João Victor da Silva, de 18 anos, se tornou busólogo após começar a replicar os ônibus de Curitiba.| Foto: Cassiano Rosario/Gazeta do Povo

Pegar ônibus todos os dias pode até ser uma tarefa penosa para alguns, mas, em Curitiba, há quem ache a atividade interessante e até mesmo inspiradora. É o caso do estudante João Victor da Silva, de 18 anos, que desde criança cultiva uma paixão pelos coletivos da cidade, o que o levou a criar réplicas em miniatura de vários dos modelos do transporte, usando fotos, papel, isopor e um tanto de criatividade. Hoje, cerca de cinco anos após começar a fazer as dobraduras, João já coleciona mais de 40 mini-ônibus em casa — fora aqueles que vendeu ou deu de presente.

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“Eu comecei a criar as miniaturas por acaso. Já gostava de desenhar e fazia aviões de papel, mas tive uma nova inspiração quando comecei a usar a linha Centenário/ Campo Comprido todos os dias”, conta o adolescente. João passou a usar o transporte diariamente por volta de 2013, e, quando conseguia um lugar para sentar, ia construindo as réplicas dentro do próprio veículo.

Veja fotos das miniaturas de João

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No entanto, fazer miniaturas de criança não estava em seus planos. “Desde a época dos aviões, eu fazia o mais parecido com os reais, com detalhes e dobras específicas”, lembra. Com os biarticulados não foi diferente: focou nos ônibus todos os seus esforços criativos, empenho que o levou a desenvolver por conta própria algumas técnicas de montagem. Entre elas, buscar na internet fotos em alta resolução dos veículos, ajustá-las e recortá-las no Paint — editor de imagem bastante simples do Windows — para imprimi-las com a melhor qualidade possível. Com a base feita, João usa dobraduras, cola e caneta para ajustar o papel em isopor, garantindo que os pequenos ônibus estejam o mais parecidos possíveis com os de tamanho real.

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Para montar as peças, o adolescente chega a levar até três dias. Isso porque qualquer erro é motivo para recomeçar a miniatura. Hoje, ele tem ônibus de vários modelos, de ligeirinhos a alimentadores e biarticulados, e confessa que o expresso da linha Boqueirão é o seu preferido por ter a cor vermelho-escuro.

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Não demorou muito para que a paixão pelo papel se consolidasse como uma paixão pelos ônibus — e João logo se tornou um busólogo, termo usado para designar estudiosos dos coletivos. Assim, veio também o respeito da família, que entendeu que não se tratava mais de uma brincadeira. “Com o apoio dos meus pais e irmãos, há dois anos eu criei um canal no YouTube para falar sobre ônibus, chamado de BRT Curitiba, e continuo investindo nele até hoje”, relata.

João irá concluir o terceiro ano do ensino médio em 2019 e, além de estudar o adolescente também trabalha como auxiliar em um hotel de Curitiba. Por isso, é só nos fins de semana que sobra tempo para o trabalho com os ônibus. Sábado e domingo, aliás, também são os dias que o adolescente usa para passear no transporte público, sem destino específico. “Lógico que pegar ônibus lotado não é legal, por isso prefiro no fim de semana. Gosto do som do motor, de conhecer os modelos novos e acompanhar os eventos de lançamento na cidade”, conta.

Reconhecimento e futuro

Foi em um evento de lançamento de ônibus, aliás, que João passou por uma das situações mais emocionantes envolvendo suas miniaturas, que ele costuma vender por R$ 15 ou R$ 25, dependendo do tamanho. Ele não tem um canal formal para vendas, mas volta e meia recebe pedidos de admiradores do trabalho, que foi o que aconteceu na ocasião. João tinha levado suas réplicas para expor no evento e um senhor idoso o procurou dizendo que tinha adorado o trabalho e iria para casa e voltaria depois para buscar. “Horas depois, quando achei que ele não ia aparecer mais, ele chegou correndo e além de comprar a miniatura, me deu os parabéns pelo trabalho”, se emociona o estudante, que também já teve um professor de biologia que começou a colecionar suas peças.

Quanto à possibilidade de trabalhar de fato com os ônibus, João explica que chegou a ter vontade de ser motorista, e inclusive fez uma entrevista para trabalhar em uma empresa de transporte, mas acabou deixando a ideia de lado. Hoje, o sonho é ganhar dinheiro com seu canal no Youtube, o BRT Curitiba, que ele garante que está crescendo, com a ajuda valiosa da família. Mas largar as dobraduras, ele garante, não é uma opção: “Eu quero desenvolver as técnicas cada vez mais, começar a usar rodinhas de plástico, por exemplo. É algo que eu gosto muito e que apesar de dar bastante trabalho, é muito gratificante”.