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Abnegação II – O Começo do Fim: montagem mostra as relações de poder no interior de um partido político que parece espelhar o cenário nacional. | Vitor Vieira/ Divulgação
Abnegação II – O Começo do Fim: montagem mostra as relações de poder no interior de um partido político que parece espelhar o cenário nacional.| Foto: Vitor Vieira/ Divulgação

Por ser o teatro um manifesto de liberdade artística e social, é justamente nos palcos que a política encontra um de seus principais espaços de discussão. E, se depender do Festival de Teatro de Curitiba, pelo menos em duas das 29 peças que compõem a Mostra Oficial do evento a plateia será desafiada a refletir sobre a organização e os conceitos – equivocados ou não – que regem uma sociedade.

Uma delas é a estreia Abnegação II – O Começo do Fim, segunda parte da trilogia Abnegação, do grupo paulista Tablado de Arruar. A peça aborda as relações de poder no interior de um partido político. A trama se concentra em um momento de transição em que o partido, para ganhar dimensão nacional, é obrigado a participar de diversas práticas – condenáveis por ele mesmo – da política tradicional.

Spon Spoff Spend: situações de dominação entre mendigos fazem público refletir.

Caca Diniz

A intenção deste segundo trabalho da trilogia, segundo o dramaturgo Alexandre Dal Farra, é retratar a face atual de política brasileira. Ele ressalta que, embora a peça tenha sido criada com base na trajetória de um único partido brasileiro, ela é universal, pois representa a estruturação de todos os outros partidos políticos do país.

Abnegação II – O Começo do Fim é a representação dos acontecimentos que cercam um partido político em seu momento de transição de oposição para chefia de governo. As cenas, desenvolvidas em um cenário de mínimos detalhes, abordam o momento em que a “grande política” se aproxima de movimentos engajados menores, como sindicatos, e se envolve com a política do crime.

“O nosso ponto de partida para a trilogia foi pensar em como transformar a política em forma artística e não em assunto”, explica o dramaturgo.

Programe-se

Abnegação II – O Começo do Fim

Guairinha (R. XV de Novembro, 971), (41) 3304-7982. Dias 3 e 4 de abril às 21h. R$ 70 e R$ 35 (meia-entrada). Classificação indicativa: 18 anos.

Spon Spoff Spend

Teatro Bom Jesus (R. Vinte e Quatro de Maio, 135), (41) 2105-4000. Dias 25 e 26 de março às 21h. R$ 70 e R$ 35 (meia-entrada). Classificação indicativa: 16 anos.

Bilheterias nos shoppings Mueller, Palladium e ParkShopping Barigüi ou pelo site www.festivaldecuritiba.com.br.

Para Dal Farra, é mesmo o encontro da forma perfeita de abordagem do assunto a maior dificuldade em falar de política no teatro. De acordo com ele, para que o trabalho surta efeito, é necessário fugir do tradicional e recriar uma forma própria para a obra e o conteúdo.

“Falar de política não tem que ter discurso inflamado no palco. Não é preciso recorrer sempre à desigualdade social nem se conectar a uma forma única de falar de polícia. É muito mais. É pensar nas relações que ela instaura e, principalmente, nas formas de linguagem que ela cria.”

Outra peça do festival que traz ao público certa relação política é Spon Spoff Spend, do grupo Maracujá Laboratório de Artes, também de São Paulo. O nome curioso da peça representa uma ligação da produção com os clowns, porque, mesmo sendo a história trágica, ela acaba encenada para fazer o público rir.

Em Spon Spoff Spend, uma das estreias do festival, os atores se apresentam como um grupo de mendigos que vive embaixo de um viaduto em São Paulo. Eles criam uma teia de relações na qual ironicamente prevalecem, apesar das semelhanças nas condições econômicas e sociais de cada um, situações de poder e dominação do outro.

Paralelamente às ações dos mendigos, a peça – numa tentativa de usar linguagens diferentes para contar a história – traz uma equipe de filmagem que se estabelece nas proximidades para realizar uma produção baseada no universo de uma grande cidade onde só existem mendigos, misturando realidade e ficção.

Os mendigos que compõem a peça não poderiam ser mais propositais. Presentes no imaginário das pessoas de maneiras diversificadas, os moradores de rua são um dos símbolos máximos da desigualdade social.

“Ao mesmo tempo em que os mendigos são parte desse problema político, também apresentamos eles como aquelas pessoas que carregam histórias diversificadas. Eles têm o porquê de estar ali e motivos que justificam os estragos em suas roupas”, comenta Sidnei Caria, do Maracujá Laboratório de Artes.

“O que contamos é uma história ficcional, mas tenho certeza de que alguns dos trechos que apresentamos vão fazer a plateia entrar em confronto com suas próprias referências e questionar suas atitudes”, diz o dramaturgo.

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