, mas o Brasil não sai da gente

 

 

Christiane Dumont

Christiane Dumont

Christiane é certificada pela Sociedade Brasileira de Coach em Life&Personal Coach e atende pessoalmente e por Skype. Pós-graduada em propaganda e marketing, vive há quase cinco anos em Shenzhen, na zona do Cantão na China. Casada, mãe de 3 filhos, trabalha fornecendo suporte a brasileiros que desejam fazer negócios, estudar ou conhecer este país, além de escrever para mídias sociais sobre suas experiências como expatriada.

christianedumont@hotmail.com

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