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Vereadora Marielle Franco foi assassinada em março de 2018
Vereadora Marielle Franco foi assassinada em março de 2018| Foto: Renan Olaz/CMRJ

O assassinato da vereadora Marielle Franco, que completará seis anos em março deste ano, teve um novo desdobramento com uma suposta delação do ex-policial Ronnie Lessa, apontado como o autor dos disparos que mataram Marielle e o motorista Anderson Gomes.

Lessa fechou o acordo de delação premiada com a Polícia Federal no final do ano passado e, segundo informações veiculadas pela Band, teria revelado que o mandante do assassinato seria o atual conselheiro do Tribunal de Contas do Rio de Janeiro (TCE-RJ), Domingos Brazão. O acordo ainda precisa ser homologado pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) pelo fato de Brazão ter foro privilegiado.

Domingos Brazão é um ex-político ao MDB que apoiou a campanha de Dilma Rousseff (PT) à presidência da República e foi preso em 2017 no âmbito da Operação Lava Jato acusado de corrupção.

O delator Ronnie Lessa está preso desde março de 2019 – na ocasião, ele foi detido com outro ex-policial, Élcio Queiroz, que também fez delação premiada. Foi ele quem apontou Lessa como o responsável pelos disparos, enquanto Queiroz dirigia o carro usado na emboscada. Queiroz ainda afirmou que uma terceira pessoa, o ex-bombeiro Maxwell Simões Corrêa, participou de campanas para vigiar Marielle. Corrêa foi preso em julho de 2023.

Ao Metrópoles, Brazão negou participação no assassinato de Marielle e disse que não conhecia a ex-vereadora até saber de sua morte e que a Polícia Federal o estaria fazendo "sangrar".

Ativistas e políticos de esquerda, que há anos tentam vincular Jair Bolsonaro (PL) e pessoas do seu entorno à morte de Marielle aguardavam que a delação apontaria para alguém próximo ao ex-presidente. Na tarde desta terça, Bolsonaro divulgou mensagem nas redes sociais sobre a delação. "O caso Marielle se aproxima do seu final com a delação de Lessa (ainda não homologada). Também cessa a narrativa descomunal e proposital criada por grande parte da imprensa e pela militância da esquerda".

Suposta motivação para o crime

Domingos Brazão já havia sido denunciado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) em 2019 por tentar obstruir as investigações da morte de Marielle. Porém em março do ano passado o Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro rejeitou a acusação contra o conselheiro do TCE-RJ.

Brazão ficou afastado por quatro anos do cargo após ter sido preso na Operação Quinto do Ouro, realizada em 2017 como um desdobramento da Lava Jato no Rio de Janeiro. Segundo o Ministério Público Federal, ele teria recebido propina para fazer vista grossa frente a desvios dos cofres públicos praticados pelo grupo liderado pelo ex-governador Sérgio Cabral. O retorno dele ao tribunal de contas foi determinado pela justiça carioca em março do ano passado.

Entre as hipóteses para o crime contra Marielle está uma possível vingança de Brazão contra Marcelo Freixo (PT), atual presidente da Embratur, quando Freixo era deputado estadual pelo Psol. Brazão teve diversas disputas com o ex-deputado na época em que exercia o cargo de deputado na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. Antes de ser vereadora, Marielle Franco chegou a trabalhar por dez anos com Freixo. No ano de 2008, Brazão foi citado no relatório final da CPI das milícias, presidida por Freixo.

Após o assassinato da vereadora, o nome de Brazão surgiu como um dos suspeitos em meio à federalização do caso Marielle em 2020. Na época, a ministra Laurita Vaz, do STJ, informou que Ministério Público e a Polícia Civil do Rio chegaram a apontar a possibilidade de ele ter agido por vingança.

“Cogita-se a possibilidade de Brazão ter agido por vingança, considerando a intervenção do então deputado Marcelo Freixo nas ações movidas pelo Ministério Público Federal, que culminaram com seu afastamento do cargo de Conselheiro do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro. Informações de inteligência aportaram no sentido de que se acreditou que a vereadora Marielle Franco estivesse engajada neste movimento contrário ao MDB, dada sua estreita proximidade com Marcelo Freixo”, diz relatório da ministra citado pelo The Intercept Brasil.

Repercussão da delação entre políticos

A revelação do nome de Domingos Brazão como suposto mandante no assassinato de Marielle e Anderson Torres repercutiu entre políticos da direita e da esquerda.

"'Quem mandou matar Marielle?' é finalmente respondido. Que a justiça seja feita contra o mandante petista, Domingos Brazão. Por que um petista mandou matar Marielle?", escreveu o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MS).

"Quem mandou matar Marielle acaba de ser delatado, e quem diria... apoiou e foi apoiado pelo PT. Agora vamos ver se a PF consegue descobrir quem mandou matar Jair Bolsonaro", questionou o senador Magno Malta (PL-ES).

O ex-deputado federal Deltan Dallagnol (Novo), ao citar a delação de Lessa, relembrou que "Domingos foi preso pela operação Lava Jato em 2017, mas depois foi solto pela justiça e reconduzido ao cargo".

Para o deputado federal Guilherme Boulos (Psol-SP), a revelação do nome de Brazão como um dos mandantes não é surpresa "porque ele já havia aparecido nas investigações". "Depois de 5 anos e 10 meses sem nenhuma resposta, começamos a caminhar em direção à justiça. As investigações continuam, e nós seguimos acompanhando até saber com certeza quem mandou matar Marielle", escreveu Boulos.

Após tomar conhecimento da delação, a ministra Anielle Franco, irmã de Marielle, afirmou pelas redes sociais que "não descansará enquanto não houver justiça". "A nossa família aguarda os comunicados e resultados oficiais das investigações e está ciente do comprometimento das autoridades para a resolução do caso. A resposta sobre esse crime - quem mandou matar Marielle e Anderson e o porquê - é um dever do Estado brasileiro", escreveu.

Quem é Domingos Brazão

Domingos Brazão, de 58 anos, foi deputado estadual do Rio de Janeiro, pelo MDB, por cinco mandatos consecutivos. Ele já colecionou muitas polêmicas e foi alvo de suspeitas de corrupção, que o fizeram ser afastado e depois reconduzido ao cargo de conselheiro do TCE-RJ.

Em 2017, ele e outros quatro conselheiros chegaram a ser presos temporariamente na operação Quinto do Ouro, um desdobramento da Lava Jato no Rio.

Brazão também é apontado como líder de um poderoso grupo político da zona oeste do Rio, berço das milícias cariocas. Já respondeu por acusações de improbidade administrativa, fraude, máfia dos combustíveis e o envolvimento com milícias para a compra de votos e formação de curral eleitoral.

Pelas redes sociais, circula uma imagem de Brazão fazendo campanha para a ex-presidente Dilma Rousseff ao lado do ex-deputado Eduardo Cunha (MDB).

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