
Conflitos entre músicos da Orquestra Sinfônica do Paraná (OSP) e a direção do Teatro Guaíra são históricos e ao que parece estão longe de virem a ser resolvidos. As reclamações são muitas. E os insatisfeitos pedem para não ser identificados, pois temem represálias.
A primeira reinvindicação, que os músicos consultados pela Gazeta do Povo apresentam, é que a OSP não tem espaço para ensaiar. "Temos de realizar ensaios no palco do Guairão, mas quando há outra atração, somos empurrados para o Guairinha, ou para o Canal da Música", diz um dos integrantes da orquestra.
A diretora artística do Teatro Guaíra, Lu Rufalco, afirma que os músicos da OSP têm prioridade para ensaiar no palco do Guairão até às 13 horas e apenas depois desse horário que outros artistas utilizam o palco principal.
Outro músico da OSP afirma que é necessária a construção de uma sede para a orquestra, porque, na opinião dele, e de outros colegas, "parece que a orquestra é um estorvo dentro do Teatro Guaíra."
"A população quer isso (a construção de uma sede para a orquestra)?", pergunta a diretora artística. Ela diz ter noção de que "todo mundo ama a OSP, mas se você chega e fala para a população que paga o imposto: vamos criar mais uma despesa para a orquestra sinfônica, e o governo paga isso. Será?", questiona. Lu Rufalco acredita que, se a população for consultada, em vez de uma nova sede para a OSP, todos vão pedir que sejam adquiridas "mais viaturas para a segurança pública".
Alguns integrantes da OSP também estão insatisfeitos em relação ao salário. Os músicos, a exemplo dos demais funcionários públicos, têm carga horária de oito horas diárias, mas devido a uma norma internacional ficam "apenas" três horas dentro do Guaíra e podem completar o tempo restante em casa. "No entanto, somos enquadrados como técnicos, e não podemos ter aumento, pois se um técnico tiver aumento, todo o quadro do estado terá de ter reajustes salariais também", diz um músico.
O diretor administrativo e financeiro do Teatro Guaíra, Walter Gonçalves, explica que os músicos sejam funcionários efetivos ou cargos em comissão do Teatro Guaíra não são empregados do teatro. "São funcionários do poder Executivo, carreiras do quadro geral do estado que estão alocadas na autarquia do Centro Cultural Teatro Guaíra. Nossa autonomia sobre eles é zero, é ditada pelas normas que a Secretaria de Administração baixa para todos os funcionários estaduais", explica.
Tensão
Muitos dos músicos da orquestra dizem não suportar mais o convívio com o atual maestro, o regente italiano Alessandro Sangiorgi, desde 2003 no cargo. Já foi feito até um abaixo-assinado pedindo a saída dele. "Sangiorgi é um político. Não tem o respeito de todo o corpo da orquestra, apenas de alguns", afirma um integrante da OSP.
Gonçalves diz que a relação entre músicos e maestro costuma ter atritos, e que esse confronto (músicos versus Sangiorgi) é "um desentendimento por bobagens, coisas típicas de quem trabalha muito tempo junto e começa a enfrentar o desgaste do dia-a-dia".
No entanto, o maior problema que os músicos dizem enfrentar é a falta de respeito, dos diretores e dos demais funcionários. "Debocham da gente, pensam que somos vadios", desabafa outro músico à reportagem da Gazeta do Povo. A diretora presidente, Marisa Vilela, riu ao ouvir essa reclamação, e apresentou uma resposta: "Claro, é a opinião dos músicos. Os colegas não gostam do maestro, estão com baixa autoestima, é isso?".



