Ao contrário do que muitos pensam, o Vale do Pinhão não é um local físico, mas sim uma representação de Curitiba como “a cidade das startups”.| Foto: Daniel Castellano/SMCS
  • Por A.Yoshii e Elo apresentam Curitiba 331 Anos
  • 18/03/2024 20:42
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Curitiba comemora 331 anos em 2024. Para celebrar, Gazeta do Povo, A.Yoshii e Elo Empresas apresentam uma série de conteúdos que destacam por que a capital paranaense é a cidade mais inteligente do mundo. Conheça abaixo o Vale do Pinhão e como Curitiba se tornou a "cidade das startups".

Ao longo do século XX, Curitiba se tornou conhecida nacional e internacionalmente por suas inovações no planejamento urbano, transporte coletivo e sustentabilidade — que renderam apelidos simpáticos, como o de "cidade ecológica". Nos últimos anos, uma nova alcunha mais tecnológica foi atrelada à capital paranaense: a de "cidade das startups".

No levantamento feito pela Gazeta do Povo em 2023, em virtude dos 330 anos de Curitiba, a inovação foi eleita uma das principais características do povo local, conquistando 64% das respostas. Se depender do grupo de empresas, órgãos públicos e instituições de fomento que fazem parte do ecossistema de inovação curitibano, essa imagem vai se cristalizar — e ganhar o mundo, assim como a fama dos nossos parques e do sistema de ônibus BRT.

Na verdade, colocar esse verbo no futuro provavelmente é um erro. Curitiba já conquistando fama nacional e internacional como um ambiente fértil para ideias inovadoras e as empresas que surgem delas. A seguir, nós explicamos como esse movimento acontece.

Série de Conteúdos 331 Anos: entenda por que Curitiba é a cidade mais inteligente do mundo.

Vale do Pinhão: mais do que um local físico, um movimento

Se você quer ir até o Vale do Pinhão, talvez os mapas direcionem para um local no bairro Rebouças, próximo ao centro da capital paranaense. É ali que fica o Engenho da Inovação, um dos principais pontos de encontro do ecossistema de inovação curitibano.

Porém, a Prefeitura de Curitiba e a Agência Curitiba de Desenvolvimento explicam que o Vale do Pinhão não é um local físico — até porque a inovação na cidade não se restringe àquela quadra do Rebouças. O Vale do Pinhão é uma espécie de movimento, um ideal que posiciona Curitiba no cenário nacional e internacional de tecnologia. Ao todo, a cidade tem mais de 160 ambientes de inovação, como parques tecnológicos, coworkings, incubadoras e aceleradoras.

O próprio Vale do Silício, aliás, não é uma entidade única ou um local específico. É um apelido que surgiu pela concentração de empresas inovadoras em uma região.

E se concentração de empresas inovadoras é um critério essencial para denominar uma região como o "vale-de-alguma-coisa", Curitiba está muito bem, obrigada. De acordo com os dados mais recentes, divulgados pelo Sebrae/PR em 2023, a cidade tem mais de 600 startups dos mais variados portes e áreas de atuação. Em menos de uma década, o número de startups em Curitiba foi multiplicado por sete.

Algumas conquistaram destaque internacional por suas inovações — e pelo valor de mercado na casa dos 10 dígitos. Startups avaliadas em mais de US$ 1 bilhão são chamadas de unicórnios e Curitiba é a cidade-sede dos três primeiros que estão fora de São Paulo: Olist, MadeiraMadeira e Ebanx. Esta última, criada na capital paranaense em 2012, conquistou sua avaliação bilionária em 2019, tornando-se o primeiro unicórnio curitibano.

Fora os nossos três, somente a Vtex (Rio de Janeiro), Hotmart (Minas Gerais) e Arco Educação (Ceará) alcançaram o status de unicórnio fora de São Paulo. E Curitiba ainda tem várias outras empresas de destaque que podem chegar nesse ponto em um futuro próximo: Hilab, Pipefy e Contabilizei são apenas alguns exemplos disso.

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Em entrevista ao Gazz Conecta, em 2020, o CEO da Contabilizei refletiu que estar em Curitiba ajudou sua empresa a crescer "fora do radar". Segundo Vitor Torres, as outras startups não buscavam competir com a Contabilizei ou contratar seus talentos — o que acelerou a jornada de crescimento da empresa.

Muitos associam o Vale do Pinhão ao Engenho da Inovação, no Rebouças. Para a Prefeitura, ele na verdade é um movimento que não tem local fixo.| Foto: Foto: Ricardo Marajó/SMCS

Um movimento que atrai as atenções do mundo

Se a mídia e as empresas da maior cidade da América Latina não prestam tanta atenção em Curitiba, os especialistas e investidores estrangeiros estão de olho no Vale do Pinhão.

A cidade figura nos primeiros lugares de vários rankings de ecossistemas de inovação, como o Global Startup Ecosystem Report 2023 (GSER2023) — que listou Curitiba como o segundo ecossistema mais promissor da América Latina, atrás apenas do Rio de Janeiro. Desde 2020, a capital paranaense é citada nessa que é uma das principais publicações mundiais do setor.

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No Startup Ecosystem Index Report 2023, Curitiba aparece como a segunda melhor cidade do Brasil para startups — logo atrás de São Paulo, que é a maior cidade da América Latina e sede de cerca de 80% dos unicórnios brasileiros. Uma medalha de prata com gosto de ouro.

A nível global, Curitiba aparece na 140ª posição, à frente de várias cidades mais conhecidas em países desenvolvidos — como Frankfurt (Alemanha), Roma (Itália) e Kyoto (Japão).

Com isso, Curitiba também se torna referência para empresas inovadoras que desejam se instalar no Brasil — como a neerlandesa blue®m. Atuando no segmento de saúde bucal, a empresa tem uma trajetória de inovação semelhante a das startups curitibanas: surgiu com a descoberta do oxigênio ativo por um pesquisador, que criou um tratamento sem precedentes na área da odontologia.

Desde seu nascimento nos Países Baixos, em 2010, a blue®m cresceu de forma exponencial, começando pela Europa, onde ganhou diversos prêmios de melhor produto do categoria. Ela opera em mais de 50 países, atualmente, e a lista inclui o Brasil desde 2017. A cidade que a blue®m escolheu para isso foi Curitiba.

Segundo os representantes da blue®m, a cidade se destacou não só pela qualidade de vida, mas também pela infraestrutura de apoio e comunidade empreendedora vibrante. Para a empresa, isso coloca a capital paranaense em uma posição competitiva, inclusive na atração de novos talentos.

"A blue®m viu em Curitiba uma oportunidade, por estimular a inovação e conectar startups a oportunidades de negócio e potenciais investidores", afirma Eduardo Delage, CEO da blue®m Brasil à Gazeta do Povo. A empresa está envolvida com essas comunidades de inovação, trabalhando em projetos com startups e faculdades de odontologia, além de clínicas e grandes indústrias do ramo, como a Neodent, DSS e Eurodonto.

Para a blue®m, essa possibilidade de colaboração contribui tanto para o desenvolvimento da empresa, como também para o crescimento da economia local. Assim, "o nosso sucesso é amplificado pelo incentivo, ambiente vibrante e da estrutura encontrada em Curitiba", conta o CEO da blue®m.

A blue®m nasceu nos Países Baixos, em 2010, com foco em inovar na saúde bucal. Por isso, a empresa considerou Curitiba a cidade ideal para iniciar suas operações no Brasil. | Foto: Foto: bluem

A tríplice hélice da inovação

Quando falamos em ambientes de inovação, como o Vale do Pinhão, é comum descrevê-los como uma hélice tripla. Segundo os especialistas, ela é formada por três pilares: o governo, a iniciativa privada e as instituições de ensino e fomento. A hélice só começa a girar quando os três estão plenamente desenvolvidos para apoiar uns aos outros.

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Na parte das instituições de ensino, destacam-se iniciativas como a Hotmilk, da PUC-PR. Esse projeto atua na educação empreendedora, na conexão entre estudantes e empresas, além dos incentivos ao surgimento de novas ideias. Segundo a PUC-PR, mais de 350 startups já foram incubadas ou aceleradas no âmbito da Hotmilk.

Outro exemplo é o Distrito, um ecossistema de inovação independente que atua nas áreas de pesquisa, investimento, formação de comunidade e aceleração de ideias. A sede da iniciativa na região sul, Distrito CWB, foi inaugurada em Curitiba em 2018, funcionando junto à FAE.

Em menor escala, até a UFPR — primeira universidade pública do Brasil, com seus 112 anos de tradição — também atua no ecossistema de startups curitibano. Segundo a instituição, sua Incubadora Tecnológica iniciou as atividades em 2008 e está vinculada à Superintendência de Parcerias e Inovação (SPIn) desde junho de 2021.

Além delas, a Universidade Tecnológica do Paraná (UTFPR) e a Universidade Positivo também mantêm algumas iniciativas de apoio às startups da cidade. Vale destacar ainda o importante papel de organizações como o Sebrae-PR, que oferecem mentoria, cursos e eventos para as startups. Na maioria dos casos, elas também são micro e pequenos negócios, como aqueles que o Sebrae impulsiona desde sua criação.

Até aqui, nós já falamos sobre a iniciativa privada e sobre as instituições de ensino e fomento. Mas, como dissemos, um terceiro componente é necessário para a hélice girar.

Hotmilk, da PUC-PR, é um dos principais exemplos de inovação nas universidades curitibanas.| Foto: Foto: PUC/PR/Reprodução

A importância dos incentivos governamentais

Se Curitiba é considerada uma das melhores cidades do Brasil e da América Latina para a criação de startups, grande parte desse resultado se deve aos incentivos oferecidos pelo poder público a essas empresas — que vão muito além da criação de um nome, como o Vale do Pinhão, para esse movimento.

Esse movimento só se torna realidade a partir de programas como o Cidade das Startups, que traz capacitações, cursos, consultorias e mentorias para os empreendedores, além de conexão com eventuais investidores. A Prefeitura também destaca a agilidade para abrir uma empresa formal em Curitiba: o empreendedor precisa de menos de duas horas, sendo que a maioria dos processos é totalmente digital. Mais de 600 atividades estão inclusas na Lei de Liberdade Econômica, que dispensa alvarás. Com isso, Curitiba é a capital mais rápida para abrir-se uma empresa no Brasil.

Ao formalizar suas empresas e iniciar as operações, os fundadores de startups podem contar com outros incentivos legais e fiscais.

No âmbito do Programa Tecnoparque, retomado em 2018, empresas de base tecnológica têm sua tributação de ISS reduzida de 5% para 2%. Além disso, o governo se antecipou às leis necessárias para a instalação do 5G, permitindo que Curitiba fosse uma das primeiras capitais do Brasil a receber essa conexão.

Por fim, também vale mencionar os espaços mantidos pelo poder público para agregar esse ecossistema de inovação. Além do Engenho da Inovação, no Rebouças, destaca-se o Fab Lab do Cajuru — um espaço maker aberto, onde os curitibanos podem desenvolver suas ideias em laboratórios de informática, impressoras 3D e outros equipamentos.

A Prefeitura também oferece o Worktiba, primeiro coworking público do Brasil, por onde já passaram mais de 260 empresas em seus estágios iniciais.

Em março de 2024, Curitiba inaugurou o Pinhão Hub — ponto de encontro físico do ecossistema do Vale do Pinhão.| Foto: Foto: Daniel Castellano/SMCS

Mas já que muitas pessoas querem ter um lugar físico para ir até o Vale do Pinhão, o poder público tratou de providenciar um. O Pinhão Hub foi entregue à cidade em 14 de março, como parte das comemorações do Aniversário de Curitiba. O espaço, que fica dentro do Engenho da Inovação, tem 1200 m2 e deve servir como ponto de encontro para os participantes do Vale do Pinhão. No Pinhão Hub, o empreendedor encontra posições de trabalho, salas de reunião, estúdio para podcast, além de networking, apoio e investimentos.

Se alguém quer encontrar essa estrutura física para sua startup, pode procurar no Rebouças, mas a inovação e o empreendedorismo já se espalharam por toda Curitiba.

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