Lançado há 20 anos, “Simplesmente Amor” seria cancelado se filmado hoje em dia| Foto: Universal Pictures/Divulgação
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O filme Simplesmente Amor foi chamado de muitas coisas desde seu lançamento, em 2003: desde uma comédia alegre até um clássico moderno. Por outro lado, o crescente apetite pelo politicamente correto nas últimas duas décadas rendeu à película dois rótulos desfavoráveis: misógino e tóxico. Mas os boicotes contra a comédia romântica, até agora, não tiveram sucesso.

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O Prime Video manteve o longa em sua plataforma para o período das festas de fim de ano, um teatro de Los Angeles reabriu seu musical inspirado na comédia recentemente e alguns cinemas do exterior farão novas exibições nesta temporada de férias.

“Você não poderia fazer aquele filme hoje.” Muitas vezes ouvimos falar de filmes feitos pouco antes de a turba enfurecida da cultura do cancelamento começar a arruinar o humor. Graças a essa turba, alguns grandes programas e longas foram reescritos ou eliminados.

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The Office foi forçado a retirar seu episódio do “Dia da Diversidade” das plataformas de streaming. Grease – Nos Tempos da Brilhantina era tão misógino que precisava de uma série musical derivada dedicada às Pink Ladies (a Paramount cancelou o programa no mesmo verão em que foi ao ar) e E o Vento Levou agora tem uma etiqueta de alerta no HBO Max.

O pecado de Simplesmente Amor é seu atrevimento. A película aposta no humor e nos relacionamentos politicamente incorretos, como a assistente “gordinha” com “coxas do tamanho de grandes troncos de árvore” que se apaixona pelo chefe, os dois atores substitutos que se conhecem durante a filmagem de uma cena de sexo, e a mãe que descobre a infidelidade do marido com a secretária.

Pelos padrões de hoje, essa comédia não deveria existir. O comportamento inadequado do chefe e as piadas com gordinhos são desaprovados. Desde então, a diretora de elenco da película disse que mataria Hugh Grant em um remake e escalaria uma primeira-ministra; enquanto isso, o diretor Richard Curtis lamenta as piadas obscenas do filme e a falta de diversidade racial. “Na minha geração, chamar alguém de gordinho era engraçado – em Simplesmente Amor havia piadas sobre isso. Essas piadas não são mais engraçadas”, disse ele. No entanto, ainda estamos rindo 20 anos depois.

São duas décadas rindo da loucura de Billy Mack, vivido por Bill Nighy: “Olá, crianças. Aqui está uma mensagem importante do seu tio Bill. Não compre drogas. Torne-se uma estrela pop e eles lhe darão isso de graça!”

Duas décadas também chorando quando a versão de Bye Bye, Baby, dos Bay City Rollers, toca no funeral de Joanna, interpretada por Olivia Olson, e de alegrar-se quando seu marido viúvo Daniel (Liam Neeson) conhece Carol (Claudia Schiffer) depois que Joanna brincou sobre ele ter convidado a modelo alemã para seu funeral.

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E ainda de torcer por Natalie (Martine McCutcheon) enquanto ela se apaixona pelo primeiro-ministro David (Hugh Grant) e de experimentar o triunfo do amor não correspondido enquanto Mark (Andrew Lincoln) diz à esposa de seu melhor amigo: “Para mim, você é perfeita.”

Divórcios crescem, intimidade cai 

O amor é complicado. Pode ser cruel, trágico e pateticamente sentimental. Mas “o amor realmente está por toda parte”, tanto em sua confusão quanto em sua glória. Talvez os muitos enredos do filme sejam irracionais, até bobos – assim como o amor. Os farsantes que analisam demais o enredo do filme arruínam seu apelo.

Classificar personagens de Simplesmente Amor, como o garotinho que elabora um plano para conquistar sua paixão da escola primária como “assustadores”, é injusto. O amor às vezes pode nos deixar desconfortáveis. Pense bem. Às vezes não apreciamos a tristeza enquanto esperamos por uma alma gêmea e sonhamos com clichês?

O amor também podia ser imprudente, embora não seja mais. A turma não gosta mais de romance espontâneo. Quem ousaria dar um beijo atrás das cortinas em uma peça da escola primária hoje em dia, como o primeiro-ministro David e Natalie? Se alguém deve ou não embarcar em tais demonstrações de amor arriscadas é outra questão.

As pessoas podem pelo menos buscar inspiração no filme para iniciar relacionamentos, ou para cair de cabeça no próprio amor. O fato de que Simplesmente Amor  sobreviveu a duas décadas de taxas crescentes de divórcio e declínio na intimidade pode ser uma prova de nossa afinidade com o romantismo esperançoso, e não é esse o objetivo dos filmes de Natal?

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O filme não nos ensina apenas como buscar o amor de forma imprudente, às vezes estúpida. Mostra-nos a emoção crua que resulta dos fracassos do amor. O desejo da humanidade de amar, apesar do inevitável desgosto – mortes, separações, traições – é o ponto principal do filme. Emma Thompson sofreu com a infidelidade do marido na vida real: “Tenho muita prática em chorar no quarto e depois ter de sair e ficar alegre, juntando os pedaços do meu coração e colocando-os em uma gaveta”, disse ela sobre seu papel. Como Thompson prova, e como Simplesmente Amor mostra, a vida continua, e o amor também deve seguir. Graças a Deus.

A primeira e a última cenas de Simplesmente Amor são imagens reais de aeroportos. As famílias se cumprimentam, os amigos acenam olá e os casais se abraçam. Lançado logo após o 11 de setembro, o filme é uma homenagem ao que importa. Persistiu desde então e, assim como o amor, pode durar para sempre – se tivermos sorte.

© 2023 National Review. Publicado com permissão. Original em inglês.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]