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Criada por Liz Calder, editora inglesa da série "Harry Potter", a Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) faz a abertura nesta quarta-feira (4) de sua quinta edição tendo a língua inglesa em destaque.

Das 18 estrelas ou revelações estrangeiras convidadas, sete: J. M. Coetzee, Nadine Gordimer, Ishmael Beah, Ahdaf Soueif, Kiran Desai, Will Self e Robert Fisk, são autores ingleses ou de ex-colônias britânicas da África e Ásia, premiados e bem vendidos no Reino Unido. E seriam oito, se William Boyd não tivesse cancelado sua participação na última hora. Um número recorde, se comparado às edições anteriores.

Somando-se aos americanos, chega a 11 (mais da metade) o total de escritores em língua inglesa. Espanhol e português são os outros dois idiomas da Flip. Desta vez, não há nem mesmo franceses ou italianos, que passaram pelas outras edições. "Tentamos convidar autores italianos e franceses, mas não tivemos sucesso. Faltam autores de várias línguas importantes, mas ficamos satisfeitos com o time que reunimos", afirma o responsável pela programação, o jornalista Cassiano Elek Machado. Além de compartilhar o idioma, esses sete autores enfocam em suas obras as diferentes realidades do centro e da periferia do ex-império. Quase todos têm ainda a experiência de transitar entre os mundos do colonizado e do colonizador, dando voz a personagens saídos desse ambiente cultural híbrido, tragicamente marcado pelos desdobramentos das políticas de dominação. A hora será, portanto, de continuar atualizando o debate sobre o velho imperialismo, revisto à luz do 11 de Setembro e da Guerra do Iraque. E de ler ou reler esses criadores, todos com seus títulos sendo lançados ou relançados no mercado brasileiro.

Premiados com o Nobel, os sul-africanos J.M. Coetzee e Nadine Gordimer, que têm suas obras fortemente marcadas pelos efeitos do apartheid, confirmam em Paraty sua posição de estrelas: os ingressos para suas palestras esgotaram-se rapidamente.

Celebridade maior da festa, Coetzee, que vive hoje na Austrália, vai ler em estréia mundial, na noite de sábado (7), trechos de seu novo livro, "Diário de um ano ruim". Seu último livro, "O homem lento" (Cia das Letras), o drama de um solitário de 60 anos que é atropelado e tem uma perna amputada, já está nas livrarias. Com fama de arredio, Coetzee, aos 67 anos, será o único estrangeiro a se apresentar sozinho e a não responder a perguntas do público ou da imprensa. Guerra

A Guerra será o assunto de Robert Fisk, correspondente do jornal britânico "The Independent" no Oriente Médio. Vivendo há décadas no Líbano, Fisk, que acompanhou a invasão do Afeganistão e a Guerra do Iraque, é considerado o mais pró-Oriente dos analistas ocidentais. Ele lança aqui "A grande guerra pela civilização" (Planeta). Seu companheiro de mesa, na tarde de sábado, é o jornalista americano Lawrence Wright, ganhador do Pulitzer com "O vulto das torres" (Cia das Letras), uma radiografia do 11 de Setembro.

Outro britânico é o irreverente Will Self, muito popular em seu país, mas pouco conhecido aqui. Na sátira "Grandes símios" (Alfaguara), seu mais recente lançamento no Brasil, Self cria uma Londres ocupada por chimpanzés. Seu personagem é um macaco adulto que, depois de mais uma noite de baladas e muitas drogas, surta e julga-se humano. Self discute, na tarde de quinta, o processo criativo com o escritor americano Jim Dodge, professor da Universidade de Humboldt.

Neste lado mais pop da Flip, os líderes são, graças à ajuda de Hollywood, o americano Dennis Lehane, autor de "Sobre meninos e lobos", levado ao cinema por Clint Eastwood, e o premiado roteirista mexicano Guillermo Arriaga ("Babel", "Amores brutos"), que lança o livro "O doce aroma da morte" (Gryphus). Desde a semana passada, não havia mais ingressos para ouvi-los falar na sexta-feira sobre violência.

Completam a lista de estrangeiros, o mexicano Ignácio Padilla, o moçambicano Mia Couto, e três argentinos. Que, com exceção de César Aira, nos fazem lembrar novamente dos ingleses. O muito esperado Alan Pauls, pelo nome, e Rodrigo Fresán, pela obra: "Jardins de Kensington".

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