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Julia Roberts (Amanda) e Ethan Hawke (Clay) vivem o casal de O Mundo Depois de Nós
Julia Roberts (Amanda) e Ethan Hawke (Clay) vivem o casal de O Mundo Depois de Nós| Foto: Divulgação Netflix

Não é a primeira vez que a Netflix adentra dezembro ofertando um produto apocalíptico, em contraste total com o inescapável espírito natalino. O Mundo Depois de Nós, que é o hit atual da plataforma de streaming, tem o poder de deixar o mesmo gosto amargo na boca de Não Olhe para Cima, lançado pela Netflix no fim de 2021. A diferença é que aquele filme de Adam Mckay sobre um asteroide se aproximando da Terra tinha forte carga satírica e podia arrancar algumas risadas. Agora o tom é sombrio para valer.

O Mundo Depois de Nós é o primeiro longa de ficção bancado pela Higher Ground, empresa de Barack e Michelle Obama. Ele adapta um livro de sucesso de 2020 de Rumaan Alam e conta com roteiro e direção de Sam Esmail, conhecido pelas séries Mr. Robot e Homecoming: de Volta à Pátria. O que esses envolvidos estão querendo nos dizer com um suspense desse tipo às vésperas do Natal fica a cargo do espectador especular. O fato concreto é que a obra prende e assusta, ainda que o terror se dê apenas na esfera psicológica. De impressionante mesmo só há uma cena em que os dentes do garoto Archie começam a se soltar de sua boca.

Na história, o casal formado por Amanda (Julia Roberts) e Clay (Ethan Hawke) pega um fim de semana qualquer para fugir de Nova York e passar um tempo com os filhos Archie e Rose numa casa de veraneio nas cercanias. Um navio petroleiro desgovernado na praia e a falta de sinal de internet, televisão e GPS indicam algo estranho no ar. O sentimento fica mais forte quando o suposto dono da casa alugada por Amanda e Clay aparece pedindo abrigo após presenciar o início do caos cibernético em NY. Mahershala Ali vive o tal proprietário, que chega acompanhado da espevitada filha adolescente.

Trauma pandêmico colabora

Com a casa cheia, o momento esquisito vivido pelo país também é refletido nas pessoas, com desconfianças de que o proprietário possa ser um golpista, de que os filhos de Amanda e Clay possam sofrer alguma violência naquela situação, de que norte-coreanos, chineses ou iranianos estejam comandando uma invasão. Uma paranoia vai alimentando a outra, enquanto a audiência tenta se apegar aos fragmentos e reticências para entender o que de fato está acontecendo.

As escolhas do diretor e roteirista Sam Esmail funcionam porque ele se inspirou nas incertezas que vivemos durante a pandemia de Covid-19 para confeccionar sua obra. Não ter no horizonte a certeza de que vamos sobreviver a uma ameaça misteriosa, que não sabemos ao certo como surgiu e nem se os “remédios” darão conta de abater, é algo que acabamos de experimentar, então os calafrios ainda correm em nossas veias, fazendo de O Mundo Depois de Nós uma peça crível, muito mais crível do que os filmes sobre o fim dos tempos que eram lançados antes de alguém “comer um morcego em Wuhan”.

Para não dizer que o longa só trabalha na esfera do medo e do cinismo, há momentos em que os filhos se colocam em apuros e os pais demonstram coragem descomunal para protege-los. Isso se dá tanto no confronto de Clay com o personagem rude vivido por Kevin Bacon, como na passagem em que Amanda grita desesperadamente para espantar veados prontos para atacar a filha do dono da casa de veraneio. Esses lampejos de bravura em defesa dos mais vulneráveis garantem um tostão de esperança na película. Mas é só isso mesmo. Quer doçura? Vá ver Wonka nos cinemas.

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