Bicudinho-do-brejo: espécie do Litoral do PR ameaçada de extinção.| Foto: Divulgação/Reserva Bicudinho do Brejo

Pouco mais de 20 anos após descobrirem uma espécie de ave ameaçada de extinção no Litoral do Paraná, biólogos e empresários de Curitiba estão se unindo em uma campanha para impedir que o bicho desapareça do estado. Conhecida como bicudinho-do-brejo, tão logo foi catalogada a espécie entrou para a lista de animais ameaçados. Isso motivou não apenas os biólogos a comprarem um terreno para criar uma reserva particular em Guaratuba, mas também a dedicarem suas vidas e boa parte de seus recursos para preservar a espécie. Mas isso não tem sido suficiente.

CARREGANDO :)

Saiba como ajudar a preservar o bicudinho-do-brejo

Por isso, os atuais três proprietários da reserva se uniram à marca Laluz Brasil, que se comprometeu a vender camisetas cujo lucro será inteiramente repassado ao bicudinho-do-brejo. Em formato de crowdfunding, a campanha depende da arrecadação de R$ 15 mil até o dia 17 de março para poder sair do papel. Para cada pessoa que contribuir, há a recompensa das camisetas com uma estampa da campanha, e a quantidade varia dependendo do valor contribuído. Até o fim desta semana, foram arrecadados R$ 6,6 mil.

Publicidade

Entre os integrantes do grupo de ativistas encontra-se Ricardo Belmonte Lopes, biólogo, doutor em Zoologia, e um dos três proprietários que estão pagando os custos da reserva do próprio bolso. “Nós compramos o terreno em cinco pessoas, em 2009, após mais de uma década trabalhando para preservar o bicudinho”. De acordo com o protetor, uma das pessoas não pôde mais contribuir, deixando a sociedade, e a outra era sua esposa, Bianca Reinert, que faleceu no ano passado após anos trabalhando em prol da espécie.

A escolha de comprar o terreno em Guaratuba foi a melhor forma que os amigos encontraram para preservar a área onde vivem parte dos cerca de 8 mil bicudinhos existentes. O bicudinho, conta Lopes, vive quase que exclusivamente no brejo encontrado nas praias do Paraná, tipo de solo abundante nos 45 hectares que a reserva ocupa. De acordo com o biólogo, 45% da população atual da espécie encontra-se especificamente em Guaratuba. E, graças ao trabalho do grupo e de outros ativistas, essa população tem se mantido estável: “Não está diminuindo, mas também não há mais brejo disponível para que os bicudinhos criem seus ninhos e se reproduzam. Por isso é tão importante preservar o brejo existente”, explica.

Brejo em Guaratuba 

Além disso, a demarcação da reserva como uma área particular e vigiada ajuda a inibir a presença de caçadores, ou dos chamados “palmiteiros”, que desmatam a região em busca de palmito.

Quanto à importância da ave, Lopes explica que ela ajuda a manter os brejos, terreno que funciona como uma espécie de filtro para manter a qualidade da água dos rios. “Como esse tipo de ambiente não existe em outras regiões, o bicudinho é uma espécie ímpar, sempre construindo seus ninhos no brejo”, acrescenta o preservacionista.

Publicidade

Fora o bicudinho, a reserva tem mais de 300 espécies de aves, das quais 11 são ameaçadas de extinção. Por isso, o local tem sido escolhido como ponto de observação de aves e de diversas pesquisas em universidades do estado.

Para manter a reserva, o grupo gasta cerca de R$ 3 mil por mês. “Isso inclui principalmente o pagamento de um funcionário com carteira assinada, e um custo pequeno de manutenção geral”, relata Lopes, que além de atuar de forma voluntária com a preservação, tem como fonte de renda o Ateliê Bicudinho-do-Brejo, por meio do qual se dedica à criação de peças em cerâmica que tem o passarinho como tema. Outro integrante — que descobriu a espécie junto com Bianca — é Marcos Bornschein, biólogo e professor da Universidade Estadual Paulista (Unesp). A terceira proprietária é a engenheira de telecomunicações Iracema Suassuna de Oliveira.

“Eu meto o bico”

Chamada de “Eu meto o bico”, a campanha de crowdfunding tem como produto de recompensa camisetas com estampa do bicudinho. De acordo com Fabiana Muranaka, proprietária da marca Laluz Camisetas, o produto é feito de algodão 100% orgânico, e tem estampa produzida com pigmentos naturais, de origem vegetal. A empresa garante também um ciclo de produção responsável e consciente. Para ajudar, basta acessar a página da campanha.

Segundo Fabiana, a ideia da parceria veio após várias pessoas diferentes divulgarem a ela o trabalho da reserva. “Eu já queria fazer um trabalho com algum animal e com alguma instituição, e depois que conheci o pessoal do bicudinho, sabia que seria com eles”, conta a empresária, que irá repassar todo o valor arrecadado após o pagamento dos custos.

Por causa do formato da plataforma de arrecadação, caso a campanha não consiga os R$ 15 mil projetados, todo o dinheiro que já foi levantado será devolvido aos contribuintes. E para a reserva, isso pode significar uma perda muito grande — até porque o espaço quase fechou em 2018, justamente por falta de recursos. “Nós acreditamos que conseguiremos manter a reserva até a metade deste ano. Depois disso, não sabemos o que vai acontecer”, diz Lopes. Mesmo assim, ele promete que os três não irão abandonar o trabalho com o bicudinho: “Acabou se tornando uma paixão, e a gente se sente pessoalmente responsável por cada um desses animais. É isso o que nos move a continuar, e não vamos desistir”.

Publicidade
Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]